Por Davi Pascale
Essa semana foi uma semana negra
para os amantes do rock n´roll. Perdemos recentemente Keith Emerson. O
tecladista do Emerson Lake & Palmer, influência direta para 10 entre 10
tecladistas, foi encontrado morto em sua casa. Ao que tudo indica ele se matou
com um tiro na cabeça por conta de uma forte depressão. O músico estaria
abalado por conta de uma doença degenerativa na mão direita, que o impedia de
fazer milhares de coisas. Inclusive, de tocar teclado. Mas a morte que mais me
entristeceu foi a de George Martin. O lendário produtor dos Beatles.
Quando chegou a notícia, ninguém
acreditou. Tudo bem, o rapaz já tinha uma idade avançada. O fato é que apenas 2
dias antes, havia sido vítima de uma trollagem na internet, justamente
brincando com sua morte. O que o obrigou a fazer uma declaração dizendo estar
vivo. Quando recebemos a notícia, acreditamos que era uma repercussão do tal
boato.
Nunca entendi esse povo que fica
matando gente na internet antes do tempo. Além de ser uma brincadeira de
péssimo gosto, pode levar os familiares ao desespero. Certa vez, assisti uma
entrevista do cantor porto-riquenho Ricky Martin dizendo que acordou de
madrugada com um telefonema de seu irmão, pedindo para que o mesmo ligasse para
sua mãe o quanto antes, pois ela havia recebido uma noticia de que ele havia
morrido em um acidente de carro e não parava de chorar. O autor da brincadeira
divulgou, inclusive, um falso vídeo da tal batida apontando que o motorista era
o cantor. Incrível como esse pessoal tem tempo livre... Todos só passaram a
acreditar na morte de George Martin quando Ringo Starr, baterista dos Beatles,
publicou uma homenagem ao produtor em seu twitter.
George Martin não foi um produtor
qualquer. Pelo contrário, é considerado um dos grandes produtores do rock. Não
apenas por ter trabalhado com os Beatles, mas principalmente por tudo o que fez
pelos Beatles. Era considerado, e não era nenhum exagero, o quinto beatle.
Claro, os músicos eram fantásticos. A banda era mágica, mas sem suas mãos
acredito que teriam trilhado um caminho diferente.
Martin teve diversas sacadas à
frente de seu tempo. Muitas sacadas que revolucionaram não apenas a música dos Beatles.
Mas a música pop em geral. Ele brincava com a velocidade das fitas de gravação.
Na canção “Rain”, por exemplo, para criar aquela sonoridade meio psicodélica,
ele gravou o instrumental em uma velocidade, a voz de John em outra e brincou
com as duas fitas na mixagem. Nessa mesma música, explora outra de suas
técnicas. Gravar com efeito reverso. Efeito que utilizou diversas vezes. Não
apenas nos vocais, mas também no instrumental dos Beatles. A guitarra de “I´m
Only Sleeping”, o chimbal de “Strawberry Fields Forever”. Foi tudo gravado com
essa técnica.
George Martin também já brincava
com colagem para corrigir trechos, décadas antes da criação do Pro Tools. Em “Strawberry
Fields Forever”, John Lennon queria misturar dois takes que estavam em
velocidades e tonalidades diferentes. Martin conseguiu isso. Alterou a
velocidade das duas fitas e fez uma colagem. Foi ele que trouxe à influência de
música clássica à música dos quatro rapazes de Liverpool. As orquestrações de “Yesterday”
e “Eleanor Rigby” são ideias dele. Sem contar o lado B do LP Yellow Submarine.
É incrível como ele brincava com
os poucos recursos da época. Atualmente, existem mesas de som com 64 canais
digitais. O rapaz gravou o Please Please
Me com uma mesa de 2 canais analógicos. O mais impressionante, contudo, foi
a gravação de Sgt Peppers Lonely Hearts
Club Band. Onde gravou uma infinidade de instrumentos, efeitos e
vocalizações com uma mesa de 4 canais. Se você pegar um produtor atual, um
técnico de gravação atual e pedir para repetir o feito, muito provavelmente
irão te entregar um disco com sonoridade abafada, sem brilho. Até hoje, esses
discos soam mágicos, quando colocamos o LP para rodar.
Sua carreira não ficou restrita
aos Beatles. Ao todo, produziu mais de 700 discos. Sting, Cilla Black, Elton John, Cheap Trick,
Jeff Beck, America, Paul McCartney, Celine Dion... Todos eles tiveram a
mão de George Martin em algum momento de sua carreira. Podemos dizer, sem medo
de errar, que dificilmente teremos outro produtor com a criatividade e o
profissionalismo dele algum dia. A música já sente sua falta...
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