Por Rafael Menegueti
Nightwish - Endless Forms Most Beautiful |
Foi um longa espera. Os fãs de Nightwish conviveram com
longos meses de ansiedade pelo lançamento de “Endless Forms Most Beautiful”, e
eram inúmeros os motivos que fizeram a ansiedade aumentar. O mistério em torno
das canções, quando a banda simplesmente não mostrou nada, nem uma nota sequer,
enquanto apareciam em trailers falando sobre a criação e produção do novo álbum.
A expectativa de saber como seria o primeiro registro de inéditas com Floor
Jansen, e também com Troy Donockley, novo integrante da banda que incorporou
instrumentos de sopro à sua sonoridade. O anuncio de uma música de 24 minutos,
a mais longa da carreira da banda. E a participação improvável do escritor e biólogo
Richard Dawkins. E então o álbum foi lançado. E dividiu opiniões.
Não sei ao certo o que pode ter provocado tamanho contraste
na reação dos fãs ao receberem o novo disco, mas talvez uma explicação simples
possa ser que a própria ansiedade criada em torno do disco, provocado pelo mistério
em torno dele, fez com que se criasse uma expectativa muito acima do que o
disco deveria ter recebido. O vazamento do single “Élan” ajudou para criar um
clima não muito positivo para o que viria. Enquanto alguns fãs receberam o novo
álbum com certa decepção, outros consideraram um trabalho digno da banda.
Uma coisa eu digo, “Endless Forms Most Beautiful” não é o
melhor álbum da banda, mas está muito longe de ser o desastre que alguns fãs
decepcionados apontam. O disco segue a linha dos trabalhos mais recentes da
banda, como uma continuação da evolução que o Nightwish vinha promovendo em sua
música. Alias, evolução é justamente um dos temas centrais do disco.
Segundo o tecladista e compositor da banda, Tuomas Holopainen,
o disco é inspirado na obra de Charles Darwin, “A Origem das Especies”, tendo
inclusive o nome sido tirado de uma passagem do mesmo. Segundo o compositor, o
disco trata da beleza da vida, da existência e da evolução, sendo o conceito do
álbum um tributo à ciência e ao poder da razão. A obra “O Maior Espetaculo da
Terra: O Poder da Evolução”, de Richard Dawkins (que contribuiu com algumas
narrações no disco), serviu de inspiração principalmente para a faixa que
encerra o disco, “The Greatest Show On Earth”, a já citada canção mais longa da
banda.
A sonoridade do disco remete muito ao que a banda apresentou
em seus dois trabalhos anteriores. Muita melodia, arranjos feitos com
instrumentos não comuns no metal, como flautas, gaitas e percussão, mas com a mesma pegada característica da banda. “Shudder Before
the Beautiful” é uma faixa com a energia característica das que costumam abrir
os discos da banda.
Guitarra agressiva, levada empolgante e um refrão contagiante, ela é precedida por uma rápida narração de Richard Dawkins. A canção seguinte,
“Weak Fantasy”, é uma das melhores do disco, agitada e com vocais potentes de
Floor e Marco Hietala. Em seguida vem o single “Élan”, que divide os fãs.
Embora ele possa parecer muito limpa e suave, a faixa aparece como um
respiro no disco, dando um toque de melodia e beleza antes do que viria a
seguir.
Os membros do Nightwish |
“Yours Is An Empty Hope” compete com “Weak Fantasy” para ser
a mais pesada do disco. Riff de guitarra potente, vocais com personalidade de
Floor, que chega a mandar guturais no refrão, e boa participação do baterista
Kai Hahto, que substitui Jukka Nevalainen no disco. Já “Our Decades In The Sun”
é uma balada com uso de corais e belos arranjos sinfônicos e de violão. “My
Walden” é uma faixa onde começa a se destacar a figura de Troy Donockley na banda,
com vocais e suas flautas. A faixa título vem em seguida com mais peso e um refrão
bem destacado.
A faixa “Edema Ruh” tem um andamento mais calmo, mas com um
pouco mais de peso do que “Élan” por exemplo, além de um solo de guitarra
interessante. “Alpenglow” tem uma pegada característica da banda, mas não empolga
tanto quanto as demais do disco. O disco vai chegando ao final com a
instrumental “The Eyes of Sharbat Gula”, totalmente orquestral e com uso de
corais.
E enfim, a faixa que encerra o disco é “The Greatest Show on
Earth”, uma canção grandiosa, que se inicia com um piano e vai crescendo junto
com a orquestração e a voz de Floor durante alguns minutos. Mais da narração de
Richard Dawkins surgem antes da canção ganhar nova cara com a entrada de Floor
meio como declamando a letra e a guitarra de Emppu Vuorinen. A canção logo vai progredindo, ganha energia,
arranjos com backing vocals de corais, até ganhar um novo andamento, com o
ritmo da bateria aliado as vozes antes de uma sequencia de sons de animais
selvagens misturados a alguns toques de orquestração interromper a canção. Logo,
a guitarra volta com peso e a voz de Marco Hietala.
E isso é só a primeira metade da faixa. É curioso que mesmo
assim, a canção não cansa. Ela ganha vida nova depois disso, os vocais trazem
empolgação, uma verdadeira evolução dentro da música. Por volta dos 16 minutos,
a canção para totalmente, entra de novo o piano e arranjos orquestrais leves, seguido
em seguida pela bateria e baixo ditando um ritmo cadenciado, lento, para mais
narração de Dawkins. Mais orquestração, que vai diminuindo, sons de mar, mais
narração. A canção já acabou, agora o que resta são sons da natureza e de
animais, até que com 24 minutos o ciclo se encerra. Encerra um bom disco, com ótimas
canções, com a cara atual do Nightwish.
Um trabalho bem produzido, com uma proposta interessante e com belos
arranjos de metal sinfônico. Floor Jansen também não decepciona em sua estreia
em um álbum de estúdio da banda. Mesmo que ela não tenha mostrado toda a
potencia de sua voz no disco, o fato é que ela não precisa, a música do
Nightwish não pede isso. Sua participação é exatamente da forma que as canções pedem, harmoniosa e com personalidade nos momentos certos. “Endless
Forms Most Beautiful” não é como os grandes álbuns clássicos da banda finlandesa.
Ele é único e diferente, mas ainda belo, e faz jus a historia da banda.
Nota: 8/10
Status: Espetacular
Faixas:
01. Shudder Before The Beautiful
02. Weak Fantasy
03. Élan
04. Yours Is An Empty Hope
05. Our Decades In the Sun
06. My Walden
07. Endless Forms Most Beautiful
08. Edema Ruh
09. Alpenglow
10. The Eyes Of Sharbat Gula
11. The Greatest Show On Earth
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