domingo, 14 de fevereiro de 2016

Rock e Carnaval: Traição ou Liberdade?



Por Davi Pascale

E mais uma vez tivemos a prova de que os headbangers do Brasil não são tão mente aberta quanto gostaríamos. Angra e Sepultura participaram do Carnaval desse ano. E o que era para ser celebrado tornou-se motivo de críticas. Ambos os grupos foram atacados por boa parte da base de fãs e muitos deixaram de seguir seus ídolos por conta do ocorrido. Mas e aí? Os músicos estão certos ou errados?

Carnaval é uma das festas mais populares do Brasil. Todos os anos, multidões vão às ruas para ver os desfiles de escolas de samba, para seguir os trios elétricos ou apenas para se divertir com os amigos (beber, namorar, etc). Há quem diga que o “Brasil só funciona depois do Carnaval”. Provocações à parte, uma das principais reclamações dos roqueiros nessa temporada sempre foi a música. Termos que aturar aqueles hits de verão de décima nona categoria, inúmeros artistas de axé, etc, mas quando o rock n roll adentra a avenida ele não é recebido com aplausos, mas com descaso. Isso, por parte dos próprios roqueiros. Ideologias, ideologias, ideologias...

O mais triste de tudo é que os músicos não fizeram nada demais. Sim, subiram em um trio elétrico. Sim, durante uma festa de Carnaval. Mas os caras subiram lá para tocar seu repertório e músicas de artistas que os influenciaram. Não subiram para tocar Araketu, Babado Novo e Chiclete Com Banana. Não gostei do resultado final, mas a situação deveria ser vista como uma conquista e não como uma vergonha. Depois do rock perder o espaço na grande mídia para axé, sertanejo e funk, dois dos maiores expoentes do heavy metal brasileiro conseguiram conquistar espaço na principal festa do país. Maior tapa na cara do que esse, não há...

Vídeo do Rafael Bittencourt foi um erro

Se houve um erro, foi o vídeo do Rafael Bittencourt. Digo isso por 2 razões. 1) Ele não deveria ter gravado um vídeo falando sobre o assunto. Quando faz isso, demonstra que está se importando com opinião alheia. E o artista tem que estar acima das picuinhas. O artista está à frente do seu tempo. Deveria rir dos comentários e não se doer com eles. 2) Se realmente achasse extremamente necessário um vídeo, não deveria ter gravado naqueles trajes. Onde o deboche era tão grande que fica difícil saber se está falando à sério ou não...

Outro grande motivo de discussão foi a participação do Carlinhos Brown no trio. Ao que tudo indica, o convite partiu dele. Não sou um fã de Carlinhos Brown. Mas não dá para tirar o valor de um cara que escreve músicas com artistas do calibre de Marisa Monte e Arnaldo Antunes. Sem contar que o cara é um ótimo percussionista. Vale lembrar que Carlinhos Brown já havia participado da gravação do disco Roots (Sepultura). Ou seja, não é exatamente uma novidade a junção. Em relação ao Angra? Pelo amor de Deus, os caras misturam heavy metal com música brasileira desde sempre. Poupe-me...

Parceria entre artistas de metal e Carlinhos Brown não é de hoje

Infelizmente, temos mais uma demonstração que ainda persiste aquele pensamento retrógrado de gueto, de underground. O próprio Bittencourt comete essa gafe no vídeo. “Carlinhos Brown nos convidou porque sabe que o heavy metal pertence ao gueto”. Pelo amor de Deus, heavy metal pertence ao mundo. Músicos têm que querer dominar o mundo. Sem essa conversa de quero ser do underground. Até porque se isso fosse verdade não gravariam em inglês, não almejariam mercado internacional. Tudo bem, não há nada de errado e não é nenhuma vergonha ser um artista underground. A vergonha é bater no peito que o gênero se resume à isso.

O errado é o artista deixar de ser quem ele é para ganhar visibilidade, para ganhar dinheiro. Se puder adentrar esses campos sendo ele mesmo, que faça. Vai ver se Bruce Dickinson se envergonha de cantar em estádios, de ter jatinho, se o Ozzy se nega à fazer propagandas, se o Pantera se importava de ter clip na MTV. Regras estão aí para serem derrubadas. E esse show no Carnaval foi o primeiro passo. Menos mimimi, mais atitude, por favor...