quarta-feira, 29 de abril de 2015

Quase Famosos (2000):



Por Davi Pascale

Estou de volta com mais uma dica cinematográfica. Há aproximadamente 15 anos chegava aos cinemas, esse que muitos consideram um dos melhores filmes sobre rock. Misturando fatos reais com histórias inventadas, a película se passa nos anos 70, resgatando um pouco da cultura da época.

Quase Famosos é uma história ficcional, mas nem tanto. O diretor Russel Crowe baseou-se na sua própria história para escrever o roteiro do filme. Nascido em Palm Springs (California), Crowe iniciou sua carreira como jornalista, chegando a escrever para revistas musicais super respeitadas como Cream Magazine e Rolling Stone. Durante sua trajetória, chegou a entrevistar artistas icônicos como Bob Dylan, David Bowie, Neil Young, Eric Clapton, Santana, Led Zeppelin, Allman Brothers, entre outros. O grupo de Gregg Allman, na real, foi sua primeira capa na Rolling Stone.

A história gira em torno de William Miller, um jovem apaixonado por rock, criado por uma mãe super-protetora, que se lança no universo do jornalismo musical. William encontrou significado em sua vida fuçando a coleção de discos de sua irmã que havia saído de casa. Foi ali que descobriu seus heróis. No longa, tem uma cena marcante, onde recebe uma dica do respeitado Lester Bangs, assim que começa dar as caras para bater com seus textos: “seja honesto e impiedoso”. Crowe realmente teve contanto com Bangs enquanto trabalhava como critico. Na época em que escrevia para a Cream, Lester Bangs era o editor da publicação.

Kate Hudson no papel de Penny Lane

O filme ganha fôlego quando o garoto consegue uma entrevista com um grupo em ascensão, Stillwater. O garoto passa a excursionar ao lado dos músicos e ali passa por uma nova transformação. É o momento onde perde a inocência e passa a ver o lado negro da coisa. Bebida e droga por todo lado. Briga por egos. Músicos fazendo tipo e dizendo coisas sem pé, nem cabeça. Garotas passando em mãos de diferentes músicos, de diferentes bandas. Músicos disputando para ver quem iria dormir com tal groupie, etc. Há uma cena onde uma garota é trocada por uma lata de cerveja e 50 dólares. Podem acreditar, essas coisas acontecem nos bastidores.

Miller consegue vender a matéria para a Rolling Stone, que promete capa aos rapazes. Quando ficam sabendo da noticia, transformam o menino um herói. Ao ficarem sabendo do conteúdo, contudo, negam tudo, colocando o garoto, que havia dito nada mais do que a verdade, em maus lençóis. E daí ele ganha mais um aprendizado: muito se aproximam por interesse e mantém uma amizade enquanto aquilo for interessante para eles. Infelizmente, não se pode confiar em todos. O garoto que era fã dos caras, volta pra casa desiludido.

Na película, há várias referências. Penny Lane (Kate Hudson), groupie por quem o garoto se apaixona, é o nome de uma canção dos Beatles. É também o nome de uma rua de Liverpool. A banda Stillwater do filme é ficcional. Entretanto, existiu um grupo nos anos 70 com esse mesmo nome. Uma banda de southern rock que durou não mais do que 2 ou 3 discos. As canções que vocês ouvem no filme, entretanto, foram compostas por Peter Frampton e Nancy Wilson (esposa de Crowe e guitarrista do Heart). Como curiosidade, vale lembrar que Mike McReady, guitarrista do Pearl Jam, foi o responsável pela gravação de boa parte das guitarras e que Frampton também serviu como consultor para o roteiro da película. Para quem não sabe, o rapaz é um guitarrista famoso e nos anos 70 (período em que se passa a história) fez parte do icônico Humble Pie.

Stillwater: grupo criado para o filme

E não para por aí. Quem assiste ao longa, sempre comenta de duas cenas em especial. Uma de quando o guitarrista Russell Hammond sobe no telhado de uma casa, chapado de LSD, e sai gritando: “Eu sou um Deus dourado”. E, outra, quando a banda está em uma viagem de avião. E durante uma forte turbulência, todos começam a revelar seus podres acreditando que o avião vai cair. Essas histórias foram inspiradas em Robert Plant (cantor do Led Zeppelin) e The Who, respectivamente. Plant fez aquele papelão no topo de um hotel em Los Angeles. O quase acidente com o The Who, ocorreu durante uma excursão nos EUA, na qual Crowe estava junto para escrever uma matéria.

Apesar do que pode parecer, o filme não é forte, nem chocante. Pelo contrario, é um filme bem leve e gostoso de assistir que chega a render algumas risadas, inclusive. Lançado no Brasil em DVD e blu-ray é bem fácil de ser encontrado por aí. Recomendadíssimo!  

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