Por Davi Pascale
Para quem já frequenta shows há
algum tempo (meu caso), a situação já era previsível. Ingressos caros, show em plena
quarta-feira, atrações que não possuem um enorme público e uma atração
principal que toca com frequência em nosso país. A cena já era vista à
distância. A empresa tentou de tudo. Ingressos na Black Friday, promoção pague
1, leve 2, mesmo assim, a arena não lotou.
Temos ainda mais um grande
problema. O publico se acostumou a espetáculos estilo greatest hits. Quando
surge um artista que não possui inúmeros sucessos radiofônicos, eles se sentem
ofendidos com sua escalação. Independente da qualidade da banda. O que vi de
nego xingando a produção do evento porque eles não conheciam nada das atrações
escolhidas, não está escrito no gibi. E olha que para quem acompanha rock n
roll há algum tempo, esses nomes são manjados. Especialmente, o Cheap Trick. Sem
contar que hoje é fácil ouvir material das bandas sem pagar nada, utilizando-se
de algo chamado streaming.
A cena ficou visível na primeira
atração da noite, os americanos do Tesla. Com uma carreira de mais de 30 anos
nas costas, o grupo californiano, teve que fazer sua primeira apresentação em
São Paulo para um público menor do que ao de um artista de churrascaria. Aliás,
a produção colocou os garotos no palco meia hora antes do horário anunciado. (?!?!?!)
Mesmo assim, os músicos não se abalaram e fizeram uma apresentação com bastante
energia. Jeff Keith corria no palco de um canto para outro, mantinha a aura de
rock star cheio de caras e bocas. Mesmo estando com 59 anos, demonstrou estar
com a voz em forma.
A formação que veio para cá está
junta desde 2006 e não muda muito da original. Apenas Dave Rude entrou no lugar
de Tommy Skeoch. O resto da galera é a mesma que víamos nos clipes nos anos 80
e 90. Ou seja, Brian Wheat, Troy Lucketta, Frank Hannon e o já citado Jeff
Keith. Como o tempo era curto (perto de 50 minutos), os garotos fizeram o set
em cima de seus álbuns antigos. O
setlist foi recheado de clássicos como “Edison´s Medicine”, “The Way It Is”, “Hang
Tough”, “Modern Day Cowboy” e “Heaven´s Trail (No Way Out)”. O publico
parecia não conhecer o material. Nem mesmo a balada “Signs”, mas para quem
conhece e gosta da banda, a apresentação foi mágica. Nostálgica e extremamente
profissional.
A segunda atração da noite foi o
Cheap Trick. Também estreando em palcos brasileiros, os rapazes mantiveram a
energia intacta, ao menos no palco, com uma apresentação bem rock n roll. Robin
Zander e Rick Nielsen vieram com seus trajes característicos e demonstraram um
enorme carisma. O som estava alto, mas não tão bem definido quanto ao do Tesla.
Da onde eu estava, tinha uma enorme dificuldade de ouvir o baixo, por exemplo.
Ao contrário da primeira atração,
não ficaram apenas nos clássicos dos anos 70. Misturaram novas e velhas canções.
Tática bacana, mas que em um festival como esse, é algo arriscado. A animação
da plateia oscilava. Embora os músicos fizessem de tudo para tentar manter a animação
dos presentes. Suas canções mais marcantes como “In The Streets” (um cover do
Big Star que ganhou enorme projeção ao ser utilizado como canção de abertura da
série That 70´s Show), “Surrender” e
“I Want You To Rock Me” tiveram uma boa receptividade do público, assim como a
versão mais pesada de “Ain´t That a Shame” (clássico de Fats Domino que já foi
regravada por meio mundo, inclusive pelo próprio Cheap Trick em seu cultuado LP
Cheap Trick At Budokan), já
clássicos como “Dream Police” não tiveram a reação esperada. Apresentando um
show com pouco mais de 70 minutos, os músicos entregaram uma apresentação
divertidíssima e redondíssima. Aliás, vale destacar a performance de Robin
Zander. O cara ainda canta muuuito. Mais uma vez, os fãs que compareceram
saíram maravilhados.
Às 22h subia ao palco a atração
principal da noite. Os veteranos do Deep Purple. Há quem diga que essa é sua
última turnê. A verdade é que nunca dá para saber. Eu me recordo de ter visto
David Coverdale se despedindo dos palcos em 1997. E vejam só... Se bem que os
músicos do Purple já estão em uma idade avançada. Então, já é um pouco mais
provável. Afinal, o pique vai diminuindo. Natural da idade.
O show começou com o clássico “Highway
Star”. Já ficou claro o que estava por vir. Som impecável. Banda afiadíssima.
Plateia, finalmente, animada. E o lendário Ian Gillan fazendo de tudo para
manter o nível do espetáculo. A parte cantada, ele ainda vai bem, mas nos
falsetes já demonstra uma enorme dificuldade.
A banda foi sábia ao montar o
repertório. Contando com bastante improviso e músicas que não exigem tanto da
voz, o grupo manteve o alto nível durante todo o espetáculo. Clássicos como “Strange
Kind Of Woman”, “Pictures of Home”, “Lazy” e “Space Truckin” levantaram os presentes,
mas a galera pegou fogo mesmo durante a execução dos mega clássicos “Perfect
Strangers” e “Smoke On The Water”. De Infinite, apenas “Birds of
Prey” deu as caras.
Steve Morse, Don Airey, Roger Glover
e Ian Paice foram praticamente perfeitos. Apenas “Knocking At Your Back Door”
que achei o tempo um pouco lento demais. Gillan segurou bem a peteca. Sejamos
sensatos que não é fácil fazer um show desse porte com 72 anos de idade. Se
essa for sua ultima turnê mesmo, saem por cima. Resumo da noite: 3 baita shows, mas com uma plateia decepcionante.