Por Davi Pascale
Demo do Little Quail And The Mad
Birds é resgatada e prensada em vinil. Material apresenta boa sonoridade e
performance enérgica.
Talvez vocês não se lembrem quem foi o Little Quail. Bem, vamos lá... No início dos anos 90, surgiu uma
nova leva de bandas de rock. Uma boa parte desses grupos pertenciam à selos
independentes que utilizavam as gravadoras grandes para distribuição. Os mais
populares eram o Banguela (atrelado à Warner), o Superdemo/Chaos (ligado à
Sony) e o Rock It! Às vezes resgatavam alguns astros esquecidos, mas a maior
parte eram novas apostas mesmo. Little Quail And The Mad Birds foi uma das
apostas do selo Banguela, famoso por ter lançado os Raimundos.
Os Raimundos se tornaram o grande
nome daquela geração, mas poucas dessas apostas conseguiram furar o bloqueio e
chegar ao grande público. Outra exceção foi o Planet Hemp de Marcelo D2 que foi
uma das apostas do Superchaos. Little Quail bateu na trave. Conseguiram colocar
alguns clipes na programação da MTV, conseguiram alguma execução nas rádios,
mas nunca tiveram um sucesso massivo. Quem assistia a MTV na época certamente
lembra-se do clipe “Familia Que Briga Unida, Permanece Unida”, mas nunca
conseguiram uma venda de expressão. Gabriel Thomaz conseguiu emplacar uma
música nas rádios, mas na voz dos Raimundos. Lembra de “I Saw You Saying”, a
tal música da Madonna? Então, era dele. Os Raimundos até tentaram dar uma
força. Citavam o Little Quail nas entrevistas, colocaram Gabriel para cantar
junto com eles no Monsters of Rock,
mas não decolou.
Talvez o primeiro álbum tenha
assustado. Lírou Queiol En De Méd Bârds,
lançado em 1993, era exageradamente cru ou, talvez, exageradamente honesto. Pegaram
fama de grupo tosco. O pessoal que ouvia rádio não estava acostumado com essa
sonoridade mais crua, de garagem. A partir daí, vários torciam o nariz somente
de ouvir falar o nome dos rapazes. Seu trabalho seguinte, A Primeira Vez que Voce Me Beijou, já veio com uma produção
superior. Melhor tocado, melhor gravado, melhor arranjado, mesmo assim, não decolou.
Hoje, o grupo se tornou cult por conta de 2 dos 3 músicos do conjunto terem
criado nome na cena brasileira. Gabriel Thomaz ganhou respeito com o Autoramas,
enquanto Bacalhau consegue seu ganha-pão excursionando com o Ultraje a Rigor, depois de
ter tido um breve sucesso com o Rumbora no final da década de 90.
Compacto resgata demo do segundo disco |
O que temos aqui é justamente a
banda tocando ao vivo dentro do estúdio. Gravado originalmente em fita cassete
com uma mesa de 4 canais, os meninos começavam a rascunhar o que viria a ser o
seu segundo trabalho. Ainda não tinha a produção que o álbum viria a ter. As
bandas grandes costumam ter bastante tempo nos estúdios para criação, mas lembre-se
que esse não era o caso deles. Pelo contrário, na contracapa Gabriel comenta
que eles gravavam o material nas horas vagas do estúdio. As letras continuavam
com a irreverência costumeira, mas a banda se mostrava melhor entrosada.
As melhores músicas são as
divertidas “A Alegria Está Contagiando Meu Coração” e “Mau Mau”.
Coincidentemente as 2 primeiras músicas do tal trabalho. A gravação demonstrava
que o grupo continuava fiel às suas origens. Os arranjos estavam um pouco mais
elaborados, mas a essência era a mesma. Bacalhau era o grande destaque
espancando a bateria sem dó. “Elvis Não” já demonstrava a influência de surf
music nas guitarras de Gabriel, que viria a se tornar uma marca dos Autoramas,
enquanto a (fraca) “Problem Girl” deixava nítido a influencia de punk rock em
seu trabalho. O compactinho se encerra com uma vinheta engraçadinha que leva o
nome de “A”.
Embora tenha sido registrado em
condições precárias, o material traz uma boa sonoridade. Se você está cansado
de ouvir grupos plastificados, essa pode ser uma boa opção.
Nota: 7,5 / 10,0
Status: Honesto e nostálgico
Faixas:
01) A
Alegria Está Contagiando o Meu Coração
02) Problem
Girl
03) Mau
Mau
04) Elvis
Não
05) A