Por Rafael Menegueti
Os integrantes do Black Veil Brides |
Eu não estive no Monsters of Rock neste sábado (25/04).
Acompanhei apenas as notícias que saíram nas redes sociais e sites a respeito
do que rolou. Mas uma coisa que eu já sabia que aconteceria a muito tempo, na
mesma época que o line-up do festival foi anunciado era: Black Veil Brides
seria vaiado. Era mais do que óbvio, pois é uma tradição do público de rock e
metal, especialmente no Brasil.
A banda tinha uma tarefa difícil: tocar para um publico que
aguardava Motörhead (que viria a ser cancelado por problemas de saúde de Lemmy),
Judas Priest e Ozzy Osbourne, três dinossauros do metal, sendo eles uma das
bandas da nova safra, e bem diferentes em sua proposta. Claro que os
headbangers não estavam nem aí pra isso. Um dos grandes problemas desse público
é viver de um passado que não volta mais, e simplesmente ignorar a evolução que
o estilo sofreu ao longo dos anos.
Deixo claro uma coisa: Eu não gosto de Black Veil Brides.
Acho eles uma banda sem graça, com músicas fracas, um visual e atitudes forçadas
e com uma exposição exagerada na mídia especializada. Até são bons músicos (o
vocalista tem um ótimo timbre grave, por exemplo), mas o som não me desce. No
entanto, se estivesse em um festival, JAMAIS os vaiaria. Isso porque eu tenho
algo que falta em muitos headbangers hoje em dia, o respeito. Não só pelo
artista, mas pelos outros fãs.
Segundo algumas reportagens, o vocalista da banda
norte-americana, Andy Biersack, teria se incomodado com as vaias e os gritos de
“Motörhead” vindos da plateia. Ele chegou a se desculpar e abandonar o palco
junto da banda por alguns minutos, segundo o site da “Rolling Stone”, e quando
voltaram, já não exibiam mais o mesmo animo do início da apresentação. Mas ele
não deveria ter que se desculpar. Por mais frustrante que possa ser, não é
culpa da banda ter sido escalada para um festival junto de tantas atrações que quase nada tem a ver com eles. A banda está ali fazendo o seu papel, e o mínimo de
respeito por isso deveria existir (talvez quem devesse ser vaiado fosse a organização, pela longa e demorada fila que os fãs relataram ter que atravessar para entrar, mas isso não vem ao caso agora).
Andy Biersack durante o show. Foto: Gustavo Vara (Rolling Stone) |
Eles vieram ao Brasil para tocar para seu público, em um
grande festival, um passo importante para uma banda de trajetória mais recente.
Estando eles no line-up do festival, qualquer pessoa mais civilizada deveria simplesmente
aguardar a passagem da banda pelo palco. Imagine-se na posição dos fãs do
grupo, querendo ver a banda que gostam e tendo de aguentar hostilidades,
xingamentos e falta de respeito ininterruptas, estragando assim um momento que
deveria ser lembrado como algo feliz. Se não gostam de uma banda, qual é o
problema de ficar por 45 minutos esperando civilizadamente o show terminar? O
show da banda que você gosta vai acontecer logo mais, e será a sua vez de se
divertir. Por que ser egoísta desse modo e estragar a diversão dos outros?
E não venham me dizer que essa atitude não é exclusividade
do Brasil. Dane-se isso. Não é porque o vizinho joga lixo no quintal que você vai
achar correto fazer o mesmo, certo? O Black Veil Brides, assim como outras
bandas também já foram vaiadas em outros eventos lá fora, mas o brasileiro faz
isso de modo ainda mais desrespeitoso, isso é fato. Quando estive conversando
com um colega que já viu festivais na Europa ele foi bem claro dizendo que o
público lá raramente vaia, e, na maioria das vezes, se o faz é porque reprovou
alguma atitude da banda. No geral, se uma banda toca em um festival onde a
maioria dos presentes não são seus fãs, a maioria acompanha o show calada, sem ofender
os artistas no palco nem seus fãs, porque sabem que sua vez de ver uma banda
que gosta virá mais tarde.
Enquanto ficarmos fazendo esse papel estúpido de ódio e intolerância
com tudo que não vai de acordo com nossos gostos pessoais, impossível a cena ir
pra frente. São atitudes como essa que aos poucos enfraquecem a cena. Basta
entender que tem espaço pra todas as bandas, de todos os estilos, propostas e
vertentes, atuais ou não. O fato de um grupo mais novo e diferente estar fazendo
sucesso não vai fazer com que a banda que você gosta ou defende perca espaço.
Eu sempre digo que música não é competição. Sejamos mais coerentes nas próximas
oportunidades e vamos mostrar para todas as bandas a fama positiva que o
público brasileiro sempre teve com as bandas internacionais: de sermos
calorosos e apaixonados. E que o respeito passe a ser outra característica positiva
dos fãs de metal, não só aqui, mas em todo lugar. Do contrario, quem realmente
merecerão as vaias seremos nós.
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