quinta-feira, 3 de abril de 2014

Max Cavalera – My Bloody Roots



Por Davi Pascale

O guitarrista/cantor Max Cavalera solta no mercado sua autobiografia My Bloody Roots. O músico conseguiu o que parecia impossível. Conquistou o mercado internacional ao lado de uma banda de heavy metal. Conseguiu o respeito de seus ídolos, onde muitos deles são ícones do gênero. Transformou o nome de sua banda em uma marca. Transformou seu sobrenome em uma marca. Sem duvidas, uma leitura obrigatória para os fãs de seu antigo grupo e para os fãs de rock n roll em geral.

O primeiro contato que tive com sua musica foi ainda nos meus tempos de infância, ouvindo o LP Beneath The Remains. A aquisição do vinil não era uma tentativa de soar vintage ou o que quer que seja. CD, naquela época, não existia. Musica digital, tampouco. Nossas opções eram o famoso bolachão ou as fitinhas cassetes. Gostava muito das fitas para ouvir minhas musicas preferidas no carro ou trocar gravações com os amigos.  Foi assim que descobri Manowar, Blind Guardian, Slayer etc. Mas na hora de comprar, optava pelo disco.

Era comum nos aniversários e natais, pedir aos meus pais ou ao meu irmão mais velho discos ou fitas de vídeo. Fui presenteado com itens do Sepultura duas vezes. Uma com o LD japonês Under Siege Live In Barcelona que custava uma fortuna na época e outra com o VHS Third World Chaos. Tinha duas camisetas do grupo que usava bastante também. Contrariando a tradição, as duas eram brancas. Uma era uma camiseta de manga longa com uma imagem da banda na época do Arise. A outras vinha com o símbolo do Sepultura em alto relevo. Ainda recordo de ter gravado do televisor a apresentação deles no Rock In Rio II e no Hollywood Rock ´94 (pelo menos o que a Globo transmitiu deles) e as musicas da fatídica apresentação na Praça Charles Muller, exibidas dentro de um Fúria Metal (programa da MTV, na época ainda apresentado pelo Gastão Moreira). Portanto, foi um choque para mim, quando Max anunciou sua saída do Sepultura. E foi um choque quando vi que a banda continuaria com outro cantor e com seu irmão na banda.

Banda se separou no auge

Continuo acompanhando o Sepultura. Sou um grande fã do Andreas Kisser e do Derrick Green (Iggor Cavalera, acho que não preciso nem falar...), mas naquela época, na minha cabeça, o Sepultura era a banda dos irmãos Cavalera. Se alguém me falasse naquela época que existiria Sepultura sem os dois, acho que teria gargalhado. Pra mim eles representavam para o Sepultura, o mesmo que Lars Ulrich e James Hetfield representavam (e ainda representam) para o Metallica. Portanto, um dos momentos que estava mais aguardando no seu livro seria justamente a explicação da sua decisão de largar a banda no auge. Muitas pessoas haviam dito que os músicos teriam pedido para que o rapaz escolhesse entre ficar com sua esposa e ficar com a banda. Isso me parecia um pouco cruel. Sempre achava que tinha algo mais. Sempre considerei Iggor Cavalera, Paulo Jr e Andeas Kisser pessoas de ótima índole, me parecia inimaginável que tivessem essa atitude, ainda mais sabendo que a esposa dele acabava de perder um filho. Não gosto de julgar algo do qual não fiz parte, mas é essa a impressão que o músico dá. A impressão de que colocaram o dinheiro acima do respeito pelo próximo. Triste!

Durante a escrita ele mantém sua maneira de falar, mantendo inclusive as gírias, o que deixa o livro com uma leitura suave, mesmo nos momentos mais pesados. Muitos disseram que ele pegou pesado nos ataques à seus ex-companheiros. Concordo que ele pegou pesado ao se dirigir à ex-esposa de seu irmão como piranha. Achei esse ataque desnecessário, assim como o fato de revelar que ela deu em cima dele, antes de se jogar para cima de Iggor. Em relação aos ex-integrantes não vi nada de demais. Ele rasgou elogios à Andreas e ao Jairo. Achei desnecessário também se dirigir ao Paulo Jr como ‘babaca’ em determinado momento, mas não contou nenhuma atitude que pudesse manchar a imagem do mesmo. Essa história dele não ter tocado nos primeiros álbuns do  Sepultura, seus fãs já estão careca de saber.

Max Cavalera nos brinda com diversas histórias de bastidores do grupo mais pesado de Belo Horizonte, mas passa um pouco batido na historia do Soulfly. Ele comenta sobre a escolha dos títulos, dos produtores, das participações, das mudanças de formações, mas gostaria de ter lido mais sobre curiosidades da estrada com a banda. Daria para ter ido mais além nessa segunda parte...

Músico fala com honestidade sobre suas mágoas e dificuldades em sua trajetória

O livro é bem sincero e revela problemas pessoais como seu vicio com álcool, suas experiências com drogas e a dificuldade de lidar com a morte de seu pai, com a morte de Dana e com o afastamento de seu irmão que durou quase uma década. Quando entrevistei Iggor Cavalera, perguntei quem era seu ídolo e ele me respondeu “Max Cavalera”. Já sabia que era questão de tempo até que os dois se reconciliassem. Fiquei feliz com a reaproximação dos dois e com o novo projeto que criaram juntos, o Cavalera Conspiracy. Fiquei feliz de ler o depoimento de Max de que ele está limpo, longe dos álcool e das drogas. Torço para que seja verdade!


Há ainda depoimentos interessantes de diversas personalidades como Dave Ghrol, Corey Taylor, Sharon Osbourne (sei que muitos não gostam dela, mas considero ótima empresária e a atitude dela na época da morte de Dana foi sensacional). O cantor ainda se preocupou em responder mais uma vez à infinita questão sobre a possibilidade de uma reunião com o Sepultura. Concordo que em algumas histórias daria para ter ido mais à fundo, mas certamente não deixa de ser uma leitura divertida e interessante desse que é um dos poucos que pode realmente ser considerado um ícone do metal brasileiro. Recomendado!