quarta-feira, 30 de setembro de 2015

David Gilmour – Rattle That Lock (2015):



Por Davi Pascale

Guitarrista do Pink Floyd lança seu quarto disco solo. Álbum é sólido, traz poucas surpresas, e deve agradar seus tão fiéis admiradores.

Prestes a fazer sua primeira turnê pelo Brasil, músico lança seu primeiro trabalho de inéditas desde On An Island. Não parece, mas já se passaram quase dez anos que seu trabalho anterior chegou às lojas. A essência continua a mesma. De novidade, apenas uma influencia jazzística aqui e ali, mas nada capaz de descaracterizar seu trabalho.

Sim, esse é um trabalho solo de um guitarrista, mas não espere nada pesado, nem virtuose. Quem conhece sua obra, sabe que ele é justamente o oposto dessa idéia. Sua guitarra sempre foi dona de uma sonoridade única e o músico sempre se preocupou mais onde colocar cada nota do que quantas notas colocar. Os arranjos continuam calmos, viajantes, do jeito que seus fãs gostam.

Polly Samson, esposa de Gilmour, aparece mais uma vez como letrista. A moça que havia feito sua estréia em The Division Bell, afirmou em algumas entrevistas que seu marido a deixou mais à vontade dessa vez do que nas demais, não ficou tanto no controle sobre o que retratar. Quem faz sua estréia aqui é Gabriel Gilmour. Exatamente, seu filho é o responsável pelo piano da jazzística “The Girl In The Yellow Dress”, talvez a que mais se distancie de sua obra. A canção tem um ar meio Diana Krall, não é exatamente o que esperamos de David Gilmour, mas a faixa é bonita.

Esposa do cantor ataca novamente como letrista

Muitos não gostam que os artistas se aventurem pouco em termos de ousadia. Portanto, não estranhe se muitos críticos começarem a malhar o disco por aí. Acho muito difícil criticar um artista por esse prisma. Cada caso é um caso. Mais importante do que ficar inventando moda, acredito que seja entregar um trabalho honesto e de qualidade. E é exatamente isso o que temos aqui.

“Today” e “Rattle That Lock” são donas dos momentos mais pops do disco, mas não se preocupem. Não há nada de modernidade, nem de pasteurizações. É aquele pop pinkfloydiano oitentista que seus fãs tanto gostam. O disco se inicia e se encerra com uma faixa instrumental. Tanto em “5 AM”, quanto em “And Then...”, Gilmour demonstra uma sensibilidade fora do comum em seus solos justificando a babação de ovo em cima dele nas últimas décadas.

David Gilmour disse que esse álbum é mais variado que os demais. Realmente, existem influencias diversas no disco, mas estão na costura das canções. Você não vai encontrar uma canção folk, uma prog, uma pop, uma jazz, mas certamente irá encontrar todos esses elementos espalhados nas canções. A única exceção é realmente “The Girl In Yellow Dress”.

Gilmour continua roubando a cena com solos inspirados

Não estranhe se encontrar um ar meio beatle em “Dancing Right In Front of Me”. Além de ter lançado recentemente uma versão para “Here, There And Everywhere” gravada com seu filho Joe, o músico já tocou ao lado de Paul McCartney e revelou que gostaria de ter sido um beatle em algumas entrevistas.

Contando com a co-produção de Phil Manzanera (Roxy Music), Gilmour mistura gravações caseiras (o piano foi gravado em sua sala há 18 anos) com gravações realizadas em estúdios profissionais e entrega aos seus fãs aquilo que esperavam. Contando com participações sutis de grandes nomes como David Croby, Graham Nash e até mesmo do falecido Richard Wright, o rapaz entrega um trabalho bonito e sólido. Levando em contas que ele levou cinco anos para compor esse disco e seu ultimo trabalho foi lançado há quase dez, arrisco dizer que esse é seu último disco. Se for, encerra a carreira em alto estilo.

Nota: 8,0 / 10,0
Status: Inspirado

Faixas:
      01)   5 Am
      02)   Rattle That Lock
      03)   Faces of Stone
      04)   A Boat Lies Waiting
      05)   Dancing Right In Front of Me
      06)   In Any Tongue
      07)   Beauty
      08)   The Girl In The Yellow Dress
      09)   Today
      10)   And Then…

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Rock In Rio 2015: Minhas considerações sobre o que rolou

Por Rafael Menegueti

Tchau Rock In Rio, até 2017!
Pois bem, acabou mais uma edição do Rock In Rio. Viemos falando sobre isso bastante na última semana, portanto acho que não poderia deixar de falar das minhas impressões sobre o que vi ao final do festival. Eu não assisti a todos os shows, alguns ainda irei ver as gravações, outros não, mas dentro do que vi achei que foi uma ótima edição do festival. Mesmo que alguns roqueiros fiquem chiando por conta das atrações ou por não acharem que determinado artista devia estar aqui ou ali, no geral creio que a experiência desse ano foi bem positiva. Então vamos ao que eu gostaria de destacar:

- No primeiro dia eu vi pouca coisa. Assisti alguns minutos do Dônica, e não gostei. Muito desafinados e um estilo que não me agrada (mas essa segunda parte é questão de gosto pessoal mesmo).

- O show especial de 30 anos do festival foi interessante, mas podia ter nos poupado de Ivan Lins...

- O One Republic é uma boa banda, mas ver o comentário de que teve gente que foi lá só pra ver eles e foi embora antes do Queen me deixou frustrado. Como assim galera?

- O show do Queen + Adam Lambert foi espetacular. É obvio que Freddie Mercury é insubstituível, e Adam não tenta fazer isso. Ele conseguiu colocar seu próprio estilo nas canções respeitando o legado de Freddie de maneira excelente. E para quem ainda acha que é errado ou que não é a mesma coisa, saiba que realmente não é pra ser. É exatamente por isso que o show é chamado “Queen + Adam Lambert” e não apenas Queen, para que não façam comparações tolas ou pensem se tratar de uma continuação da banda.

- O Noturnall me decepcionou. Os vocais do Thiago Bianchi estavam muito ruins, o que foi uma pena pois as músicas são bacanas. A entrada de Michael Kiske e do guitarrista do Adrenaline Mob, Mike Orlando, salvou o show de ser um desastre total.

- Já o Angra conseguiu apagar a má impressão que ficou do show de 2011. Fabio Lione foi excelente e a banda estava muito animada. A participação de Doro Pesch foi curta mas bacana, e o final tocando clássicos do Twisted Sister com Dee Snider foi simplesmente sensacional.

- O Gojira é uma baita banda, mas cheguei a conclusão de que não serve pra um palco principal de Rock In Rio. O estilo death progressivo é muito seletivo pra isso. Uma prova foi o fato de a banda ter se apresentado no pequeno Carioca Club, no show que fizeram em São Paulo nessa passagem pelo país, bem mais modesto do que o Palco Mundo.

- Royal Blood é realmente uma revelação, e superou as expectativas pra um duo ainda sem grande repercussão por aqui.

- Korn fez um show incrível e intenso. É uma banda que é bem legal de ver ao vivo, muito mais do que nos discos, que as vezes podem ficar enjoativos.

- Não assisti ainda o Mötley Crüe (mas pretendo).

- O Metallica fez mais uma vez um grande show. Pode até ser que seja sempre a mesma coisa, mas é uma banda boa demais pra que isso seja um problema. Uma pena os problemas técnicos, mas a banda conseguiu contornar isso rapidamente.

- No terceiro dia os shows de Paralamas do Sucesso, Elton John e Rod Stewart foram excelentes. Seal foi bem, mas um pouco frio.

- No quarto dia, o show do Halestorm demonstrou porque a banda é considerada uma das grandes novidades do rock mundial. O Lamb of God foi animal, o show mais pesado e empolgante dentre as bandas de metal do Palco Sunset. O Deftones foi outra banda que se destacou, podendo inclusive ter feito parte do Palco Mundo.

- O CPM 22 conseguiu se sair bem trazendo um pouco de nostalgia para o público, que se lembrou de sua adolescência acompanhando a banda no Palco Mundo. Eu acho a banda fraquinha, tanto as composições quanto os músicos, mas eles não se comprometeram no instrumental. O grande problema foi a presença de palco fraca e os vocais sempre desafinados de Badauí. Mas o carisma e boa execução no resto acabou ajudando a saírem com um saldo positivo.

- O Hollywood Vampires fez um dos shows mais fantásticos dessa edição. Tudo foi muito perfeito, do repertório ao desempenho dos músicos (nenhuma surpresa se tratando daquele line-up). Ajudou também a fazer o pessoal perceber que não era só a “banda do Johnny Depp”, que alias foi muito bem também, mostrando que ele não é só um ator querendo brincar de ser músico.

- Queens Of The Stone Age fez um show cirúrgico e muito bem executado, como sempre. E o System of a Down comprovou que mereceu ser a banda mais aguardada do festival. O show foi de tirar o folego, com 27 músicas e muita energia.

- O show “Clássicos do Terror” foi uma furada, como eu imaginei. Valeu por algumas canções nostálgicas de temas de filmes famosos, mas foi bem chatinho no demais. E eu ainda estou procurando o tal do “Heavy Metal All Stars” que prometeram...

- Nightwish fez um show excelente. Muita gente achou que eles mereceriam o Palco Mundo, o que poderia até ter ocorrido não fossem as outras atrações tão grandes. Só achei que podiam ter colocado mais algum hit no setlist. A participação de Tony Kakko foi muito bem inserida também.

- Steve Vai deu uma aula de virtuosismo e musicalidade ao lado da orquestra da Camerata Florianópolis. Show perfeito pra qualquer guitarrista que se inspira vendo os grandes gênios da guitarra.

- Gostei muito do De La Tierra, que era uma banda que não havia ouvido ainda. Ótima ideia para representar o metal na América Latina.

- O Mastodon fez um show impecável, e merece os elogios daqueles que afirmam ser uma das maiores bandas da atualidade.

- As doideras do Faith No More foram mais uma vez bem vindas, e o show com os novos hits foi ainda melhor que o do SWU de alguns anos atrás. Nem a queda de Mike Patton na grade diminuiu os ânimos da banda.

- Nada é preciso dizer muito sobre o show do Slipknot. A banda fez um show brutal e mostrou porque é considerada uma das maiores do mundo. Corey Taylor é um frontman perfeito e os músicos sabem tornar um simples show de metal em um grande espetáculo.

- Dos dois últimos dias, a única coisa que vi foi o Brothers of Brazil, dos irmãos Supla e João Suplicy, que achei que fez um show bem bacana e divertido ao lado de Glen Matlock.

- Fica agora a expectativa para o que virá nas próximas edições. 2017 vem logo ali.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Noticias do Rock (Pra Não Ficar Por Fora)

Por Davi Pascale

Ex-integrantes do Megadeth formam novo projeto



Chris Poland, Nick Menza e James Lomenzo resolveram criar um novo projeto juntos. O nome da banda ainda não foi revelado, contudo os músicos já estão trancados dentro do estúdio gravando. Dizem que o som é um cruzamento entre Led Zeppelin e Metallica. Sobre a comparação, Nick Menza afirmou em entrevista à Classic Rock Magazine: “Há um pouco disso, mas diria que está além de tudo que você já escutou. É um conglomerado de estilos. O nosso material será diferente, será pesado, terá nossa cara”. Esse promete!


Lemmy promete novo álbum do Motorhead em dois anos



Quem acompanha as noticias sobre o líder do Motorhead sabe que ele se encontra em um delicadíssimo momento de saúde, mesmo assim o músico parece não ter se entregado. Quando questionado pelo Rock Overdose sobre seus planos futuros, o músico respondeu: “Excursionar. Temos shows agendados até Março, depois vem a temporadas dos festivais. E daqui dois anos teremos um novo álbum”. Atitude exemplar.


Hollywood Vampires ajuda crianças com deficiência auditiva



Antes de subir ao palco para uma das apresentações mais comentados do Rock in Rio, o grupo Hollywood Vampires comprou e doou mais de 200 aparelhos auditivos para crianças e adultos que se encontravam na fila de espera. O ator/guitarrista Johnny Depp e o cantor Alice Cooper compareceram na entrega, brincaram com as crianças e ajudaram a instalar alguns aparelhos. Belíssima atitude!


Candlebox grava novo álbum com crowdfunding



O grupo Candlebox que tomou de assalto à MTV entre 1993 e 1994 com clipes como “Change”, “You” e “Far Behind” anunciou a pré venda de um novo álbum. A pré-venda, contudo, nada mais é do que um sistema de crowdfunding. Os preços das contribuições variam de 39 dólares à 6.000 dólares. Segue o link para quem quiser se aventurar: http://www.pledgemusic.com/projects/candlebox?referrer=facebook_ads 


Axl Rose manda mensagem de agradecimento à Alcione




Não, você não leu errado. Nosso amiguinho megalomaníaco resolveu ter um momento de humildade e enviar uma mensagem, através de sua conta do twitter, à cantora Alcione. A cantora usou uma camiseta com a imagem de seu rosto estampado nos bastidores do ultimo Rock In Rio, onde ela participou do show em homenagem ao Rio, e a imagem caiu na internet. E eis que Axl escreve: “Feliz de ver sua foto. Muito honrado. Bom saber que você está ótima”. Os dois haviam se conhecido no Aeroporto em 2014. 

domingo, 27 de setembro de 2015

NX Zero – Norte (2015):



Por Davi Pascale

Grupo NX Zero lança novo álbum. Em seu oitavo trabalho, banda paulista se renova e entrega trabalho inspirado. Contando com a produção de Rafael Ramos, músicos apontam novo caminho...

O grupo liderado por Di Ferrero sempre esteve rodeado de um ódio que nunca consegui compreender. Simplesmente não vejo nada de errado no que fazem. Influencia de musica pop é algo que existe no rock desde sempre, letras falando sobre amor também. E sempre foram competentes dentro da sua proposta...

De todo modo, a galera do NX Zero deu uma mudada na sua postura. Sim, eles continuam com uma pegada comercial, mas os arranjos estão muito mais elaborados e muito mais maduros. Aquela sonoridade à la Simple Plan simplesmente desapareceu. De outro lado, surgiram influências de Artic Monkeys e Kasabian. Até mesmo as letras estão com uma pegada diferente. Mais maduras e, por vezes, com tom crítico. Em suma, a real é que você não precisa ser um fã do NX para gostar desse disco.

As distorções deram uma diminuída, mas o cuidado com a guitarra aumentou. E ela se torna um dos pontos altos do disco. Mais elaborada e mais trabalhada, demonstra que os músicos andaram dando uma estudada, o que é sempre algo respeitável. Vale citar também a participação de Lulu Santos na slide guitar em “Frações de Amor”. Muito bacana!

Músicos chamam atenção ao explorarem novas sonoridades

As linhas vocais de Di Ferrero não mudaram muito. Oras com uma pegada mais rap, que já havia dado as caras em trabalhos como Sete Chaves e Projeto Paralelo, oras de uma maneira mais melódica, o garoto cumpriu seu papel corretamente.

Algo que acredito que tenha dado uma contribuída para o amadurecimento do grupo é a produção. Desde o EP do ano passado, que os garotos decidiram trocar Rick Bonadio por Rafael Ramos. E a decisão foi acertada. O grupo está nitidamente mais solto, mais livre para explorarem novas sonoridades. Outra sacada legal foi gravar Norte de maneira analógica com os músicos tocando ao vivo dentro do estúdio. A banda deu uma encorpada legal.

De todos os álbuns brasileiros que ouvi esse ano, Norte foi um dos que mais me agradou. Se você não tem problema com uma sonoridade que busca colocar o pé no pop, ouça, mesmo que não goste dos trabalhos anteriores. Não se limitem à ouvir o novo single (“Meu Bem”). A faixa não é ruim, mas não dá dimensão do novo trabalho. Trabalho bem elaborado e com uma audição bem agradável. Recomendo!   

Nota: 8,0 / 10,0
Status: Maduro

Faixas:
      01)   Modo Avião
      02)   Meu Bem
      03)   Mandela
      04)   Fração de Segundo
      05)   Por Amor
      06)   Personal Privê
      07)   Vibe
      08)   Pedra Murano
      09)   Breve Momento 
      10)   Gole de Sorte
      11)   Milianos
      12)   Marcas de Expressão 

sábado, 26 de setembro de 2015

Rock In Rio – 30 Anos Box Brasil (2015):



Por Davi Pascale

Álbum comemorativo de 30 anos de Rock in Rio chega às lojas. Grandes nomes do pop rock brasileiro relembram clássicos brazuca. Material foi lançado em CD, DVD, bluray e Box set.

Falem bem, falem mal, mas Rock in Rio, como já disse por aqui,  é um marco. Grandes nomes da cena brasileira se fortaleceram depois de se apresentarem no festival. Nomes internacionais, como James Taylor, dizem que a apresentação deu um novo significado à sua carreira. Sem contar que foi graças à primeira edição do festival que o mercado para shows internacionais no Brasil se abriu de vez. Portanto, a celebração de 30 anos é mais do que merecida.

Aqui, vários grandes nomes da cena pop/rock brasileira aparecem em gravações exclusivas para o projeto. Na verdade, homenageando seus colegas de profissão, já que não gravaram canções originalmente de seu repertório. Alguns artistas, contudo, resolveram não arriscar muito e gravar faixas que já estavam acostumados. É o caso de Marcelo D2 em “Samba Makossa”. Faixa que já havia registrado ao lado do Charlie Brown Jr no Acustico MTV, além de uma versão para o álbum póstumo CSNZ. Ou ainda o Paralamas do Sucesso, interpretando “Inútil” do Ultraje a Rigor (o trio havia tocado essa canção na sua participação em 1985). Podem não ser canções que liguem à sua imagem imediatamente, mas quem conhece a história dos músicos, já ouviu eles interpretando essas faixas, ao menos, uma vez na vida.

Alguns artistas optaram por fazer uma versão mais fiel, mas vários deles optaram por deixar sua marca registrada na canção. Algo que considero muito bacana. Como é comum nesse tipo de projeto, alguns se saíram muito bem, outros nem tanto. No primeiro volume, Jota Quest se saiu bem em “Decadence Avec Elegance” (Lobão), Frejat também chama a atenção em “Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda” (velha canção de Hyldon que voltou às rádios nos anos 90 com a rapaziada do Kid Abelha). Fernanda Abreu, Suricato e Cidade Negra também se destacaram nas releituras. As decepções ficaram com Baby do Brasil, a eterna Baby Consuelo, com “Semana Que Vem” (Pitty), os Paralamas com “Tempos Modernos” (Lulu Santos) e a interpretação de “Toda Forma de Poder” (Engenheiros do Hawaii) com Legião Urbana (?!?!). Gosto tanto dos artistas que regravaram, quanto das canções escolhidas, mas o resultado final não me convenceu.

Material deixa impresso a força do pop/rock brasileiro

O material é dividido em 2 CDs. 30 anos, 30 canções. 15 releituras em cada volume. Ouvindo o álbum reparamos que a cultura brasileira é mais rica do que imaginamos. Qualquer uma dessas canções que você puxe em cima de um palco, você verá todo o público cantando junto, relembrando de sua juventude. São canções que marcaram o rock brasileiro. Entre as releituras temos hits de diferentes épocas, porém todas com o mesmo frescor. A gravação conta com uma vibe de ao vivo, de descontração. E, acredito que esse deve ter sido mesmo o clima no estúdio. Vários artistas que participam desse projeto são mais do que meros colegas de profissão. 

Para quem conhece a história dos músicos, algumas escolhas são meio óbvias. Não precisa ser um grande fã de Capital para saber da paixão do Dinho pela Legião ou do Skank pela galera do Clube da Esquina (Milton Nascimento fazia parte da histórica reunião). Contudo, não foram eles quem me chamaram mais a atenção aqui. Baby e Paralamas que não haviam me cativado no primeiro volume, se saem bem no segundo disco. Os pontos de destaque, contudo, ficam com a interpretação de Pitty em “A Menina Dança” (Novos Baianos), o blues de Frejat em “Você Me Acende” (Erasmo Carlos) e todo o charme da sempre linda Paula Toller em “Vou Deixar” (Skank).

Ambos os volumes se encerram com uma releitura da versão tema do festival na interpretação de Eduardo Souto Neto. Ficou bem gravado, mas ainda gosto mais da versão do Roupa Nova. Outro detalhe é que a mesma versão nos dois discos. Lembro que na edição passada, várias artistas da cena brasileira se juntaram para regravar a canção com uma pegada mais rock n roll. Varios deles, estão de volta nesse projeto. Poderiam ter encerrado um dos dois álbuns com essa versão para que não ficasse perdida por aí e também para evitar repetição. Contudo, o resultado do álbum é bem legal. Quem curtiu a cena brasileira mainstream de perto nas ultimas décadas tem de tudo para se deliciar com esse projeto.

Nota: 8,0 / 10,0
Status: Divertido

Volume 1:
      01)   Tempo Perdido – Paulo Ricardo
      02)   Samba Makossa – Marcelo D2
      03)   Onde Você Mora? – Fernanda Abreu
      04)   Semana Que Vem – Baby do Brasil  
      05)   Pro Dia Nascer Feliz – Suricato    
      06)   Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda - Frejat  
      07)   Decadence Avec Elegance – Jota Quest  
      08)   Quase Sem Querer – Dinho Ouro Preto  
      09)   Legalize Já – Cidade Negra  
      10)   Andar com Fé – Skank    
      11)   Toda Forma de Poder – Legião Urbana  
      12)   Tempos Modernos – Paralamas do Sucesso  
      13)   Seu Espião – Pato Fu  
      14)   Óculos - Blitz    
      15)   Flores – Ira!  
      16)   Rock In Rio – Eduardo Souto Neto (Faixa Bônus)
  
Volume 2:
      01)   Polícia – Marcelo D2
      02)   Caleidoscópio – Jota Quest
      03)   A Menina Dança – Pitty
      04)   Geração Coca-Cola – Dinho Ouro Preto
      05)   Você Me Acende – Frejat
      06)   Palco – Fernanda Abreu
      07)   Para Lennon e McCartney – Skank
      08)   Do Seu Lado – Achados no Espaço
      09)   Agora Só Falta Você – Baby do Brasil
      10)   Veraneio Vascaína – Ira!
      11)   Fazendo Música, Jogando Bola – Cidade Negra
      12)   Inútil – Paralamas do Sucesso
      13)   Três Lados – Pato Fu
      14)   Vou Deixar – Paula Toller
      15)   Por Você – Legião Urbana
      16)   Rock In Rio – Eduardo Souto Neto (Faixa Bônus)   

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Rock In Rio: O que esperar dos shows de hoje (25/09)

Por Rafael Menegueti

Hoje tem mais um dia de Rock In Rio, o último voltado mesmo ao rock, já que o fim de semana terá apenas atrações de pop. Por isso esse será o último dia do qual adiantarei algo. Depois só volto falando o que achei do que pude acompanhar pela TV, já que não pude ir ao evento como o Davi fez no último sábado. Hoje é mais um dia voltado ao som mais pesado, com muita coisa legal, e algumas que ainda me parecem grandes incógnitas. Olha aí:

Especial Clássicos do Terror

O show que irá iniciar o Palco Sunset, às 15h15, pra mim é um grande ponto de interrogação. A descrição da atração diz que irão se reunir no palco André Abujamra, André Morais, Constantine Maroulis (aquele do Rock of Ages) e o Heavy Metal All Stars (nem sei ao certo quais artistas são, já que ninguém falou nada a respeito e não achei a escalação em canto nenhum) tocando temas clássicos de filmes de terror e clássicos do metal. Tem tudo pra ser roubada.

Moonspell + Derrick Green

Os góticos do Moonspell
A banda portuguesa de gothic metal que tem mais de 20 anos de carreira, e lançou esse ano seu decimo primeiro disco, vem com sua proposta sombria a partir das 16h30. Eles terão a participação especial do vocalista do Sepultura, Derrick Green, e isso deve trazer um pouco mais de interesse, já que a banda não é assim tão conhecida por aqui.

Nightwish + Tony Kakko

Nightwish e o vocalista Tony Kakko, do Sonata Arctica
A banda está em turnê de seu novo álbum, o primeiro com Floor Jansen nos vocais. Nightwish sempre leva uma legião de fãs por onde vai, e não deve ser diferente dessa vez, como grande representante do metal sinfônico. Acompanhados do vocalista do Sonata Arctica, Tony Kakko, a banda deve mesclar faixas novas com algumas das suas canções clássicas. Pela atual forma do grupo e da sua carreira, esse show deve ser um dos destaques do Palco Sunset.

Steve Vai + Camerata Florianópolis

Um dos grandes “guitar heroes” do mundo, Steve Vai é daqueles que empolga qualquer roqueiro apaixonado pela técnica e emoção do principal instrumento do gênero. Nesse show ele estará acompanhado por uma orquestra catarinense, o que deve dar ainda mais empolgação a apresentação. Será a ultima do Palco Sunset no dia, começando às 20h.

De La Tierra

Esse é um supergrupo formado por músicos da América Latina, entre eles Andreas Kisser (em mais uma aparição nesse Rock In Rio), o mexicano Alex Gonzalez, do Maná, e dois músicos argentinos, Sr. Flávio (Los Fabulosos Cadillacs) e Andrés Gimenez (A.N.I.M.A.L.). A banda, que lançou seu primeiro disco ano passado, já havia tocado no Monsters of Rock esse ano e agora abre o Palco Mundo no Rock In Rio, às 19h.

Mastodon

Os membros do Mastodon
Uma das bandas mais aclamadas do metal moderno, o Mastodon encanta com seu ótimo som e também pela simpatia. A grande mistura de influencias dentro do heavy metal, como groove metal, stoner e rock progressivo tornam a experiência de ver esses caras ao vivo muito convidativa. O quarteto lançou um ótimo disco ano passado, o sexto de sua carreira, pelo qual a banda deve basear seu setlist essa noite, quando sobe ao palco por volta das 21h.

Faith No More

Faith No More promete ser outro grande show
A sempre excelente banda da Califórnia volta ao Brasil para mais um show em festival. Depois de um bom tempo parados, e do retorno aos palcos em 2009, essa será a primeira vez que eles vem aqui com um novo disco lançado desde então, o empolgante “Sol Invuctus”, lançado esse ano. Conferir algumas dessas músicas novas e os clássicos já são motivações suficientes para acompanhar o intenso e agitado show dos caras. Começa às 22h30.

Slipknot

Slipknot encerra a parte "rock" do festival
Um dos maiores nomes do metal na atualidade (goste você ou não), o Slipknot está numa situação parecida com a do Faith No More. Voltam ao Brasil depois de terem vindo outras vezes, mas dessa vez com álbum novo também, o primeiro sem o baterista Joey Jordison e o baixista Paul Grey, falecido em 2010. Mas a energia e intensidade no peso de suas canções seguem firmes, assim como a língua sempre afiada do vocalista Corey Taylor. Certeza de mais um show memorável, começando à 00h15.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Rock In Rio: O que esperar dos shows de hoje (24/09)

Por Rafael Menegueti

No último sábado adiantei por aqui o que iria rolar na primeira noite voltada ao metal no Rock In Rio. O festival segue agora nessa semana com mais dois dias voltados ao rock, e por isso farei o mesmo hoje e amanhã. Hoje o dia será bem variado, com atrações pra todos os gostos, olha aí:

Project46 + John Wayne

Duas excelentes bandas paulistas de metalcore (sim, John Wayne é o nome da banda mesmo), ambas novas (apenas dois discos lançados por cada uma), e que fazem um som atual e engajado. O metal underground brasileiro iniciará o quarto dia de festival com expectativa de muito peso e fúria. Vai ser bacana pra galera mais nova, que é o publico principal dessas bandas, já que o publico mais das antigas não entende muito bem esse estilo. Pro horário do show, 15h15, parece mais do que justo.

Halestorm

Halestorm faz sua segunda passagem pelo Brasil
Uma das melhores bandas da nova leva do rock norte-americano, o Halestorm tem tudo pra ser um dos melhores shows do Palco Sunset nessa edição. A banda lançou um excelente disco esse ano, e a maturidade das músicas novas, aliada a pegada intensa de seus hits e a energia da banda no palco, são ingredientes certos para a banda liderada por Lzzy Hale fazer bonito a partir das 16h30.

Lamb of God

Lamb of God deve fazer um dos shows mais pesados do dia
Mais um grande nome da new wave of american heavy metal, o Lamb of God recém lançou disco novo. A banda já é bem consolidada e faz shows bem competentes. Muita gente deve ir a Cidade do Rock pra vê-los, com os vocais rasgados de Randy Blythe e os riffs de guitarra viscerais que são marcas registradas da banda. Fiquem ligados a partir das 18h.

Deftones

O Deftones é uma das bandas mais aclamadas da noite
Essa é uma das bandas mais conceituadas do dia. Os caras vão fechar o Palco Sunset a partir das 20h, com sua mistura de progressivo, nu metal e alternativo. A banda do vocalista Chino Moreno tem um disco novo pra sair, provavelmente em novembro, mas sem uma data certa ainda. Será que rola alguma música nova?

CPM 22

A banda paulista será a primeira do Palco Mundo no dia. Preciso dizer que não gosto nem um pouco do som dos caras, mas eles têm muitos fãs e sua escalação no festival é bastante justificável pela carreira que construíram. Só não sei se parece tão certo quando olhamos para as outras atrações que se apresentam depois. Se fosse no meio das bandas do Palco Sunset, mais jovens e atuais, até daria, mas com as do Palco Mundo, não sei não...

Hollywood vampires

O ator Johnny Depp e Alice Cooper são algumas das atrações do Hollywood Vampires
Esse promete ser a grande surpresa do dia. Isso porque o público brasileiro será um dos primeiros a conferir o supergrupo que acaba de lançar seu disco, com uma expectativa de um show memorável, as 21h. Também, uma escalação de nomes como Alice Cooper, Johnny Depp, Joe Perry e os ex-Guns N’ Roses e Velvet Revolver  Duff McKagan e Matt Sorum, tocando clássicos de The Who, Led Zeppelin, The Doors, entre outros, não preciso dizer mais nada né?

Queens of the Stone Age

Eis aqui uma das bandas mais importantes do mundo no rock alternativo. O Queens of the Stone Age sempre faz ótimos shows, mas esteve parada durante todo esse ano, tendo feito apenas um show surpresa no último dia 10, em Los Angeles. O setlist da banda busca trazer sempre faixas de todas as fases da banda, cheio de hits, o que não deve mudar essa noite. O show esta previsto para as 22h30

System of a Down

System of a Down é apontado como um dos grandes nomes do festival
Eles são apontados como a atração mais esperada do festival. A banda já tem muito tempo na estrada e depois de alguns anos parada, voltou à ativa fazendo muitos shows. Os fãs estão muito ansiosos por um novo disco de inéditas, o que finalmente deve rolar em breve. Enquanto isso, os fãs brasileiros poderão curtir mais uma apresentação dos caras, dessa vez como headliners, subindo ao palco as 00h15. O show deve ser longo e agitado, já que a banda americana com integrantes de origem armênia não poupa hits de todos os seus discos, chegando a tocar quase 30 músicas por show!

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Música comentada: Slipknot – Snuff

Por Rafael Menegueti

O Slipknot na época de "All Hope Is Gone"
Essa semana é especial para os fãs de música já que é semana de Rock In Rio. Mesmo que você não vá ao Rio de Janeiro acompanhar, pode ver pela TV, e isso faz com que o festival seja o assunto do momento. Sendo assim, nada mais justo que falar hoje de uma música de um dos headliners dessa edição, os sempre polêmicos mascarados do Slipknot.

Apesar da banda ser conhecida por suas músicas pesadas e pela agressividade e intensidade em suas composições e apresentações, resolvi falar de uma das poucas faixas tranquilas do grupo. “Snuff” é uma balada presente no álbum “All Hope Is Gone”, de 2008. É mais uma das composições bem pessoais de Corey Taylor.

Embalada em boa parte por uma melodia melancólica de violão, até ascender em um clímax emocional onde a faixa ganha peso nas guitarras e bateria, a canção fala sobre uma pessoa que Corey gostava e ajudava muito ele, mas que, quando ele pensava que ela se sentia do mesmo modo que ele, acabou o decepcionando. Segundo Corey, aquilo no final foi bom, pois foi o empurrão que ele precisava para descobrir a si mesmo e seguir em frente.

A canção foi lançado como single em 2009 e ganhou um clipe no estilo curta-metragem. Corey aparece nele sem a máscara, sendo o terceiro clipe da banda onde isso ocorre. A principio, “Snuff” não era executada em shows, mas ocasionalmente ela acabou tendo raras aparições no repertorio da banda. Após a morte do baixista Paul Grey, em 2010, Corey passou a tocar a faixa em seus shows acústicos solo, dedicando a canção ao seu colega.


Bury all your secrets in my skin
Come away with innocence
And leave me with my sins
The air around me still feels like a cage
And love is just a camouflage
for what resembles rage again

So if you love me, let me go
And run away before I know
My heart is just too dark to care
I can't destroy what isn't there
Deliver me into my fate
If I'm alone I cannot hate
I don't deserve to have you
My smile was taken long ago
If I can change I hope I never know

I still press your letters to my lips
And cherish them in parts
Of me that savor every kiss
I couldn't face a life without your light
But all of that was ripped apart
When you refused to fight

So save your breath, I will not hear
I think I made it very clear
You couldn't hate enough to love
Is that supposed to be enough?
I only wish you weren't my friend
Then I could hurt you in the end
I never claimed to be a saint
My own was banished long ago
It took the death of hope to let you go

So break yourself against my stones
And spit your pity in my soul
You never needed any help
You sold me out to save yourself
And I won't listen to your shame
You ran away - you're all the same
Angels lie to keep control
My love was punished long ago
If you still care, don't ever let me know

Enterre todos os seus segredos na minha pele
Desapareça com a inocência
E me deixe com os meus pecados
O ar ao meu redor ainda me parece como uma gaiola
E o amor é só uma camuflagem
para o que parece ser raiva de novo

Então se você me ama, deixe-me ir
E corra para longe antes que eu perceba
Meu coração está negro demais para se importar
Não posso destruir o que não está lá
Me entregue para dentro do meu destino
Se estou só, não posso odiar
Eu não mereço ter você
Meu sorriso foi tomado há muito tempo atrás
Se eu posso mudar, Eu espero que eu nunca saiba

Eu ainda aperto suas cartas aos meus lábios
E as mantenho em partes
De mim, partes que aproveitaram cada beijo
Eu não pude encarar a vida sem a sua luz
Mas tudo isso foi tirado
quando você recusou a lutar

Então guarde o seu fôlego, eu não irei escutar
Eu acho que fiz tudo muito claro
Você não poderia odiar o suficiente para amar
Isso era para ser o suficiente?
E só queria que você não fosse minha amiga
assim eu poderia te machucar no final
Eu nunca clamei para ser Santo
Meu interior foi banido tempos atrás
Isso custou a Morte da Esperança para deixar você ir

Então se quebre contra as minhas pedras
E cuspa sua empatia na minha alma
Você nunca precisou de nenhuma ajuda
Você me vendeu por inteiro para se salvar
E eu não escutarei a sua vergonha
Você fugiu como os outros
Anjos mentem para manter o controle
Meu amor foi punido tempos atrás
Se você ainda se importa, nunca me deixe saber

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Rock In Rio: 19/09/2015





Por Davi Pascale
Imagens: Christopher Polk (Getty Images), Marcon Antonio Teixeira (Uol) e Diorio (Agencia Estado)

Sim, fui até o Rock In Rio! Muitos fãs de heavy metal gostam de tirar sarro do evento e fazer as mesmas acusações de sempre. Gostem ou não da idéia, o evento é um marco em nosso país, um marco para diversos artistas que participaram e um marco para quem acompanhou de perto as edições com algo mais do que rebeldia barata.

Minhas primeiras memórias do Rock In Rio, remetem à edição de 1991. Quando rolou a histórica edição de 85 era muito criança. Claro que como fã de música, acabei correndo atrás dos vídeos daquela época e busquei informações sobre. Mas o primeiro que acompanhei de perto foi o de 91 mesmo. Ficava com a fita dentro do equipamento de VHS, controle remoto na mão gravando as apresentações de meus artistas preferidos, imaginando se um dia conseguiria ver aquilo de perto. Demorou 24 anos, mas consegui. Na última sexta-feira, embarquei para o Rio de Janeiro para finalmente ver essa festa com meus próprios olhos.

Com certeza, uma festa com uma estrutura mais legal do que a de 1991. Afinal, naquela segunda edição não tivemos a tão famosa Cidade do Rock. Os shows eram realizados no Estádio do Maracanã. Ok, local emblemático, mas agora que vi de perto, entendi quando diziam que o impacto não era o mesmo. Claro que a cena musical que rolava na época das duas primeiras edições eram muito mais fortes, mas vários shows que assisti no último sábado ficarão na memória.

Embarquei para o Rio de Janeiro um dia antes. Já sabia que o evento seria cansativo e queria estar inteiro para curtir o máximo possível do festival. Já havia participado de alguns festivais que rolavam shows desde cedo. Alguns que começavam até mais cedo, para dizer a verdade. Participei de Monsters of Rock, Hollywood Rock, Lollapalooza, Live n´ Louder... Tinha noção do que estava por vir. Já sabia que o evento era disputado, portanto, fiz minhas reservas de hotel e vôo na mesma semana que comprei meu ingresso. Já estava com tudo garantido. Sexta-feira não inventei moda. Fiquei no quarto do hotel assistindo aos shows pelo televisor. Só saí do quarto para jantar e nada mais.

Minhas recordações

No dia seguinte, vesti minha roupa, almocei e fui para o festival. Para chegar lá, peguei um ônibus que a prefeitura fornecia para levar as pessoas até o evento. O transporte era gratuito, saía de hora em hora e um dos pontos era de frente para o hotel onde estava hospedado. Cheguei lá, fiquei debaixo de um sol de lascar esperando os portões abrir. As atrações já começavam na fila. Do lado de fora do evento, havia dois músicos se apresentando. Um saxofonista e um baterista interpretavam hits para animar os presentes. Os caras tocavam bem até, mas confesso que presenciar o duo interpretando “Final Countdown” (Europe) naqueles trajes, um com uma cabeça de cavalo e outro com uma cabeça de urso, me rendeu altas risadas.

Meu plano inicial era chegar mais cedo, conhecer o local e me preparar para a maratona de shows. Infelizmente, os caras abriram o portão perto do início do show. Só tive tempo de ir na lojinha oficial e correr para o palco Sunset. Assim que pisei na frente do palco, a galera do Noturnall surgiu em cena. Ainda não estava abarrotado de gente, então consegui ver bem de perto. Embora os músicos sejam experientes, a banda ainda é nova. Possuem apenas dois Cds, nenhum hit, nenhum clássico. Mesmo assim, a galera respondeu bem. Os músicos demonstraram empolgação na performance e tiveram a preocupação de criar alguns números visuais. Nada que não tenha visto antes, mas funcionou legal. Deu um ar de diversão. Entretanto, a galera só animou de verdade quando o Michael Kiske (Helloween) se juntou aos músicos para uma jam, especialmente no clássico “I Want Out”. O ponto baixo ficou por conta de “Woman In Chains” (Tears For Fears). Gosto da música, mas não gostei da interpretação vocal. Nem do Thiago Bianchi, nem da Maria Odette.

Não demorou muito e surgiu o Angra no palco. Fiquei por lá para conferir os rapazes. Cheguei a assistir os músicos com o Andre Matos, com o Edu Falaschi, mas ainda não havia assistido com o Fabio Lione. Certamente, é o melhor cantor que o Angra já teve. Além de possuir uma ótima presença de palco, possui uma boa técnica vocal, é bem seguro. A banda estava bem entrosada. Fizeram um setlist bem dosado. Assim como o Noturnall, trouxeram dois convidados especiais: a cantora alemã Doro Pesch e o vocal do Twisted Sister, Dee Snider. Achei que a Doro foi mal explorada. Poderiam ter feito mais uma música com ela. Vários fãs de metal conhecem bem o trabalho dela com o Warlock. Se fizessem alguma música do grupo, levantariam os presentes. Dee Snider, por outro lado, levantou o público geral ao interpretar seus dois grandes hits: “I Wanna Rock” e “We´re Not Gonna Take It”. Ao contrário da edição de 2011, os músicos fizeram um bom show e acabaram com os boatos de vez. O novo guitarrista do Angra não é o Edu Ardanuy (Dr. Sin) e sim, o Marcelo Barbosa (Almah). Gosto do rapaz, mas não fiquei muito confiante com sua participação. Tenho meus pezinhos atrás.

Korn: primeiro grande show da noite

Ao final do show, cheguei à conclusão que não poderia ir até o Rock In Rio e não conhecer a Cidade do Rock. Assim que os músicos encerraram a apresentação fui dar uma volta no local. Simplesmente genial! Não parecia que estávamos em um festival de música. Palcos e mais palcos. Lojas e mais lojas. Montanha russa. Roda gigante. Diversas lanchonetes, mas tudo com um ar meio de rua. Parecia um parque. Tinha de tudo que você pode imaginar. E tudo extremamente bem organizado. No caminho de volta, comprei uma mini pizza Domino´s, já que não planejava sair da área de shows novamente. Minha caminhada fez com que eu perdesse metade da apresentação do Ministry. Sim, o local é grande assim. O pouco que vi, gostei. Músicos competentes, preocupação visual. Não foi algo que me fizesse arrepender ter saído dali, mas sem duvidas, são bem profissionais.

Eis que chega o momento de correr até o Palco Mundo. Primeira atração era o Gojira. De boa, puta banda chata! Assisti 4 músicas dos caras e voltei para o Sunset para esperar o show do Korn. Melhor coisa que fiz. O grupo de Jonathan Davies fez, conforme esperado, uma apresentação super competente, super profissional, recheada de clássicos do conjunto. Canções como “Blind”, “Got The Life”, “Somebody Someone” e “Freak On a Leash” levaram o público ao delírio. Primeiro grande show da noite. E, a partir daí, seria só alegrias. Corri de volta ao Palco Mundo para assistir o Royal Blood. Os caras possuem apenas um álbum, mas que showzaço! Por ser uma banda ainda não muito conhecida, a platéia estava meio apática. Os músicos, contudo, são muito bons. E as músicas também! É impressionante o som que conseguem tirar tendo apenas duas pessoas no palco. Momentos de destaque: “Come On Over”, “Cruel”, “Little Monster” e “Out of The Black”. Conseguiram a difícil tarefa de ganhar o respeito do público.

Infelizmente, o público não teve o mesmo respeito com o Motley Crue. E os caras mereciam! Fizeram um dos melhores shows da noite. Apresentação extremamente rock n roll. Fogos e mais fogos, garotas em trajes sensuais, banda redonda, set list matador. Assim como o Korn, focaram nos clássicos. Desde o início com “Girls, Girls Girls” até o final apoteótico com “Home Sweet Home’, sem se esquecer de sons emblemáticos como “Dr. Feelgood”, “Live Wire”, “Shout At The Devil”, “Looks That Kill” e “Wildside”. A platéia não participava, não cantava as músicas quando Vince Neil estendia os braços e ainda xingavam o cara de velho barrigudo e Joelma (e isso, meus amigos, é uma ofensa forte). De boa, merecem se fuder.

Motley Crue: aula de rock n´ roll

Deus estava olhando e a resposta veio no show da atração principal. E o pior que tive que sofrer junto. Logo eu que me comportei direitinho. Para a raiva eterna dos haters, o grupo de James Hetfield subiu com um som perfeito. A apresentação começou com tudo com “Fuel” e “For Whom The Bell Tolls”. Logo de cara, o cantor avisou: “Iremos tocar músicas de todos os nossos discos, ok?” Tudo ia maravilhosamente bem até que o som começou a pipocar. Justo no classicão “Ride The Lightning”. O som do grupo desapareceu do nada. A bola fora ocorreu, se não me engano, três vezes na mesma musica. Sem maiores explicações, os músicos deixaram o palco por alguns minutos. O publico ficou com o cu na mão. Está vendo? Vai chamar o Vince Neil de Joelma agora...

Pouco tempo depois, o grupo retornou. Não deixaram transparecer raiva, mas certamente mantiveram um ar de preocupação durante o resto da apresentação. De toda forma, o show foi bem legal. O setlist, ao contrário do que andam dizendo, foi muito bom. Clássicos de diferentes períodos foram lembrados como “Battery”, “One”, “King Nothing” e “Wherever I May Roam”. Não adianta vir com desculpa de musica nova, porque quando assisti a banda em 2010, o publico agitou nos clássicos e ficou extremamente apático nas músicas do Death Magnetic, até então recém-lançado. E não adianta vir com papo de lado B porque eu sei que vocês também vão ficar apáticos e sair por aí dizendo que o show foi frio. Aceitem, tocaram o que a galera queria ouvir. E esse é o papel de um grupo sério. Ainda mais como atração principal de um festival desse porte.

Como sempre, o grupo esbanjou competência e carisma. A execução das músicas demonstrou que grupos como Gojira, por exemplo, precisam comer muito arroz com feijão para chegar no micróbio da unha do dedão do pé do Metallica. É triste, mas essa galera está à anos-luz de artistas icônicos como Iron Maiden, Metallica, AC/DC e afins. Antes de saírem do palco, os músicos deram um aviso: “Essa foi nossa última apresentação de 2015. Agora nos trancaremos no estúdio para gravarmos nosso próximo álbum”. Só quero ver se quando tocarem as músicas novas se a galera vai agitar mesmo. Lembrem-se, papai do Céu está olhando...

Metallica: mesma com falha de som, grupo rouba cena

Infelizmente, na saída não havia ônibus para levar a galera de volta. A região estava cheio de desvios tanto por conta do festival, quanto por conta de obras. Vários locais não podia transitar e não conheço bem a cidade. Ao questionar um policial sobre um possível trajeto ouvi “amigo, se você andar a pé até lá, sozinho, essa hora da noite e não for assaltado, retorna aqui que te entrego minha farda. Nasceu para ser polícia”. Diante de uma frase tão animadora, resolvi caminhar até um ponto de taxi para que conseguisse retornar ao hotel. E qual não foi minha surpresa quando alguns se recusaram a me levar justamente por conta de um possível transito? Isso que é trabalhador! Dia seguinte, peguei um avião e retornei para casa. Um pouco cansado, é verdade, mas felizão. Passei por ótimos momentos que não esquecerei tão cedo. Valeu o cansaço! Valeu Rock in Rio!