Por Davi Pascale
O guitarrista/cantor Max Cavalera
solta no mercado sua autobiografia My
Bloody Roots. O músico conseguiu o que parecia impossível. Conquistou o
mercado internacional ao lado de uma banda de heavy metal. Conseguiu o respeito
de seus ídolos, onde muitos deles são ícones do gênero. Transformou o nome de
sua banda em uma marca. Transformou seu sobrenome em uma marca. Sem duvidas,
uma leitura obrigatória para os fãs de seu antigo grupo e para os fãs de rock n
roll em geral.
O primeiro contato que tive com
sua musica foi ainda nos meus tempos de infância, ouvindo o LP Beneath The Remains. A aquisição do
vinil não era uma tentativa de soar vintage ou o que quer que seja. CD, naquela
época, não existia. Musica digital, tampouco. Nossas opções eram o famoso
bolachão ou as fitinhas cassetes. Gostava muito das fitas para ouvir minhas
musicas preferidas no carro ou trocar gravações com os amigos. Foi assim que descobri Manowar, Blind
Guardian, Slayer etc. Mas na hora de comprar, optava pelo disco.
Era comum nos aniversários e natais,
pedir aos meus pais ou ao meu irmão mais velho discos ou fitas de vídeo. Fui
presenteado com itens do Sepultura duas vezes. Uma com o LD japonês Under Siege Live In Barcelona que
custava uma fortuna na época e outra com o VHS Third World Chaos. Tinha duas camisetas do grupo que usava bastante
também. Contrariando a tradição, as duas eram brancas. Uma era uma camiseta de
manga longa com uma imagem da banda na época do Arise. A outras vinha com o símbolo
do Sepultura em alto relevo. Ainda recordo de ter gravado do televisor a
apresentação deles no Rock In Rio II e no Hollywood Rock ´94 (pelo menos o que
a Globo transmitiu deles) e as musicas da fatídica apresentação na Praça
Charles Muller, exibidas dentro de um Fúria Metal (programa da MTV, na época ainda
apresentado pelo Gastão Moreira). Portanto, foi um choque para mim, quando Max
anunciou sua saída do Sepultura. E foi um choque quando vi que a banda
continuaria com outro cantor e com seu irmão na banda.
Banda se separou no auge |
Continuo acompanhando o
Sepultura. Sou um grande fã do Andreas Kisser e do Derrick Green (Iggor
Cavalera, acho que não preciso nem falar...), mas naquela época, na minha
cabeça, o Sepultura era a banda dos irmãos Cavalera. Se alguém me falasse
naquela época que existiria Sepultura sem os dois, acho que teria gargalhado. Pra
mim eles representavam para o Sepultura, o mesmo que Lars Ulrich e James
Hetfield representavam (e ainda representam) para o Metallica. Portanto, um dos
momentos que estava mais aguardando no seu livro seria justamente a explicação
da sua decisão de largar a banda no auge. Muitas pessoas haviam dito que os músicos
teriam pedido para que o rapaz escolhesse entre ficar com sua esposa e ficar
com a banda. Isso me parecia um pouco cruel. Sempre achava que tinha algo mais.
Sempre considerei Iggor Cavalera, Paulo Jr e Andeas Kisser pessoas de ótima índole,
me parecia inimaginável que tivessem essa atitude, ainda mais sabendo que a
esposa dele acabava de perder um filho. Não gosto de julgar algo do qual não
fiz parte, mas é essa a impressão que o músico dá. A impressão de que colocaram
o dinheiro acima do respeito pelo próximo. Triste!
Durante a escrita ele mantém sua
maneira de falar, mantendo inclusive as gírias, o que deixa o livro com uma
leitura suave, mesmo nos momentos mais pesados. Muitos disseram que ele pegou
pesado nos ataques à seus ex-companheiros. Concordo que ele pegou pesado ao se
dirigir à ex-esposa de seu irmão como piranha. Achei esse ataque desnecessário,
assim como o fato de revelar que ela deu em cima dele, antes de se jogar para
cima de Iggor. Em relação aos ex-integrantes não vi nada de demais. Ele rasgou
elogios à Andreas e ao Jairo. Achei desnecessário também se dirigir ao Paulo Jr
como ‘babaca’ em determinado momento, mas não contou nenhuma atitude que
pudesse manchar a imagem do mesmo. Essa história dele não ter tocado nos
primeiros álbuns do Sepultura, seus fãs
já estão careca de saber.
Max Cavalera nos brinda com
diversas histórias de bastidores do grupo mais pesado de Belo Horizonte, mas
passa um pouco batido na historia do Soulfly. Ele comenta sobre a escolha dos títulos,
dos produtores, das participações, das mudanças de formações, mas gostaria de
ter lido mais sobre curiosidades da estrada com a banda. Daria para ter ido
mais além nessa segunda parte...
Músico fala com honestidade sobre suas mágoas e dificuldades em sua trajetória |
O livro é bem sincero e revela problemas
pessoais como seu vicio com álcool, suas experiências com drogas e a
dificuldade de lidar com a morte de seu pai, com a morte de Dana e com o
afastamento de seu irmão que durou quase uma década. Quando entrevistei Iggor
Cavalera, perguntei quem era seu ídolo e ele me respondeu “Max Cavalera”. Já
sabia que era questão de tempo até que os dois se reconciliassem. Fiquei feliz
com a reaproximação dos dois e com o novo projeto que criaram juntos, o
Cavalera Conspiracy. Fiquei feliz de ler o depoimento de Max de que ele está
limpo, longe dos álcool e das drogas. Torço para que seja verdade!
Há ainda depoimentos
interessantes de diversas personalidades como Dave Ghrol, Corey Taylor, Sharon
Osbourne (sei que muitos não gostam dela, mas considero ótima empresária e a
atitude dela na época da morte de Dana foi sensacional). O cantor ainda se preocupou em responder mais uma vez à infinita questão sobre a possibilidade de uma reunião com o Sepultura. Concordo que em
algumas histórias daria para ter ido mais à fundo, mas certamente não deixa de
ser uma leitura divertida e interessante desse que é um dos poucos que pode realmente ser considerado um ícone do metal brasileiro. Recomendado!