sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Engenheiros do Hawaii – 30 anos de Revolta dos Dândis...



Por Davi Pascale

É muito comum vermos nossas publicações especializadas criarem textos comemorando algum álbum histórico. Entretanto, a coisa muda de figura quando falamos do rock made in brazil e, principalmente, entre os artistas que tomaram as rádios de assalto nos anos 80.

Recordo de começar a ouvir rock na minha infância e me recordo também do magnetismo que esses artistas causavam na audiência, mesmo quando atacados pela crítica. O Engenheiros era um desses. Constantemente diminuídos pelos jornalistas da Bizz, da Folha, da Veja, mas sempre idolatrados pelos jovens que encontravam no rock sua válvula de escape. Parecido ao que ocorre atualmente com o Jota Quest. E o inverso ao que ocorre com o Los Hermanos.

Os anos se passaram e alguns artistas foram escolhidos para virarem símbolo daquela geração. Sim, Renato e Cazuza foram grandes letristas, grandes artistas, mas tivemos mais nomes igualmente talentosos e igualmente importantes. No que diz respeito à criação de letras, Humberto não ficava atrás e, na minha opinião, superou o garoto Agenor.

LP marcava estreia de Humberto como baixista...

A Revolta dos Dândis trazia alguns fatos marcantes. Pela primeira vez, as engrenagens apareciam na capa do LP. Pela primeira vez, uma cor predominava a arte do vinil. Pela primeira vez, Humberto assumia o contrabaixo como seu instrumento principal. Pela primeira vez, Augusto Licks gravaria as guitarras do Engenheiros. Todas essas, características que se tornariam emblemáticas na trajetória do grupo e ajudariam a tornar década de 80 mais interessante.

Recentemente, o músico Lobão esteve no The Noite com Danilo Gentili para divulgar seu novo livro e comentou que o rock era alta cultura. A afirmação pode soar um pouco prepotente, mas não é exatamente fake. Por trás das letras, arranjos, conceitos de vídeo, muitas vezes, existem um mergulho profundo no universo da arte, da literatura. E aqui não foi diferente, o título A Revolta dos Dândis, por exemplo, veio de O Homem Revoltado, livro do filósofo francês Albert Camus. Nas letras, haviam ainda citações de Jean-Paul Satre. Atitude que fez com que os músicos fossem taxados de fascistas e elitistas. Acredite se quiser...

“Terra de Gigantes”, “Refrão de Bolero” e “Infinita Highway” invadiram as programações das AM´s e FM´s. Essa última, até hoje uma de suas músicas mais famosas, possui uma versão inédita. Na década de 80, era comum criarem remixes para atacarem nas pistas de dança ou para se adequarem às programações das rádios. Foi criado um remix dessa faixa, mas depois de ouvi-la, Humberto vetou. O arranjo havia sido totalmente alterado com a inclusão de metais e percussão. Embora tenha gostado do resultado final, o cantor achou que iria descaracterizar a banda. Não queria tirar a imagem de power trio que haviam construído. “Terra de Gigantes” também causou mal-estar com os engravatados. A gravadora queria a todo custo que incluíssem uma bateria na canção, mais uma vez o pedido foi negado. Falava-se que esse seria o último álbum do Engenheiros.  Segundo a gravadora, aquele era um Boeing de tanque cheio prestes a explodir na decolagem.

... e estreava formação clássica

Musicalmente, o disco trazia novidades. A influência ska de Longe Demais das Capitais foi deixada de lado. Os músicos começaram a explorar mais o rock progressivo, fizeram um som mais cru, mais lento. As letras críticas continuaram e ganharam uma ênfase ainda maior. O modo de explorar o lado power trio também era diferenciado. Os músicos não queriam fazer um som extremamente técnico, queriam explorar mais melodias e harmonias.

“A Revolta dos Dândis I”, “Além dos Outdoors” e “A Revolta dos Dândis II” também cairiam na graça do público. Embora tenha sido desacreditado por todos, o disco sobreviveu ao tempo. O Boeing decolou e voou alto. Tanto que atualmente, Gessinger anda revisitando o LP nos palcos e nos shows podemos ver jovens cantando todas essas letras junto com o músico. Trabalho marcante na trajetória de Humberto. Trabalho marcante na carreira do Engenheiros. Trabalho marcante do BRock. Trabalho marcante no rock brasileiro. Essencial!

Faixas:
01)              A Revolta dos Dândis I
02)              Terra de Gigantes
03)              Infinita Highway
04)              Refrão de Bolero
05)              Filmes de Guerra, Canções de Amor
06)              A Revolta dos Dândis II
07)              Além dos Out-Doors
08)              Vozes
09)              Quem Tem Pressa Não Se Interessa
10)              Desde Aquele Dia
11)              Guardas da Fronteira