terça-feira, 21 de abril de 2015

Rock Nacional: Superstar é mesmo a solução?



Por Davi Pascale

Que o rock no Brasil anda mais devagar do que tartaruga manca não é segredo para ninguém. Se bem que, sejamos honestos, o problema não está somente no rock. A única cena que tenho visto se modificar e apresentar vários novos artistas de talento em nosso país é a nova cena da MPB. Nos últimos anos, vários artistas têm surgido com trabalho de qualidade, com sonoridade própria. Fora do Brasil, temos algumas cenas de rock começando a ganhar força. Alguns grupos como Blues Pills, The Answer e Rival Sons começaram a se solidificar. Sem contar na consagração de grupos como Kings of Leon, Queens of the Stone, Alter Bridge e Avenged Sevenfold em um passado não tão distante. Tudo bem, dá para melhorar mais, mas já é alguma coisa. Agora, estamos diante de um problema que vendem que um programa de televisão será o responsável pela criação da nova cena brasileira e parece que tudo está resumido a isso...

Tenho meus dois pés atrás por alguns motivos. Embora esses realitys sejam muito interessantes, acho muito difícil que sejam o salvador da pátria. É muito comum um artista vir com força total quando vence o programa e quando sai o ganhador da segunda edição o cara some como num passe de mágica. A questão é que emissora está preocupada com audiência e nunca com a construção de imagem do grupo. Enquanto eles estiverem ajudando na audiência, bem-vindos, depois disso, adios. E no Brasil, temos um enorme problema por conta da disputa entre emissoras. É muito difícil que estações como SBT e Record, por exemplo, dê grande destaque para um artista diretamente associado à Globo e vice-versa. E o artista precisa estar em todo lugar. Principalmente, no início...


É verdade que as emissoras de televisão tiveram papel fundamental para a consagração da cena brasileira oitentista. Inclusive, a própria Rede Globo com a transmissão do primeiro Rock in Rio (que ajudou a consagrar o Barão Vermelho) e os clipes exibidos no Fantástico. A Band não fica muito atrás com a exibição do Perdidos na Noite, tendo à frente um irreverente Fausto Silva, que abria espaço para os grupos se apresentarem ao vivo. Não podemos deixar de citar os especiais da Rede Manchete, a Fabrica do Som, o Som Pop... Só que a maior parte desses caras não eram diretamente associados à um canal televisivo. O que eles tinham era um contrato com uma grande gravadora, que tinha a malicia necessária para colocar os grupos nos principais meios de comunicação para levá-los ao grande público.


Programa é bem-vindo, mas deve ser encarado como uma primeira etapa. Não, como a solução final

E aí começamos a entrar na questão. O Brasil carece de espaço de divulgação atualmente. Todos parecem estar vivendo um conto de fadas, onde acreditam cegamente que a internet está aí para promover os novos artistas. Sim, e não. A internet é uma forma de chegar à diversas pessoas sem grandes custos como jabás (sim, eles existem. Lobão não está louco), mas a verdade é que tudo está relacionado. O cara busca na internet sobre quem leu na revista, que está lá porque apareceu na TV, que conquistou espaço por tocar no rádio, onde para entrar é uma pequena máfia.

Hoje, um artista não tem onde divulgar sua música. Isso vale até mesmo para os artistas que já tem estrada. Rádio não tem a mesma força de antes e aposta muito em flashback. TV não tem o mesmo espaço de antes. As publicações especializadas em música estão indo para o espaço. Onde foi parar a Billboard? Rock Brigade? Bizz? (No exterior, mesmo com internet, as publicações continuam fortes. Revistas como Mojo, Classic Rock, Uncut e muitas outras continuam se mantendo não apenas nas bancas, como na alta qualidade de seus produtos). Os espaços para artistas se apresentarem com trabalho autoral diminuíram consideravelmente. A internet é uma faca de dois gumes. Os artistas criaram meios eficazes de uma comunicação mais direta com seu publico e captação (o famoso crowdfounding). Mas não existe um canal forte o suficiente para fazer com que uma nova aposta surja com força total, que a canção lançada na última semana se torne um hit que ultrapasse fronteiras. Os poucos artistas que surgiram com força nesse período internet, somente se estabeleceram depois de assinar com uma gravadora.


Grupo de Paulo Ricardo sofreu recentemente com a tal briga de emissoras

Agora, todos estão apostando no programa Superstar para resgatar o rock nacional por conta do sucesso (merecido) do Malta. A história não é bem assim. No programa, não há restrições, podendo participar qualquer estilo. Ou seja, o próximo vencedor pode ser de reggae, samba, não necessariamente será de rock (isso não é uma crítica, é um comentário). Pode ser que um artista que não seja o vencedor consiga destaque? Lógico que sim, mas quantos artistas por edição terão essa sorte. 2? 3? E quantos conseguirão se manter e criar uma carreira? O Superstar é bem-vindo, mas acredito que seja apenas um modo de demonstrar o que está rolando por aí. Podendo participar, inclusive, artistas que caíram no ostracismo, como já demonstrou a apresentação do Tianastácia ou a participação do novo grupo do Tchello, ex-Detonautas.

Acredito que se não criarem uma estrategia de marketing urgente não conseguiremos criar uma nova cena. E como disse, temos o problema de disputa de emissoras que é grave. Lembram-se da leva de cantores lançada pelo Raul Gil? Pois é, o programa tinha uma enorme audiência, os cantores tinham talento. E por onde andam Robinson Monteiro? Rinaldo? Leilah Moreno? Me recordo de ter visto o Raul Gil, mais de uma vez, pedindo no ar para que as emissoras não barrassem a participação daqueles músicos nos programas, que era algo que estava ocorrendo. O próprio Paulo Ricardo, um dos jurados do Superstar, sofreu com isso há poucos anos quando lançou o box do RPM. A Band proibiu que fossem utilizadas imagens do Perdidos na Noite por estarem lançando o produto pela Som Livre que pertence à Rede Globo. O próprio músico comentou isso em entrevistas, na ocasião. É triste, mas acredito que se ficarem apostando unicamente no programa, que se continuarem apostando nele como a solução final e não como um inicio, se não criarem novas plataformas, novas posturas, novos pensamentos, nada irá acontecer. E aparentemente é isso que está rolando. Tomara que eu esteja errado, muito errado...