domingo, 30 de março de 2014

Discografia Comentada: Delain

Por Rafael Menegueti

Nessa semana vazou na internet o novo álbum do Delain, “The Human Contradiction”, previsto para sair no começo de abril. Apesar de lamentar quando esse tipo de coisa acontece, pois atrapalha a vida dos músicos, eu ouvi as faixas e posso dizer que esse é o trabalho mais ousado e pesado da banda de metal sinfônico holandesa. Mas antes de falar sobre esse novo disco, decidi fazer uma descrição de seus trabalhos anteriores. Isso porque eu considero o Delain uma das melhores e mais criativas bandas da cena do metal atual. Posso ser meio suspeito pra dizer isso, afinal eu sou MUITO fã da banda, mas esse é meu ponto de vista independente de toda minha admiração pelo quinteto. Então vamos ao que interessa:

Amenity (Demo, 2002)


Martjin Westerholt precisou deixar o Within Temptation, de seu irmão Robert Westerholt, no começo dos anos 2000 devido a problemas de saúde. Quando já estava melhor, iniciou um projeto, o Delain, e lançou uma demo de maneira independente, Amenity. Embora Martjin já tenha declarado que essa demo não pode ser considerada o inicio do Delain, pois o resultado não foi o esperado, três das quatro faixas do disco seriam retrabalhadas e lançadas bem diferentes no debut oficial da banda. À época, os integrantes eram outros, e a banda tinha Anne Invernizzi nos vocais. Mas apenas Martjin seguiu no grupo, todos os outros foram trocados. Ainda bem, pois Amenity de longe não lembra a pegada do Delain, e não tinha a empolgação necessária pra dar certo.

Lucidity (2007)


Após um tempo, Martjin decidiu reformular o projeto. Chamou a jovem vocalista Charlotte Wessells, que havia conhecido por acaso enquanto voltava para casa, para integrar o projeto e após isso saiu atrás de outros colegas do cenário do metal sinfônico. Juntou Ad Sluijter (Epica), Marco Hietala (Nightwish, Tarot), Ariën van Weesenbeek (Epica), Guss Eikens e George Oosthoek (ex-Orphanage), Sharon den Adel (Within Temptation) e Liv Kristine (Leaves’ Eyes). Todos eles deram sua contribuição ao projeto, lançando um disco com uma melodia inspiradora e músicas cativantes. Desde “Sever” até a excelente “Pristine” o disco é uma verdadeira obra prima do metal sinfônico, tanto que após o sucesso dele, Martjin e Charlotte decidiram transformar o Delain de um projeto para uma banda de fato, recrutando Ronald Landa (guitarra), Rob van der Loo (baixo) e Sander Zoer (bateria) para integrar a banda. Faixas como “See Me In Shadow”, “A Day for Ghosts” e “The Gathering” servem bem pra mostrar a cara da banda, cheias de melodia e com uma pegada que alia o peso das guitarras com o som do teclado que carrega as músicas. “Pristine”, faixa que encerra o disco tem um dos arranjos orquestrais mais bem elaborados dentre todas as músicas da banda, e deixa o ouvinte querendo mais.

A formação do Delain em 2007

April Rain (2009)


Após o sucesso de “Lucidity”, a banda decidiu mostrar uma cara mais própria e uma maior maturidade em seu segundo disco: “April Rain”. Com uma visível inspiração mais pop, o disco segue uma linha cheia de arranjos de teclado, os sons das guitarras estão mais coesos e se impõem menos, dando um destaque maior para a voz de Charlotte, que demonstra uma habilidade fascinante em faixas como “April Rain”, “Start Swimming” e “Come Closer”, que na minha opinião é a melhor balada do grupo. Alias, Chalotte Wessells é o grande destaque do álbum, entre as faixas mais calmas e as mais pesadas, é a voz dela que parece ditar o ritmo das músicas. Esse seria o único trabalho com Ronald Landa e Rob van der Loo, que deixariam o grupo em 2010 para irem para o Hangover Hero e o Epica, respectivamente.

We Are The Others (2012)


Após uma certa demora, o Delain finalmente lançou seu terceiro e aguardado disco, “We Are The Others”. O disco teve inspirações na trágica morte da garota inglesa Sophie Lancaster, agredida por ser gótica. Nesse disco a banda abraça uma sonoridade bem mais comercial e pop que em seu antecessor. A maior prova disso vem de músicas como “Are You Done With Me” e “Hit Me With Your Best Shot” e também na ausência de guturais no disco. Mas ainda era possível ver o peso e a forte pegada característica das músicas da banda, em especial nas faixas “Mother Machine”, “Where’s the Blood” e “Not Enough”. Charlotte novamente se destaca, assim como os arranjos de teclado e sintetizadores de Westerholt, principalmente em “Milk & Honey”. As letras também estão mais pessoais, falando de assuntos mais da natureza humana, mais de uma maneira mais simplificada em relação aos discos anteriores. O único defeito do disco, segundo alguns, seria o fato de ele ser muito certinho. E de fato, “We Are The Others” é excessivamente pensado para soar o mais correto e alinhado possível. No entanto, creio que isso casou perfeitamente com o estilo das composições do disco.

O Delain na sua formação atual
Interlude (CD/DVD, 2013)


Com o lançamento de “We Are The Others”, a banda se preparou para passar por inúmeras mudanças. Esse momento de transição que a banda atravessou, em especial a mudança de gravadora ficou registrado em “Interlude”. O lançamento especial mostrava uma nova cara da banda, que parece mais decidida do que nunca a manter suas raízes no metal sinfônico alternativo que os consagrou. Duas faixas inéditas (“Breath On Me” e “Collars and Suits”) mostram um Delain mais coeso e que emprega melhor o uso das guitarras de Timo Somers e do peso em contraste com a melodia trazida pelos arranjos de Martjin Westerholt e pela voz de Charlotte. Também há uma nova mixagem de “Are You Done With Me”, uma versão alternativa de “We Are The Others” (melhor que a original na minha opinião), faixas ao vivo e três covers, que mostram a incrível abrangencia da banda em sua sonoridade, pois todas elas são de faixas bem diferentes do que o metal sinfônico costuma ser, em especial “Cordell”, dos Cramberries, que ficou impecável, como se fosse do próprio Delain, superando a versão original. Há ainda um DVD bônus com videoclipes, faixas ao vivo e imagens de bastidores da banda. Após esse interlúdio, a banda estava pronta para mostrar a evolução musical em sua formula, em seu novo disco...

The Human Contradiction (2014)



Mas desse eu vou falar no próximo post.