sexta-feira, 29 de abril de 2016

Álbuns Clássicos: Marillion – Misplaced Childhood (1985):



Por Davi Pascale

Em 17 de Junho de 1985 chegava às lojas o terceiro LP do grupo Marillion. Não era um momento muito bom para o rock progressivo. Foi um grande ano para a música pop. Foi o ano de estreia da VH1. O ano em que canções como “Shout” (Tears For Fears), “Take On Me” (A-ha) e “I Want To Know What Love Is” (Foreigner) dominaram as paradas. Mas para a cena prog era um período complicado. Vários artistas haviam caído no esquecimento. Os que haviam sobrevivido (Rush, Genesis e Yes) haviam adaptado seu som à linguagem da nova era, com arranjos menos complexos, forte presença de sintetizadores, uma pegada mais comercial

Só que o universo da música é totalmente imprevisível. Quando ninguém bota mais fé, algo acontece. E foi exatamente isso o que aconteceu com o Marillion. Misplaced Childhood foi para o topo das paradas, graças ao megahit “Kayleigh”. Apesar da faixa em questão ser uma balada com acento pop, o disco, contudo, não era exatamente comercial. Não era um disco de hits. Pelo contrário, trata-se de um trabalho conceitual, com músicas interligadas, diversas quebradas de tempo. Até havia uma influência pop, mas era bem mais sutil do que os demais grandes grupos vinham fazendo naquele momento. Fish, cantor da banda na época, costumava dizer que o disco tinha duas músicas: lado A e lado B.

Aliás, o conceito do álbum nasceu da cabeça dele. Para ser mais exato, em uma ‘viagem’ dele. A visão veio durante uma viagem de ácido, conforme reconheceu o músico. O disco, como disse, é conceitual. Conta a história de um garoto que tem sua história marcada por tragédias, como a morte de um de seus melhores amigos, e se vê tendo que aprender a lidar com sentimentos fortes como depressão e angústia. O garoto aparece na capa do disco conforme surgiu na mente de Fish durante sua viagem lisérgica: vestido de soldadinho.

Embora a história seja fictícia, Fish inseriu alguns elementos autobiográficos na narrativa. “Kayleigh” fala sobre lidar com o fim de um forte relacionamento. O nome é inspirado no nome de uma de suas ex-namoradas, Kay Lee. Outro exemplo é “Heart of Lothian”. Aqui, o cantor declara “I was born with the heart of Lothian”. Pois bem... O cantor é escocês e nasceu em uma região chamada Midlothian. Coincidência? Na verdade, não...

Álbum traz um de seus maiores sucessos comerciais

Durante muito tempo, o grupo foi perseguido e acusado de ser uma espécie de Genesis de segunda categoria. Pura implicância. Os músicos são muito bons! Sim, Genesis (fase Peter Gabriel) é uma de suas influências. Mas a banda era mais do que isso. Havia referência de outras bandas em seu som, como Pink Floyd, por exemplo. Mas sabe como é, imprensa adora pegar no pé de quem faz sucesso.

O material foi gravado no Hansa Tonstudio em Berlim e contou com a produção de Chris Kinsey (Rolling Stones, Peter Frampton, Jimmy Cliff). Tudo foi programado, estudado por A+B. Os músicos queriam o disco perfeito. A história, obviamente, tinha que ter sentido, mas as passagens instrumentais também. Mudanças eram feitas à todo momento. “Lords Of The Backstage”, por exemplo, havia sido criada para ser uma sequência de “Lavender”, mas no ultimo segundo, foi decidido que ela deveria seguir “Waterhole”. Decisão que obrigou Mark à ter que criar novos elementos aos 45 do segundo tempo.

Misplaced Childhood é um belíssimo álbum. Fish dá um show à parte em sua interpretação vocal. Steve Rothery (guitarra) e Mark Kelly (teclados) também roubam à cena. São os principais responsáveis por toda a atmosfera do LP.  A banda está de volta ao Brasil. Se apresentam hoje em São Paulo, para sermos mais exatos. Se você quer se iniciar na obra da banda e não sabe por onde começar, essa pode ser uma ótima porta de entrada. Faixas de destaque: “Kayleigh”, “Lavender”, “Childhood´s End” e “Bitter Suite”.

Faixas:
      01)   Pseudo Silk Kimono
      02)   Kayleigh
      03)   Lavender
      04)   Bitter Suite
      05)   Heart of Lothian
      06)   Waterhole (Expresso Bong)
      07)   Lords of The Backstage
      08)   Blind Curve
      09)   Childhoods End 
      10)   White Feather