sábado, 31 de março de 2018

The Doors – Live At The Isle Of Wight Festival 1970 (2017):




Por Davi Pascale

Apresentação histórica do The Doors chega ao Brasil. Show apresenta Jim Morrison concentrado, sem muita empolgação, enquanto a banda demonstrava enorme entrosamento. Esse foi um dos últimos shows dos rapazes.

Os fãs de The Doors podem comemorar. Durante todos esses anos, poucos vídeos foram lançados e o único show na integra até então era o histórico – e emocionante – Hollywood Bowl. Depois, foram lançados vídeos bem bacanas mesclando performances de TV, clipes, entrevistas, mas os fãs continuavam na expectativa de assistir mais algum show dos rapazes da fase Morrison. Bem, agora podem.

É impossível não notar o contraste. A apresentação no Hollywood Bowl demonstrava lizard king magro, cheio de atitude, como quem acreditasse que seria capaz de mudar o mundo. A apresentação que chega agora traz o músico gordo, barbudo, totalmente concentrado, mas um tanto desanimado. Nenhuma provocação com o público, nenhum movimento incomum. Seguiu o script à risca. E, em se tratando de Morrison, isso era raro.

A razão é que o cantor estava para ser julgado e corria sério risco de prisão. A acusação era de que o rapaz teria exposto seu pênis durante um show do conjunto. Algo que nunca foi comprovado e sempre foi negado pelo cantor e por seus companheiros de banda. No documentário presente no extra (This is The End), uma imagem de arquivo do já falecido tecladista Ray Manzarek traz o musico explicando que pediu para que o roadie dele invadisse o palco e agarrasse Jim para que não cometesse tal loucura.



A qualidade de gravação é boa para os padrões em que foram gravados. Essas imagens são de 1970 e os músicos estavam se apresentando às 2 horas da manhã com uma baixa iluminação de palco. Mesmo assim, vale o achado por seu valor histórico. Além de ser o segundo vídeo ao vivo dos rapazes (com a formação clássica), esse é um dos últimos shows do The Doors com Jim. Após essa apresentação rolaram apenas mais 2 apresentações.

Curiosamente, o repertório não traz muitas músicas de Morrison Hotel e nem de The Soft Parade (esse, acho que não teve nenhuma). A base do set foi o debut de 1967 (sim, eles mudaram tanto assim em pouco mais de 3 anos...)

Não colocaria essa apresentação como uma de suas melhores. Tenho vários CD´s ao vivo dos rapazes (alguns, bootlegs, inclusive) e conheço performances muito mais inspiradas do que essa. O clima de tensão no palco era facilmente percebido. Entretanto, como todos eram grandes músicos, conseguiram deixar o show interessante. Sem contar que é sempre mágico ver Jim em ação. Algo, aliás, deve ser comentado. Apesar de estar meio decepcionado com tudo o que estava acontecendo, Morrison não avacalhou o show. Pelo contrário, cantou incrivelmente bem no dia.

Esse também foi o último show que os músicos filmaram. Portanto, por essas e por outras, diria que mesmo que seu líder não estivesse saltitante, esse é um filme obrigatório na coleção dos fãs da banda e dos amantes do rock clássico. Que venham mais lançamentos como esse por aí. Está cheio de show histórico perdido nos arquivos. Já passou da hora de resgatarem essas pérolas.

Nota: 10,0 / 10,0

Faixas:
     01)   Roadhouse Blues
     02)   Introduction
     03)   Back Door Man
     04)   Break On Through (To The Other Side)
     05)   When The Music´s Over
     06)   Ship Of Fools
     07)   Light My Fire
     08)   The End (Medley: Across The Sea / Away In India / Crossroads Blues / Wake Up)
Bonus Feature: “This Is The End” featurette

sábado, 24 de março de 2018

Linkin Park – One More Light Live (2017):




Por Davi Pascale

Linkin Park solta novo trabalho ao vivo como forma de homenagear Chester Bennington. Novo disco comprova mudança de sonoridade, além de deixar nítida a diferença que o cantor fazia no grupo.

No inicio dos anos 2000, tivemos o que talvez tenha sido o ultimo suspiro do rock n roll invadindo o circuito mainstream. O sucesso de grupos como Linkin Park, Evanescence e Slipknot ajudaram a manter a garotada dentro do rock. Hybrid Theory e Meteora foram trabalhos marcantes para quem viveu aquele período. Esses trabalhos embalaram diversas canções nas FM´s e se tornaram trilha sonora dos adolescentes daquele período.

Depois de terem sido acusados de estarem se repetindo (após o sucesso de Meteora, os garotos lançaram disco ao vivo, disco de remixes e um disco ao lado do Jay-z, todos repetindo boa parte do repertório), os caras resolveram chutar o balde e mudar a direção de sua música. A partir daí, seu publico se dividiu. Há quem diga que tenham amadurecido enquanto compositores, há quem diga que perderam a graça.

Seu trabalho mais polêmico foi justamente o mais recente, One More Light, onde os músicos abraçaram de vez a sonoridade pop. Para quem curte a fase mais recente dos caras, o novo ao vivo irá cativá-los. Quem deixou de acompanhar os meninos e decidiu comprar o CD embalado pelo baque da morte de Bennington, irá estranhar.


Digo isso por 2 razões. A primeira é que o Linkin Park decidiu explorar seu mais novo disco no repertório. Embora não o considere um destaque em sua discografia, acho a jogada interessante. Gosto quando o artista resolve explorar o disco que está lançando. É um modo de nos fazer perceber a força de algumas composições que não notamos em uma primeira audição, além de ajudar a modificar o show de uma turnê para a outra. Esse é outro motivo que me agrada. A banda já lançou outros trabalhos ao vivo. É uma forma de sair do mais do mesmo. A outra razão que disse que irão estranhar é porque o som das guitarras ficaram mais magras e essa logica se segue mesmo na execução das músicas antigas.

Embora ainda prefira o grupo fazendo um trabalho mais pesado, não dá para massacrar o disco. Os caras sempre foram bons de palco e a logica se mantém. O repertório está muito bem executado. E as faixas escolhidas servem para comprovar, mais uma vez, que Chester era um diferencial dentro do grupo. Em relação à interpretação vocal, praticamente leva o show nas costas. Tinha um bom alcance e era bem versátil. Honestamente, não consigo imaginar a banda sobrevivendo sem ele.

No setlist, além de 7 faixas de seu mais novo disco, temos alguns dos principais hits sendo relembrados. “In The End”, “Numb” e “Bleed It Out” estão entre eles, mas para quem quer matar a saudade de Chester Bennington mesmo, os números mais cativantes acabam sendo “Crawling” (apenas com piano e voz) e a acústica “Sharp Edges”.

O disco não é o registro de uma única apresentação. Foram utilizados áudios de diferentes concertos. E também não se trata de um show na integra. Portanto, para quem está dizendo que faltou muito som (e faltou mesmo), lembre-se que provavelmente foram executadas, mas não entraram no disco. De todo modo, trata-se de uma bonita homenagem e merece ser conferida entre seus admiradores.

Nota: 7,5 / 10,0

Faixas:
      01)   Talking To Myself
      02)   Bur It Down
      03)   Battle Symphony
      04)   New Divide
      05)   Invisible
      06)   Nobody Can Save Me
      07)   On More Light
      08)   Crawling
      09)   Leave Out All The Rest
      10)   Good Goodbye feat Stormzy
      11)   What I´ve Done  
      12)   In The End
      13)   Sharp Edges
      14)   Numb
      15)   Heavy
      16)   Bleed It Out

quarta-feira, 14 de março de 2018

Paulo Miklos – A Gente Mora No Agora (2017):




Por Davi Pascale

Paulo Miklos lança seu terceiro álbum solo, o primeiro após sua saída dos Titãs. Novo trabalho traz o musico entrando de cabeça na tão comentada música popular brasileira. O disco tem sido bem recebido, mas não é voltado para todo tipo de fã.

Os Titãs fizeram parte da minha formação musical. Quando comecei a ouvir o conjunto, lá por 1988, 1989, eles eram um dos principais nomes do rock brasileiro. Iam contra tudo e todos. Faziam um som pesado, possuíam uma irreverência fora do comum nos palcos, letras incômodas. Iam contra o sistema. Se essa ainda é sua visão sobre os músicos, cuidado, muito cuidado ao ouvir o disco novo do Paulo Miklos.

Quem acompanha os músicos de perto, não se espanta mais. Já tem anos que eles deixaram claro que eles querem ser populares e já tem um tempo que os músicos deixaram sua admiração explícita pela MPB.

Esse é o melhor termo para definir A Gente Mora No Agora. É um trabalho de MPB. Para criar o repertório, Paulo contou com a ajuda de grandes nomes da cena. Desde os lendários Guilherme Arantes e Erasmo Carlos, passando pela linda e talentosa Céu, até seus ex-companheiros Nando Reis e Arnaldo Antunes. O que predomina, contudo, é a aproximação com a nova geração. Além da Céu, temos o dedo de nomes como Tim Bernardes, Silva, Emicida e até mesmo Mallu Magalhães.

Quando coloquei meu LP para tocar pela primeira vez (sim, comprei o vinilzão), procurei não ficar reparando em quem era o compositor de tal canção para não me deixar influenciar. Entre os parceiros escolhidos pelo artista, há alguns que gosto muito do trabalho que fazem e acompanho de perto e outros que nunca me agradaram. No primeiro lado, as que mais se destacaram foram “A Lei Desse Troço”, “Vigia” e “Vou Te Encontrar”. Curiosamente, são faixas que se ouvirmos isoladas, já temos uma noção do que se trata o disco. Um LP com bastante brasilidade e uma pegada romântica por trás. Curiosamente, duas delas escritas por artistas que não sou fã.



Apesar do grupo paulista ter nos brindado com diversos talentos, em termos de voz, o Paulo Miklos sempre foi quem mais me chamou a atenção. Voz rasgada, forte, afinado. Seu trabalho vocal é bem resolvido, não decepciona. Por ser um trabalho solo, já era esperado que não tivesse uma banda fixa. É exatamente isso o que ocorre aqui. Entre os nomes presentes, contudo, vale citar a participação do lendário Dadi Carvalho (A Cor do Som, Barão Vermelho), Pupillo (Nação Zumbi) e Apollo 9 (Planet Hemp, Bebel Gilberto).

Interessante notar que alguns músicos possuem uma marca tão forte que é difícil não imaginarmos de quem é a autoria, assim que ouvimos a canção. Isso é facilmente notável nas contribuições de Erasmo Carlos (País Elétrico) e Guilherme Arantes (Estou Pronto). É possível sacar que as musicas são deles somente pela divisão métrica. Aliás, a faixa do Guilherme Arantes é super bonita.

O lado B achei um pouco mais irregular do que o lado A, mesmo assim vale destacar a bonita balada “Princípio Ativo” e “Samba Bomba”, que apesar do nome, é a mais roqueira do álbum, com uma pegada quase tropicalista.

No geral, A Gente Mora no Agora é um disco bonito, bem resolvido, mas mais uma vez, se você está comprando por ser ‘o novo disco do ex-cantor dos Titãs’, cuidado. Há quem acuse Nando Reis e Rita Lee de terem se enveredado para a MPB (o que não considero nenhum demérito, aliás), para esses, já aviso que o mergulho de Paulo Miklos na musica popular brasileira foi mais profundo. Por sua conta e risco.

Nota: 7,0 / 10,0

Faixas:
Lado A:
      01)   A Lei Desse Troço
      02)   Vigia
      03)   Risco Azul
      04)   Vou Te Encontrar
      05)   Todo Grande Amor
      06)   País Elétrico
Lado B:
      01)   Estou Pronto
      02)   Não Posso Mais
      03)   Princípio Ativo
      04)   Afeto Manifesto
      05)   Samba Bomba
      06)   Deixa De Ser Alguém
      07)   Eu Vou

sábado, 3 de março de 2018

Ace Frehley – Anomaly Deluxe Edition (2017):

Por Davi Pascale
Publicado Originalmente no site Consultoria do Rock
O álbum que marcou o retorno do spaceman à ativa é relançado com faixas bônus. Ainda que não seja um trabalho considerado clássico, o disco foi bem recebido à época entre seus fiéis seguidores. Esse lançamento segura a ansiedade de seus admiradores até que seu novo trabalho de inéditas chegue às lojas em abril.
Nunca tive dúvidas. Meu guitarrista favorito do Kiss sempre foi o Ace. Sim, gosto muito de Bruce, Vinnie, Mark e Tommy, mas Ace soa mágico e o rapaz, ainda que incompreendido por muitos, possui um estilo muito próprio de tocar. Já vi muitos covers dele por aí. Até agora não vi um que tocasse igual. Tocar igual um artista não é apenas reproduzir as notas de seus riffs e seus solos, mas é saber timbrar o instrumento de acordo, saber manter a palhetada, enfim… E aí está o mistério. A palhetada de Ace, principalmente nos solos, ninguém faz igual. Sorry, folks.
Além de ser um guitarrista de primeira, o rapaz também sempre foi um senhor compositor. Além de ter escrito sozinho alguns clássicos dos mascarados – como “Cold Gin” e “Parasite” – ele é dono da melhor carreira solo entre os músicos do Kiss. Anomaly foi celebrado na época justamente porque trazia o rapaz de volta aos holofotes depois de muito tempo afastado da mídia. Seu último álbum de inéditas havia sido o Trouble Walkin´, lançado em 1989. E o mais bacana de tudo é que ele voltou em boa forma. Boas composições, excelente qualidade de gravação, um cover bem bacana e muito bem executado e um time de primeira por trás.
A primeira parte do disco é para fã nenhum botar defeito. “Fox & Free” e “Outer Space” é nada mais, nada menos do que o som clássico de Ace Frehley com uma dose extra de peso. “Pain In The Neck” se distancia um pouco do seu material pela sonoridade sombria do refrão, mas nos versos remete bastante aos tempos de Frehley´s Comet. O cover de “Fox On The Run” (Sweet) ficou espetacular. Bem rock n roll, bem pra cima. Casou bem na voz de Frehley. “Gengis Khan” não está entre minhas favoritas, mas gosto muito da introdução que ele faz com o violão. “Too Many Faces” é mais um daqueles rocks despretensiosos que ele sabe fazer como ninguém. O refrão nos leva de volta aos dias de Trouble Walkin´, o trabalho solo que mais gosto de Ace.
Para quem acompanha a cena, os músicos do projeto são mais manjados do que cantiga de ninar. Anton Fig chegou a tocar no Frehley´s Comet e gravou com o Kiss os álbuns Dinasty e Unmasked. Scott Coogan é um nome manjado na cena. Já tocou com Lynch Mob, Brides of Destruction e já vinha se apresentando com Ace Frehley desde 2007. O tecladista Marti Frederiksen é muito conhecido como musico de estúdio e já chegou a trabalhar ao lado de Aerosmith, Scorpions, Ozzy Osbourne, Jeff Healey, Sheryl Crow, Motley Crue, para citar alguns. Brian Tichy voltou a ganhar destaque recentemente por seu trabalho ao lado do Dead Daisies, mas antes deles, chegou a gravar com Billy Idol, Gilby Clarke, Vinnie Moore, além de ter feito parte do Pride & Glory, ao lado do Zakky Wylde. Anthony Esposito é mais um músico que fez parte do Lynch Mob. Como podem notar, só nome de responsa.
O disco segue adiante com “Change The World”, uma balada bem bacaninha. A instrumental “Space Bear (Extended)” traz um inspirado riff. Em “A Little Bit of Angels”, o nível cai um pouquinho novamente. A idéia da letra é muito bacana. Fala sobre sua então nova fase de sua vida, a questão da sobriedade (nem é preciso lembrar os inúmeros problemas que esse cara teve com o álcool no passado). O coro com as crianças é uma sacada legal, mas não consegue repetir o impacto de “Great Expectations”. Na sequência, temos “Sister”, uma faixa que seus fãs esperavam pelo lançamento há anos, até então. Ace chegou a tocar esse som em vários shows solo nos anos 90 e a demo dela circulava em vários bootlegs. Facilmente, uma das melhores canções de sua carreira solo. Um acerto tirar esse som do seu velho arquivo. “It´s a Great Life” tem um verso apagado, mas o refrão é bem legal. E encerrando o playlist tradicional temos “Fractured Quantum”. Uma nova sequência para o clássico “Fractured Mirror”. Não supera a original de 78, mas ainda assim é um numero interessante.
Na época de seu lançamento, Ace lançou esse disco em vinil e CD. O CD foi vendido na versão standard e deluxe que trazia uma nova arte, onde você poderia montar o encarte na forma de uma pirâmide. A arte de agora é um digipak simples, onde foram acrescentadas 3 faixas adicionais. “The Return Of Space Bear” já é manjada entre os fãs. Ela era um bônus da versão digital. A curiosidade é que essa é a primeira vez que lançam ela no formato físico. O creme daqui são as demos.
“Pain In The Neck” reaparece em uma versão mais cadenciada, mas a mais bacana de todas é a polêmica “Hard For Me”. Essa é uma canção que Ace escreveu junto com Sebastian Bach (Skid Row) na época do Psycho Circus e acabou ficando fora do disco. Na verdade, eles recriaram uma composição de Ace com Marty Sanders, de 1985. A ideia era manter a letra criada junto com Sebastian, mas o músico teve que altera-la à contragosto, por conta dos dirigentes da gravadora que a consideravam muito forte. A letra gira em torno de sexo e acabou sendo retrabalhada para o álbum e se transformando em “Foxy & Free”. O próprio Ace já disse que prefere a versão original do que a que entrou no disco. Portanto, essa é a hora de matar sua curiosidade. Além disso, o encarte traz o músico comentando um pouco as canções do CD, o que sempre acaba sendo divertido. Ou seja, quem não morre de amores pelo músico e já tem a edição de 2009, está tudo ok. Mas para quem é muito fã de Ace, esse CD acaba sendo um complemento bacana. E quem não pegou na época, bem… Essa é a hora de corrigir o erro.

Nota: 8,5 / 10,0
Faixas:
01) Foxy & Free
02) Outter Space
03) Pain In The Neck
04) Fox On The Run
05) Genghis Khan
06) Too Many Faces
07) Change The World
08) Space Bear (Extended)
09) A Little Below The Angels
10) Sister
11) It´s a Great Life
12) Fractured Quantum
13) Hard For Me
14) Pain In The Neck (Slower Version)
15) The Return Of Space Bear