sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

The Unity – The Unity (2017):



Por Davi Pascale

Esse projeto do Henjo Richter e do Michael Ehré (guitarrista e baterista do Gamma Ray, respectivamente) foi uma grata surpresa para mim. É comum os caras criarem trabalhos solo ou bandas paralelas para gravarem alguns sons que não conseguiram emplacar em sua banda principal e seguirem a risca a sonoridade do grupo que lhes rendeu fama. Esse não é o caso aqui. O The Unity soa bem diferente do Gamma Ray e, embora não traga nada de revolucionário, demonstra poder de fogo.

Se o projeto irá sobreviver ou se será restrito à um único álbum (como foi o Supared do Michael Kiske) só o tempo dirá. A verdade é que, embora não seja inovador, o material tem muita qualidade e sua audição é empolgante.

Do mesmo jeito que o Megadeth tem uma relação com o Metallica (Dave Mustaine fez parte da primeira formação dos ícones da bay area), o Gamma Ray tem com o Helloween. E é possível pegar algumas referências do antigo grupo de Kai Hansen. Seja nos versos e aplicação de teclado de “Always Just For You” ou até mesmo no refrão de “Firesign”. A verdade é que em alguns momentos é simplesmente impossível não nos remetermos à trupe de Michael Weikath.

Mas nem só de Helloween vive o disco. A faixa de abertura remete diretamente aos anos de ouro do problemático e talentoso Yngwie Malmsteen. Gianbattista Manenti, o italiano responsável pelas cordas vocais, se demonstra um diferencial dentro da banda. Contando com uma voz forte e potente, usa o drive com uma boa moderação e abusa menos dos falsetes do que os demais vocalistas do gênero. Ainda não ouvi o cara ao vivo, mas o trabalho vocal do disco é excelente.



Outro grande destaque do álbum são os riffs de guitarra. O mais diferente de todos foi o de “Redeemer” que traz uma pegada meia bluesy, remetendo aos riffs que Ritchie Blackmore costuma escrever. Lembra um pouco o riff de “Man On The Silver Mountain” (Rainbow). Aliás, o refrão pomposo e cadenciado remete bastante ao Rainbow fase Dio.

Essa é praticamente a pegada do disco. Uma mescla de power metal, metal tradicional e hard rock setentista (o refrão de “The Wishing Well”, por exemplo, traz fortes referências de Whitesnake). Realmente, eles não foram os primeiros a fazer isso (acredito que Masterplan e Edguy sejam bons exemplos dessa mistura) e não serão os últimos, mas como disse, o resultado final é muito acima da média. A qualidade de gravação é excelente, as músicas são empolgantes. Não há dúvidas de que se trata de um bom começo.

O álbum se encerra com “Never Forget”. Música bem bacana que conta com um animado refrão que poderia facilmente ter sido escrito por Tobias Sammet (Edguy, Avantasia). Uma boa musica para deixar o publico cantar um pouco nas apresentações.

O trabalho de estreia dos rapazes já foi lançado aqui em nosso país. Portanto, é fácil de ser encontrado. Só não vai se empolgar com o nome dos dois no anuncio e esperar algo na linha do Gamma Ray. Como deixei claro, embora a influencia do power metal siga intacta, sua sonoridade é mais cadenciada e mais melódica. De todo modo, é um trabalho muito bem feito que merece atenção.

Faixas:
      01)   Rise and Fall
      02)   No More Lies
      03)   God of Temptation
      04)   Firesign
      05)   Always Just You
      06)   Close To Crazy
      07)   The Wishing Well
      08)   Edens Fall
      09)   Redeemer
      10)   Super Distortion
      11)   Killer Instinct 
      12)   Never Forget

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Solid Rock – Allianz Parque (13/12/2017):



Por Davi Pascale

Para quem já frequenta shows há algum tempo (meu caso), a situação já era previsível. Ingressos caros, show em plena quarta-feira, atrações que não possuem um enorme público e uma atração principal que toca com frequência em nosso país. A cena já era vista à distância. A empresa tentou de tudo. Ingressos na Black Friday, promoção pague 1, leve 2, mesmo assim, a arena não lotou.

Temos ainda mais um grande problema. O publico se acostumou a espetáculos estilo greatest hits. Quando surge um artista que não possui inúmeros sucessos radiofônicos, eles se sentem ofendidos com sua escalação. Independente da qualidade da banda. O que vi de nego xingando a produção do evento porque eles não conheciam nada das atrações escolhidas, não está escrito no gibi. E olha que para quem acompanha rock n roll há algum tempo, esses nomes são manjados. Especialmente, o Cheap Trick. Sem contar que hoje é fácil ouvir material das bandas sem pagar nada, utilizando-se de algo chamado streaming.

A cena ficou visível na primeira atração da noite, os americanos do Tesla. Com uma carreira de mais de 30 anos nas costas, o grupo californiano, teve que fazer sua primeira apresentação em São Paulo para um público menor do que ao de um artista de churrascaria. Aliás, a produção colocou os garotos no palco meia hora antes do horário anunciado. (?!?!?!) Mesmo assim, os músicos não se abalaram e fizeram uma apresentação com bastante energia. Jeff Keith corria no palco de um canto para outro, mantinha a aura de rock star cheio de caras e bocas. Mesmo estando com 59 anos, demonstrou estar com a voz em forma.




A formação que veio para cá está junta desde 2006 e não muda muito da original. Apenas Dave Rude entrou no lugar de Tommy Skeoch. O resto da galera é a mesma que víamos nos clipes nos anos 80 e 90. Ou seja, Brian Wheat, Troy Lucketta, Frank Hannon e o já citado Jeff Keith. Como o tempo era curto (perto de 50 minutos), os garotos fizeram o set em cima de seus álbuns antigos. O setlist foi recheado de clássicos como “Edison´s Medicine”, “The Way It Is”, “Hang Tough”, “Modern Day Cowboy” e “Heaven´s Trail (No Way Out)”. O publico parecia não conhecer o material. Nem mesmo a balada “Signs”, mas para quem conhece e gosta da banda, a apresentação foi mágica. Nostálgica e extremamente profissional.

A segunda atração da noite foi o Cheap Trick. Também estreando em palcos brasileiros, os rapazes mantiveram a energia intacta, ao menos no palco, com uma apresentação bem rock n roll. Robin Zander e Rick Nielsen vieram com seus trajes característicos e demonstraram um enorme carisma. O som estava alto, mas não tão bem definido quanto ao do Tesla. Da onde eu estava, tinha uma enorme dificuldade de ouvir o baixo, por exemplo.

Ao contrário da primeira atração, não ficaram apenas nos clássicos dos anos 70. Misturaram novas e velhas canções. Tática bacana, mas que em um festival como esse, é algo arriscado. A animação da plateia oscilava. Embora os músicos fizessem de tudo para tentar manter a animação dos presentes. Suas canções mais marcantes como “In The Streets” (um cover do Big Star que ganhou enorme projeção ao ser utilizado como canção de abertura da série That 70´s Show), “Surrender” e “I Want You To Rock Me” tiveram uma boa receptividade do público, assim como a versão mais pesada de “Ain´t That a Shame” (clássico de Fats Domino que já foi regravada por meio mundo, inclusive pelo próprio Cheap Trick em seu cultuado LP Cheap Trick At Budokan), já clássicos como “Dream Police” não tiveram a reação esperada. Apresentando um show com pouco mais de 70 minutos, os músicos entregaram uma apresentação divertidíssima e redondíssima. Aliás, vale destacar a performance de Robin Zander. O cara ainda canta muuuito. Mais uma vez, os fãs que compareceram saíram maravilhados.

Às 22h subia ao palco a atração principal da noite. Os veteranos do Deep Purple. Há quem diga que essa é sua última turnê. A verdade é que nunca dá para saber. Eu me recordo de ter visto David Coverdale se despedindo dos palcos em 1997. E vejam só... Se bem que os músicos do Purple já estão em uma idade avançada. Então, já é um pouco mais provável. Afinal, o pique vai diminuindo. Natural da idade.




O show começou com o clássico “Highway Star”. Já ficou claro o que estava por vir. Som impecável. Banda afiadíssima. Plateia, finalmente, animada. E o lendário Ian Gillan fazendo de tudo para manter o nível do espetáculo. A parte cantada, ele ainda vai bem, mas nos falsetes já demonstra uma enorme dificuldade.

A banda foi sábia ao montar o repertório. Contando com bastante improviso e músicas que não exigem tanto da voz, o grupo manteve o alto nível durante todo o espetáculo. Clássicos como “Strange Kind Of Woman”, “Pictures of Home”, “Lazy” e “Space Truckin” levantaram os presentes, mas a galera pegou fogo mesmo durante a execução dos mega clássicos “Perfect Strangers” e “Smoke On The Water”. De Infinite, apenas “Birds of Prey” deu as caras.

Steve Morse, Don Airey, Roger Glover e Ian Paice foram praticamente perfeitos. Apenas “Knocking At Your Back Door” que achei o tempo um pouco lento demais. Gillan segurou bem a peteca. Sejamos sensatos que não é fácil fazer um show desse porte com 72 anos de idade. Se essa for sua ultima turnê mesmo, saem por cima. Resumo da noite: 3 baita shows, mas com uma plateia decepcionante.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Cachorro Grande – Costa do Marfim Deluxe Edition:



Por Davi Pascale

Deluxe edition no Brasil não é algo muito comum. Ainda mais em lançamento de LP´s. Na gringa, sim. Existem edições caprichadíssimas. Dignas de fazer com que o cara mais marrento babe por meses a fio. A nova edição do Their Satanic Majesties Request do Rolling Stones (que comentarei em breve por aqui) é uma delas. Portanto, a ideia é digna de aplausos por si só. Temos que aprender a valorizar nossa arte.

Quem também é digno de aplausos é a turma do Cachorro Grande. Além de estarem ajudando a salvar o rock n roll brasileiro entregando um som afudê, os meninos não estão deitados em berço esplêndido. Enquanto muito artista se acomoda em uma fórmula, os caras ousaram diversas vezes em sua trajetória. Sua maior ousadia foi justamente esse disco.

Conhecidos por entregarem um som rock n roll de garagem bebendo na fonte dos anos 60 (especialmente grupos como TheBeatles, The Rolling Stones, The Kinks e The Who), os gaúchos foram além em seu sétimo álbum. Costa do Marfim trazia os músicos mesclando seu som com elementos eletrônicos e apostando em uma grande dose de psicodelia. Uma espécie de Screamadelica brasileiro. Minhas músicas favoritas desse play são “Eu Não Vou Mudar”, “Como Era Bom” e “Eu Quis Jogar”.

Mais do que uma edição comemorativa, essa é uma edição especial para colecionadores. Amantes dos vinis, os músicos tiveram todo o cuidado no preparo desse material. O vinil vem com capa gatefold (a famosa capa dupla), foram prensados em mídia verde 160 gramas e gravados em 45 RPM para garantir uma maior fidelidade do som. O vinil também não foi prensado no Brasil, foi prensado na República Tcheca. Material de primeira.


Como a ideia era pegar colecionadores e os fãs mais doentes, o material foi prensado em apenas 105 cópias numeradas. Por que 105 cópias e não 100? Não sei, mas arrisco dizer que os músicos brincaram de Beatles e pegaram as 5 primeiras cópias desse material para eles (para quem não entendeu a brincadeira. O White Album dos Beatles vinha com numeração na capa e as primeiras copias ficaram com John, Paul, George e Ringo).

O Box é bacaninha. Um papelão grosso com um uma cordinha. O material gráfico também é bem legal. Foram criados, unicamente para essa edição, um pôster com uma foto do show no Sesc Pompeia (São Paulo) e 7 fotos com imagens da apresentação no Bar Opinião (Porto Alegre). As fotos são realmente muito bonitas.

O único senão é que essa reedição não conta com nenhuma música adicional. É exatamente o mesmo material do CD. Nenhuma versão ao vivo, nenhuma demo, nada do tipo. Apenas as faixas do disco. Contudo, para quem é muito fã dos rapazes, vale o investimento. Afinal, a produção é lindíssima e com o tempo esse material deve se tornar raro e possivelmente valioso. Se hoje ele custa R$290,00, após esgotado é capaz que passe a valer mais de R$500,00 brincando.

A ideia dos músicos era lançar esse material no final de 2014, como um presente de Natal. Contudo, o material ficou retido na alfândega e somente agora conseguiram liberar o material. Bom... dá tempo de presentearem o Natal de 2017. Puta presente.

Faixas:
Lado A:
      01)   Costa do Marfim
      02)   Nós Vamos Fazer Você Se Ligar
Lado B:
      03)   Nuvens de Fumaça
      04)   Eu Não vou Mudar
      05)   Crispian Mills
Lado C:
      06)   Use o Assento Para Flutuar
      07)   Como Era Bom
      08)   Eu Quis Jogar
Lado D:
      09)   Torpor Partes 2 & 5
      10)   O Que Vai Ser     
      11)   Fizinhur