domingo, 1 de junho de 2014

Winger – Better Days Comin´ (2014)



Por Davi Pascale

Depois de um hiato de 5 anos, o Winger solta no mercado um CD de inéditas. Em seu antecessor, (o bom) Karma, a sonoridade era mais pesada, mais sombria. O novo CD mescla melhor a equação melodia x peso. Os teclados voltam a aparecer um pouco mais. Não tanto quanto nos dois primeiros trabalhos, mas ainda assim bastante presente. Honestamente, em se tratando de Winger, prefiro assim.

A cena de hard rock anos 80 foi (e ainda é) tratada com bastante preconceito pelos críticos musicais de nosso país. Enquanto nos EUA, o gênero era vendido como hair metal, ou seja uma vertente do heavy metal que tinha certa preocupação com o visual, em nosso país era chamado de farofa por conta dos refrões pegajosos e assédio feminino em cima dos músicos. De boa, essas características já existiam no rock antes dos anos 80.

O grande diferencial é que os músicos dessa geração passaram a ter uma preocupação maior com seu visual. Muito provavelmente porque enquanto o principal formato de divulgação de uma música nos anos 50, 60 e 70 era o radio, na década de 80 quem passou a ditar os rumos musicais foi a emissora MTV. Ou seja, a imagem torna-se um elemento importante. O que se ouvia nas rádios, nessa época, era o que estava em destaque na MTV norte-americana naquele momento. Não meus amigos, o grunge não foi o primeiro movimento alavancado pela emissora. Os clipes transmitidos aqui no Brasil em programas como Som Pop e Clip Trip nada mais eram do que os clipes de maiores repercussão na emissora estrangeira.

A mídia brasileira tem uma dificuldade muito grande em assimilar um artista pop (dentro ou fora do rock). Só passam a falar bem quando suas criticas infundadas caem no ridículo. Daí os caras tentam ganhar respeito dos leitores tentando se justificar dizendo que a banda amadureceu, que é o artista que o Brasil resolveu abraçar, etc. Muitas vezes, o cara tem um trabalho redondo desde o início e é malhado por ter apelo comercial. Se o cara se orgulhar de ser pop então, está perdido. Portanto, não é de se estranhar que dessem mais atenção aos cabelos volumosos do que ao trabalho apresentado pelos músicos.

Visual da banda nos anos 80.

Por conta desse tipo de postura, muita gente deixou de notar o quão talentosos eram os músicos de grupos como Ratt (sério, Warren DeMartini coloca qualquer guitarrista atual debaixo do chinelo), Europe e o Winger. Pouca gente sabe, mas o Winger é o que a mídia gosta de chamar de supergroup. Reb Beach divide seu tempo com o lendário Whitesnake. O baterista Rod Morgenstein fez parte do Dixie Dregs, banda de Steve Morse (atual guitarrista do Deep Purple). Kip Winger chegou a gravar discos com o ícone Alice Cooper. Completa a nova formação, o guitarrista Jon Roth que chegou a tocar nos grupo Black Oak Arkansas e Giant. E ainda tem neguinho que trata a banda como pré-fabricada...

Better Days Comin´ traz vários elementos de volta ao seu som. É e não é um disco nostálgico. Os músicos estão olhando para frente. Não tem mais aquela sonoridade meia Def Leppard que rondava Winger e In The Heart Of The Young, entretanto as linhas vocais continuam bem similares. A presença de teclados é bem menor do que nos tempos áureos, aparecem aqui quase sempre como um complemento. Embora a guitarra sempre tenha falado alto no som da banda, muitas vezes o teclado aparecia com bastante evidência. Algo que pode ser constatado em faixas como "Rainbow In The Rose", por exemplo. O fato de ter um segundo guitarrista deixa o som da banda mais encorpado. Embora tenha vários momentos pesados, não é o mais pesado do grupo. Como disse no inicio do texto, Karma era mais pesado. Outro exemplo, seria o terceiro álbum Pull. De todo modo, é um excelente álbum de hard rock com ótimos riffs de guitarra e excelente trabalho vocal.

O CD começa “Midnight Driver of a Love Machine” com uma introdução que conta com o som de motor de carro ligando, “Deal With the Devil” (Karma) saindo dos alto-falantes do veículo e a guitarra imitando o som de uma sirene. Começo bem divertido que me remeteu ao inicio de “Detroit Rock City” do álbum Destroyer do Kiss, que é um disco que ouvi bastante. Mas calma, estou me remetendo apenas a introdução de segundos antes da faixa começar. Essa faixa de abertura é uma das que mais me remete ao velho Winger. Com refrão pegajoso e letra falando sobre carros e garotas, poderia muito bem ter feito parte dos primeiros trabalhos do grupo.

A dupla Kip Winger e Reb Beach continuam chamando atenção

“Queen Babylon” mantém o clima oitentista. Em outra época, teria se tornado um hino da banda. “Rat Race” vem na sequência com uma pegada mais heavy metal, demonstrando o quão forte ainda está a voz de Kip Winger. A faixa “Better Day Comin´” diminui o andamento, mas não a qualidade. Uma boa faixa pop. “Tin Soldier” encerra a primeira metade do álbum com uma pegada bastante influenciada pelo progressivo. Algo que pode assustar um pouco quem conhece Winger apenas por “Miles Away”, mas não tanto para aqueles que conhecem um pouquinho da carreira de Morgenstein e que sabem que ele já chegou a gravar com John Myung e Derek Sherinian (baixista e ex-tecladisa do cultuado Dream Theater).

“Even Wonder” é a primeira balada do disco. O grupo é bastante conhecido por suas baladas. Não só pela já citada “Miles Away”, mas também por canções como “Who´s The One”, “Spell I´m Under” e “Headed for a Heartbreak”. Embora costume gostar das baladas deles, achei essa um pouco sem graça, sem sal. Considero a mais fraca do trabalho. “So Long China” trata de levantar o nível e o clima mais uma vez e abre espaço para a pesada “Storm In Me”.  O álbum se encerra com outras duas baladas “Be Who You Are Now” e “Out of This World”, bem superiores à “Even Wonder”. 

Nessas últimas, o teclado de Kip Winger se sobressai um pouco mais, mas o que chama mesmo a atenção é o belíssimo solo de guitarra de Reb Beach na última faixa do disco. Reb é guitarrista secundário apenas no Whitesnake, mas no Winger a história é outra. Quem teve contato com ele pelo grupo de David Coverdale e está acostumado a ver o (fantástico) Doug Aldrich solando todo o tempo, não tem idéia do que esse cara é capaz. Aliás, o trabalho de guitarra é um dos grandes destaques não apenas na ultima faixa, mas em todo o disco. Nas musicas mais pesadas, inclusive, há alguns fraseados que, por vezes, me remetem ao Van Halen. Embora goste bastante do disco IV e tenha curtido o Karma, me arrisco dizer que esse é o álbum que os fãs do Winger estavam esperando desde que o retorno foi anunciado. Quem é fã, pode comprar sem medo.

Nota: 8,0/10,0
Status: Muito Bom

Faixas:
      01)   Midnight Driver of  a Love Machine
      02)   Queen Babylon
      03)   Rat Race
      04)   Better Days Comin´
      05)   Tin Soldier
      06)   Ever Wonder
      07)   So Long China
      08)   Storm In Me
      09)   Be Who You Are Now

      10)   Out of This World