Por Davi Pascale
Ana Cañas durante muito tempo foi
vendida como uma artista de MPB. A primeira vez que ouvi falar dela foi
totalmente por acaso. Tinha ido assistir uma apresentação do músico George
Israel (Kid Abelha) no Club A em São Paulo e lembro que ela cantou algumas
músicas no dia. Com boa presença de palco e ótimo domínio vocal, a moça
encantou os presentes.
Recentemente, assisti novamente
Ana ao vivo. Dessa vez, em um show no Sesc Santo André. Um show só seu, focando
sua nova fase. Mais uma vez, o público saiu encantado. Cheia de atitude,
irreverente, com garra, voz incrivelmente forte, mostrou em primeira mão o
repertório de seu até então recém-lançado Tô
Na Vida. Na época, escrevi sobre o show. Agora que o disco está retornando
ao mercado no formato de vinil, resolvi escrever sobre o disco.
Em seu quinto álbum, a cantora
foca no rock. O som não é tão pesado quanto seu show. Se nas suas
apresentações, a guitarra distorcida de Lucio Maia chama a atenção junto com
seu vocal rasgado, aqui as distorções são bem mais sutis e em muitos momentos
temos o violão falando mais alto do que tudo. Traz uma sonoridade mais clean.
Seu trabalho vocal também é mais tranquilo, mais suave.
Algumas mudanças marcam esse
trabalho. Primeiro de tudo, o lado interprete ficou para trás. Ana Cañas assina
sozinha 9 das 14 faixas do disco. As outras são parcerias com Arnaldo Antunes,
Dadi e Pedro Luis. Com isso, o disco ganhou uma unidade maior. Eu
particularmente sempre gostei de seus discos. Sempre fez um trabalho com
qualidade lá em cima. Mas em seus primeiros discos, atirava para diferentes
territórios. Você poderia encontrar um rock e um jazz no mesmo trabalho. Isso
não acontece aqui. A sonoridade pop/rock segue por todo o álbum.
A influência da MPB permanece.
Isso não é ruim e nem faz com que seu rock seja questionável. Apenas, mais
brasileiro. Existem algumas artistas que são difíceis de rotular. Se você
chamar de rock, estará certo. Se chamar de pop, estará certo. Se chamar de MPB,
também estará certo. Rita Lee é um grande exemplo disso, Marina Lima é outro
exemplo, Cássia Eller era outro. A moça vai por esse caminho...
Baladas pop/rock marcam novo disco da cantora |
Tô Na Vida é um álbum que tem bastante personalidade. O que acaba
sendo incrível em um registro que inaugura uma nova etapa de sua carreira.
Normalmente, os artistas demoram 2 ou 3 discos para definirem seu som.
“Existe” começa o disco de maneira
forte com um bom refrão e um ótimo solo hendrixiano. “Tô Na Vida” conta com uma
forte influência soul e gruda na memória por dias. “Hoje Nunca Mais” é uma
balada que poderia estar presente em Volta.
A faixa seguinte “O Som do Osso” já traz uma pegada mais rock n roll, com as
guitarras crescendo no refrão. “Indivisível” mantém a pegada roqueira, ao mesmo
tempo em que inova ao trazer um vocal declamado nos versos. “Coisa Deus” mantém
o nível lá em cima com uma pegada electro-acústico e influência flamenca.
Depois da balada “Bandido”, a
cantora volta a empolgar em “Feita de Fim”. Aqui traz a cantora mais solta,
acompanhada de uma boa linha de baixo. Em “Um Dois Um Só” reduz, mais uma vez a
pegada, em uma balada climática que poderia facilmente estar bombando na trilha
de alguma novela Brasil afora. A artista mantém o clima mais relax na bonita “Amor
e a Dor” para depois explodir no rock “Mulher”. Versos como “sou preta, sou
branca, sagrada profana, sou puta, sou santa, mulher” e “sou gata de rua, noite
na lua, fico na sua, nua” deixa escancarada a influência de Rita Lee em seu
trabalho. O álbum segue forte com a ótima “Pra Machucar” e encerra com “Madrugada
Quer Você”, mais uma vez chamando a atenção com um mais um ótimo solo de Lucio
Maia. O CD ainda conta com o bônus de “O Amor Venceu”, uma balada com uma
pegada folk que nos remete aos seus trabalhos iniciais.
Na imagem de capa, a bonita
cantora está nua, pensativa. Reflete bem o disco. Desnuda, livre de amarras,
começando um novo momento. Como disse anteriormente, a sonoridade do disco não
é pesada, tem um q comercial, mas conta com várias faixas extremamente bem
resolvidas. Para quem curte um som mais clean, o disco é uma ótima pedida.
Nota: 8,0 / 10,0
Status: Bem definido
Faixas:
01)
Existe
02)
Tô Na Vida
03)
Hoje Nunca Mais
04)
O Som Do Osso
05)
Indivisível
06)
Coisa Deus
07)
Bandido
08)
Feita De Fim
09)
Um Dois Um Só
10)
Amor E Dor
11)
Mulher
12)
Pra Machucar
13)
Madrugada Quer Você
14) O Amor Venceu (Bonus CD)
14) O Amor Venceu (Bonus CD)
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