Por Davi Pascale
Depois de um hiato de 5 anos, o
Winger solta no mercado um CD de inéditas. Em seu antecessor, (o
bom) Karma, a sonoridade era mais
pesada, mais sombria. O novo CD mescla melhor a equação melodia x peso. Os teclados voltam a aparecer um pouco mais. Não tanto quanto nos dois primeiros
trabalhos, mas ainda assim bastante presente. Honestamente, em se tratando de Winger, prefiro assim.
A cena de hard rock anos 80 foi
(e ainda é) tratada com bastante preconceito pelos críticos musicais de nosso
país. Enquanto nos EUA, o gênero era vendido como hair metal, ou seja uma
vertente do heavy metal que tinha certa preocupação com o visual, em nosso país
era chamado de farofa por conta dos refrões pegajosos e assédio feminino em
cima dos músicos. De boa, essas características já existiam no rock antes dos
anos 80.
O grande diferencial é que os
músicos dessa geração passaram a ter uma preocupação maior com seu visual.
Muito provavelmente porque enquanto o principal formato de divulgação de uma
música nos anos 50, 60 e 70 era o radio, na década de 80 quem passou a ditar os
rumos musicais foi a emissora MTV. Ou seja, a imagem torna-se um elemento
importante. O que se ouvia nas rádios, nessa época, era o que estava em
destaque na MTV norte-americana naquele momento. Não meus amigos, o grunge não
foi o primeiro movimento alavancado pela emissora. Os clipes transmitidos aqui
no Brasil em programas como Som Pop
e Clip Trip nada mais eram do que os
clipes de maiores repercussão na emissora estrangeira.
A mídia brasileira tem uma
dificuldade muito grande em assimilar um artista pop (dentro ou fora do rock).
Só passam a falar bem quando suas criticas infundadas caem no ridículo. Daí os
caras tentam ganhar respeito dos leitores tentando se justificar dizendo que a
banda amadureceu, que é o artista que o Brasil resolveu abraçar, etc. Muitas
vezes, o cara tem um trabalho redondo desde o início e é malhado por ter apelo
comercial. Se o cara se orgulhar de ser pop então, está perdido. Portanto, não
é de se estranhar que dessem mais atenção aos cabelos volumosos do que ao
trabalho apresentado pelos músicos.
Visual da banda nos anos 80. |
Por conta desse tipo de postura,
muita gente deixou de notar o quão talentosos eram os músicos de grupos como
Ratt (sério, Warren DeMartini coloca qualquer guitarrista atual debaixo do
chinelo), Europe e o Winger. Pouca gente sabe, mas o Winger é o que a mídia
gosta de chamar de supergroup. Reb Beach divide seu tempo com o lendário
Whitesnake. O baterista Rod Morgenstein fez parte do Dixie Dregs, banda de
Steve Morse (atual guitarrista do Deep Purple). Kip Winger chegou a gravar
discos com o ícone Alice Cooper. Completa a nova formação, o guitarrista Jon
Roth que chegou a tocar nos grupo Black Oak Arkansas e Giant. E ainda tem
neguinho que trata a banda como pré-fabricada...
Better Days Comin´ traz vários elementos de volta ao seu som. É e
não é um disco nostálgico. Os músicos estão olhando para frente. Não tem mais
aquela sonoridade meia Def Leppard que rondava Winger e In The Heart Of The
Young, entretanto as linhas vocais continuam bem similares. A presença de
teclados é bem menor do que nos tempos áureos, aparecem aqui
quase sempre como um complemento. Embora a guitarra sempre tenha falado alto no som da banda, muitas vezes o teclado aparecia com bastante evidência. Algo que pode ser constatado em faixas como "Rainbow In The Rose", por exemplo. O fato de ter um segundo guitarrista deixa o som da banda mais
encorpado. Embora tenha vários momentos pesados, não é o mais pesado
do grupo. Como disse no inicio do texto, Karma era mais pesado. Outro exemplo, seria o terceiro álbum Pull. De todo modo, é um excelente álbum de hard rock com ótimos riffs de
guitarra e excelente trabalho vocal.
O CD começa “Midnight Driver of a Love
Machine” com uma introdução que conta com o som de motor de carro
ligando, “Deal With the Devil” (Karma)
saindo dos alto-falantes do veículo e a guitarra imitando o som de uma sirene. Começo
bem divertido que me remeteu ao inicio de “Detroit Rock City” do álbum Destroyer do Kiss, que é um disco que
ouvi bastante. Mas calma, estou me remetendo apenas a introdução de segundos
antes da faixa começar. Essa faixa de abertura é uma das que mais me
remete ao velho Winger. Com refrão pegajoso e letra falando sobre carros e
garotas, poderia muito bem ter feito parte dos primeiros trabalhos do grupo.
A dupla Kip Winger e Reb Beach continuam chamando atenção |
“Queen Babylon” mantém o clima
oitentista. Em outra época, teria se tornado um hino da banda. “Rat Race” vem na
sequência com uma pegada mais heavy metal, demonstrando o quão forte ainda está
a voz de Kip Winger. A faixa “Better Day Comin´” diminui o andamento, mas não a
qualidade. Uma boa faixa pop. “Tin Soldier” encerra a primeira metade do álbum
com uma pegada bastante influenciada pelo progressivo. Algo que pode assustar
um pouco quem conhece Winger apenas por “Miles Away”, mas não tanto para
aqueles que conhecem um pouquinho da carreira de Morgenstein e que sabem que
ele já chegou a gravar com John Myung e Derek Sherinian (baixista e
ex-tecladisa do cultuado Dream Theater).
“Even Wonder” é a primeira balada
do disco. O grupo é bastante conhecido por suas baladas. Não só pela já citada
“Miles Away”, mas também por canções como “Who´s The One”, “Spell I´m Under” e
“Headed for a Heartbreak”. Embora costume gostar das baladas deles, achei essa
um pouco sem graça, sem sal. Considero a mais fraca do trabalho. “So Long China” trata de levantar
o nível e o clima mais uma vez e abre espaço para a pesada “Storm In Me”. O álbum se encerra com outras duas baladas
“Be Who You Are Now” e “Out of This World”, bem superiores à “Even Wonder”.
Nessas últimas, o teclado de Kip Winger se sobressai um pouco mais, mas o que
chama mesmo a atenção é o belíssimo solo de guitarra de Reb Beach na última
faixa do disco. Reb é guitarrista secundário apenas no Whitesnake, mas no
Winger a história é outra. Quem teve contato com ele pelo grupo de David
Coverdale e está acostumado a ver o (fantástico) Doug Aldrich solando todo o
tempo, não tem idéia do que esse cara é capaz. Aliás, o trabalho de guitarra é
um dos grandes destaques não apenas na ultima faixa, mas em todo o disco. Nas
musicas mais pesadas, inclusive, há alguns fraseados que, por vezes, me remetem
ao Van Halen. Embora goste bastante do disco IV e tenha curtido o Karma, me arrisco dizer que esse é o
álbum que os fãs do Winger estavam esperando desde que o retorno foi anunciado. Quem é fã, pode comprar sem medo.
Nota: 8,0/10,0
Status: Muito Bom
Faixas:
01)
Midnight
Driver of a Love Machine
02)
Queen
Babylon
03)
Rat
Race
04)
Better
Days Comin´
05)
Tin
Soldier
06)
Ever
Wonder
07)
So
Long China
08)
Storm
In Me
09)
Be
Who You Are Now
10)
Out
of This World