Por Davi Pascale
E mais uma vez tivemos a prova de
que os headbangers do Brasil não são tão mente aberta quanto gostaríamos. Angra
e Sepultura participaram do Carnaval desse ano. E o que era para ser celebrado
tornou-se motivo de críticas. Ambos os grupos foram atacados por boa parte da
base de fãs e muitos deixaram de seguir seus ídolos por conta do ocorrido. Mas
e aí? Os músicos estão certos ou errados?
Carnaval é uma das festas mais
populares do Brasil. Todos os anos, multidões vão às ruas para ver os desfiles
de escolas de samba, para seguir os trios elétricos ou apenas para se divertir
com os amigos (beber, namorar, etc). Há quem diga que o “Brasil só funciona
depois do Carnaval”. Provocações à parte, uma das principais reclamações dos
roqueiros nessa temporada sempre foi a música. Termos que aturar aqueles hits
de verão de décima nona categoria, inúmeros artistas de axé, etc, mas quando o
rock n roll adentra a avenida ele não é recebido com aplausos, mas com descaso.
Isso, por parte dos próprios roqueiros. Ideologias, ideologias, ideologias...
O mais triste de tudo é que os
músicos não fizeram nada demais. Sim, subiram em um trio elétrico. Sim, durante
uma festa de Carnaval. Mas os caras subiram lá para tocar seu repertório e
músicas de artistas que os influenciaram. Não subiram para tocar Araketu,
Babado Novo e Chiclete Com Banana. Não gostei do resultado final, mas a
situação deveria ser vista como uma conquista e não como uma vergonha. Depois
do rock perder o espaço na grande mídia para axé, sertanejo e funk, dois dos
maiores expoentes do heavy metal brasileiro conseguiram conquistar espaço na
principal festa do país. Maior tapa na cara do que esse, não há...
Vídeo do Rafael Bittencourt foi um erro |
Se houve um erro, foi o vídeo do
Rafael Bittencourt. Digo isso por 2 razões. 1) Ele não deveria ter gravado um
vídeo falando sobre o assunto. Quando faz isso, demonstra que está se
importando com opinião alheia. E o artista tem que estar acima das picuinhas. O
artista está à frente do seu tempo. Deveria rir dos comentários e não se doer
com eles. 2) Se realmente achasse extremamente necessário um vídeo, não deveria
ter gravado naqueles trajes. Onde o deboche era tão grande que fica difícil
saber se está falando à sério ou não...
Outro grande motivo de discussão
foi a participação do Carlinhos Brown no trio. Ao que tudo indica, o convite
partiu dele. Não sou um fã de Carlinhos Brown. Mas não dá para tirar o valor de
um cara que escreve músicas com artistas do calibre de Marisa Monte e Arnaldo
Antunes. Sem contar que o cara é um ótimo percussionista. Vale lembrar que
Carlinhos Brown já havia participado da gravação do disco Roots (Sepultura). Ou seja, não é exatamente uma novidade a junção.
Em relação ao Angra? Pelo amor de Deus, os caras misturam heavy metal com
música brasileira desde sempre. Poupe-me...
Parceria entre artistas de metal e Carlinhos Brown não é de hoje |
Infelizmente, temos mais uma
demonstração que ainda persiste aquele pensamento retrógrado de gueto, de
underground. O próprio Bittencourt comete essa gafe no vídeo. “Carlinhos Brown
nos convidou porque sabe que o heavy metal pertence ao gueto”. Pelo amor de Deus,
heavy metal pertence ao mundo. Músicos têm que querer dominar o mundo. Sem essa
conversa de quero ser do underground. Até porque se isso fosse verdade não
gravariam em inglês, não almejariam mercado internacional. Tudo bem, não há nada de errado e não é nenhuma vergonha ser um artista underground. A vergonha é bater no peito que o gênero se resume à isso.
O errado é o artista deixar de ser quem ele é para ganhar visibilidade, para ganhar dinheiro. Se puder adentrar esses campos sendo ele mesmo, que faça. Vai ver se Bruce Dickinson se envergonha de cantar em estádios, de ter jatinho, se o Ozzy se nega à fazer propagandas, se o Pantera se importava de ter clip na MTV. Regras estão aí para serem derrubadas. E esse show no Carnaval foi o primeiro passo. Menos mimimi, mais atitude, por favor...
O errado é o artista deixar de ser quem ele é para ganhar visibilidade, para ganhar dinheiro. Se puder adentrar esses campos sendo ele mesmo, que faça. Vai ver se Bruce Dickinson se envergonha de cantar em estádios, de ter jatinho, se o Ozzy se nega à fazer propagandas, se o Pantera se importava de ter clip na MTV. Regras estão aí para serem derrubadas. E esse show no Carnaval foi o primeiro passo. Menos mimimi, mais atitude, por favor...