terça-feira, 9 de setembro de 2014

Umdabahia – Umdabahia (1995)




Por Davi Pascale

Quem me conhece bem, sabe do meu costume de colecionar LP´s e CD´s. Desde que me conheço por gente. E sempre que gosto de um artista, procuro ir atrás de sua obra. Não apenas de seus discos de carreira, mas de sua história musical de maneira geral. Descobrir de onde veio, quais foram seus grupos anteriores, onde foram lançados seus primeiros registros, músicas inéditas lançadas em trilhas, álbuns que gravou com outro nome, etc. Eu sei, é quase um vício, mas é divertido, fala aí... E essas pesquisas, às vezes, nos levam a resultados bem curiosos. Muitas coletâneas são uma compilação de sucessos radiofônicos, mas algumas vezes trazem versões alternativas (como radio edit e remixes) e, por vezes, até material inédito de nossos ídolos. É isso que torna interessante a aquisição de discos como Rock Voador, Rock Grande do Sul e esse Umdabahia.

Calma. Não estou falando sobre axé. Estou falando sobre rock mesmo.  Sobre rock baiano. Esse CD é um registro da cena independente que rolava na Bahia na década de 90. Para ser mais preciso, o álbum foi lançado em 1995. E o legal é que vários músicos daqui alcançaram o estrelato alguns anos depois. É muito interessante notar a diferença do que eram e o que se tornaram. Não em um sentido pejorativo. No sentido de amadurecimento mesmo. Aqui tudo era meio inocente, meio torto. Interessante notar essas pessoas envolvidas em projetos profissionais anos depois. Além de ser curioso abrir o encarte e ler “Essas bandas foram selecionadas para o 5º Garage Rock Festival Pro Audio 96” e notar o telefone dos músicos nos encartes, como número de contatos para shows. É, meus amigos, todo mundo começa da mesma forma...

Disco traz gravação rara do falecido guitarrista Peu Souza...

A primeira banda é Dois Sapos e Meio. Os rapazes fazia um rock alternativo, com levadas funkeadas e influência do hip hop. Com letra falando de sacanagem e maconha, ao mesmo tempo, é impossível não nos lembrarmos dos Raimundos. Quem viveu a época, sabe o impacto que esses caras causaram na molecada.  O guitarrista deles era o saudoso Peu Souza que chegou a se apresentar com Pin Ups, Marcelo D2, Baby do Brasil e a cantora Pitty. Aliás, é justamente a moça quem dá as caras na sequência.

Para quem é fã da Pitty, esse CD é essencial, afinal temos aqui 2 faixas do Inkoma. E nenhuma delas entrou no EP Influir. Só se encontra aqui mesmo.  Os mais fanáticos certamente já ouviram essas canções na internet – “Mundo Imperfeito” e “Pirigulino Babilake” -  mas colecionador não se contenta com download, certo? Para quem não conhece o grupo, a sonoridade era bem diferente da atual. As letras eram críticas político-sociais e o som era calcado no hardcore. O que será que ela fez para não ganhar a fama de traidora do movimento? Vindo de um cenário tão conservador quanto esse, é quase um milagre que tenha passado ilesa.

... apresenta duas faixas inéditas do Inkoma, com Pitty nos vocais...

E 'o incrivel mundo de Pitty' ainda não acabou. O baterista Duda dá as caras na sequencia com a banda Lisergia. Grupo que faz um rap metal para ninguém botar defeito. Foi quem mais me chamou atenção nesse CD. Os músicos eram bons e a ideia de fundir esse som com levadas de ritmos nordestinos como fizeram na faixa “Colé Merma” era genial. Depois do fraquinho grupo Injuria, o álbum volta a ficar interessante com Dinky-Dau com uma sonoridade que me lembrou bastante Titãs anos 80. O baterista deles é o Ricardo Cury do Brincando de Deus, figurinha carimbada na cena baiana.

A parte final fica com Penelope Charmosa. Exatamente! O grupo de Erika Martins. Da formação clássica apenas ela, Constanza e o baterista Mario Jorge (que gravou o LP do cultuado Uteros em Furia, Wombs In Rage). “ Harold” foi regravada depois em Mi Casa Su Casa, enquanto “Not That Stupid Habit” se tornou “Não Vou Ser Má” em Buganvilia. Aqui temos as primeiras versões. Com letras e arranjos diferentes. Esses são alguns dos pouquissimos registros que existem delas com o nome original, antes de encurtarem para Penelope.O CD termina com uma faixa do grupo Filhos de Creuza. Honestamente? Musica dispensável.

... além de trazer gravações do grupo de Erika Martins, ainda com o nome de Penelope Charmosa

Para quem gosta de conhecer um pouquinho da história do rock brasileiro é um CD bem interessante. Afinal, como deixei claro, aqui estava o embrião de vários músicos renomados. Claro que não dá para comparar com seus projetos atuais, que são muito mais profissionais, mas não deixa de ser uma audição divertida. É bacana ver esse pessoal em gravações sem recursos, tocando com garra, com aquele sentimento de esperança. E, vejam só, não é que alguns conseguiram? A prova de que vale a pena correr atrás dos seus sonhos. Fica a dica aos colecionadores de plantão...

Nota: 7,0 / 10,0
Status: Curioso

Faixas:

01) Dois Sapos e Meio - Segura Meu Caralho
02) Dois Sapos e Meio - Palco de Asfalto
03) Inkoma - Mundo Imperfeito
04) Inkoma - Pirigulino Babilake
05) Lisergia - Personalinstinto
06) Lisergia - Colé Merma
07) Injuria - Situação Vigente
08) Injuria - Donos do Poder
09) Dinky-Dau - Em Direção
10) Dinky-Dau - O Rastro
11) Penélope Charmosa - Harold
12) Penélope Charmosa - Not That Stupid (A Baga)
13) Filhos de Creuza - Larga o Fumo