Em 17 de Junho de 1985 chegava às
lojas o terceiro LP do grupo Marillion. Não era um momento muito bom para o
rock progressivo. Foi um grande ano para a música pop. Foi o ano de estreia da
VH1. O ano em que canções como
“Shout” (Tears For Fears), “Take On Me” (A-ha) e “I Want To Know What Love Is”
(Foreigner) dominaram as paradas. Mas para a cena prog era um período
complicado. Vários artistas haviam caído no esquecimento. Os que haviam
sobrevivido (Rush, Genesis e Yes) haviam adaptado seu som à linguagem da nova
era, com arranjos menos complexos, forte presença de sintetizadores, uma pegada mais comercial
Só que o universo da música é
totalmente imprevisível. Quando ninguém bota mais fé, algo acontece. E foi
exatamente isso o que aconteceu com o Marillion. Misplaced Childhood foi para o topo das paradas, graças ao megahit “Kayleigh”.
Apesar da faixa em questão ser uma balada com acento pop, o disco, contudo, não
era exatamente comercial. Não era um disco de hits. Pelo contrário, trata-se de um
trabalho conceitual, com músicas interligadas, diversas quebradas de tempo. Até havia uma influência pop, mas era bem mais sutil do que os demais grandes grupos vinham fazendo naquele momento. Fish, cantor da banda na época, costumava dizer que o disco tinha duas músicas:
lado A e lado B.
Aliás, o conceito do álbum nasceu
da cabeça dele. Para ser mais exato, em uma ‘viagem’ dele. A visão veio durante
uma viagem de ácido, conforme reconheceu o músico. O disco, como disse, é
conceitual. Conta a história de um garoto que tem sua história marcada por
tragédias, como a morte de um de seus melhores amigos, e se vê tendo que
aprender a lidar com sentimentos fortes como depressão e angústia. O garoto
aparece na capa do disco conforme surgiu na mente de Fish durante sua viagem lisérgica:
vestido de soldadinho.
Embora a história seja fictícia,
Fish inseriu alguns elementos autobiográficos na narrativa. “Kayleigh” fala
sobre lidar com o fim de um forte relacionamento. O nome é inspirado no nome de
uma de suas ex-namoradas, Kay Lee. Outro exemplo é “Heart of Lothian”. Aqui, o cantor declara “I was born with
the heart of Lothian”. Pois bem... O cantor é escocês e nasceu em uma região chamada
Midlothian. Coincidência? Na verdade, não...
Álbum traz um de seus maiores sucessos comerciais |
Durante muito tempo, o grupo foi
perseguido e acusado de ser uma espécie de Genesis de segunda categoria. Pura
implicância. Os músicos são muito bons! Sim, Genesis (fase Peter Gabriel) é uma
de suas influências. Mas a banda era mais do que isso. Havia referência de
outras bandas em seu som, como Pink Floyd, por exemplo. Mas sabe como é,
imprensa adora pegar no pé de quem faz sucesso.
O material foi gravado no Hansa
Tonstudio em Berlim e contou com a produção de Chris Kinsey (Rolling Stones,
Peter Frampton, Jimmy Cliff). Tudo foi programado, estudado por A+B. Os músicos
queriam o disco perfeito. A história, obviamente, tinha que ter sentido, mas as
passagens instrumentais também. Mudanças eram feitas à todo momento. “Lords Of
The Backstage”, por exemplo, havia sido criada para ser uma sequência de “Lavender”,
mas no ultimo segundo, foi decidido que ela deveria seguir “Waterhole”. Decisão que obrigou Mark à ter que criar novos elementos aos 45 do segundo tempo.
Misplaced Childhood é um belíssimo álbum. Fish dá um show à parte
em sua interpretação vocal. Steve Rothery (guitarra) e Mark Kelly (teclados)
também roubam à cena. São os principais responsáveis por toda a atmosfera do
LP. A banda está de volta ao Brasil. Se
apresentam hoje em São Paulo, para sermos mais exatos. Se você quer se iniciar
na obra da banda e não sabe por onde começar, essa pode ser uma ótima porta de
entrada. Faixas de destaque: “Kayleigh”,
“Lavender”, “Childhood´s End” e “Bitter Suite”.
Faixas:
01)
Pseudo
Silk Kimono
02)
Kayleigh
03)
Lavender
04)
Bitter
Suite
05)
Heart
of Lothian
06)
Waterhole
(Expresso Bong)
07)
Lords
of The Backstage
08) Blind Curve
09) Childhoods
End
10) White
Feather