segunda-feira, 30 de março de 2015

Autoramas & BNegão – Auto Boogie (2013):



Por Davi Pascale

Parceria realizada em grande festival originou a gravação de EP. Misturando faixa inédita e releituras, os músicos entregaram um trabalho criativo e competente. Lançado no formato vinil 10”, o projeto acabou passando batido por grande parte do público.

Já faz um tempo que o festival Rock In Rio vem apostando em parcerias. Desde a criação do Palco Sunset que temos visto misturas inusitadas no palco. Às vezes, o resultado é interessante como a parceria de Nando Reis com Samuel Rosa ou do Sepultura com Tambours Du Bronx. Às vezes, é desastrosa como o show extremamente mal ensaiado do Angra com a Tarja Turunen ou do fraquérrimo Republica com o ótimo Dr. Sin (sim, o trio paulista mandou muito bem, como de costume, mas os dois juntos no palco só serviu para demonstrar o quão caquético era o outro grupo). Por que estou comentando isso em uma resenha do Autoramas?

Porque a parceria originou-se daí. Os músicos resolveram estender a parceria que fizeram no festival para o disco. E ficou bem legal! Lembro que, na época, o show deles não havia me chamado tanto a atenção. Embora goste muito dos dois artistas, tinha ficado um pouco decepcionado com o trabalho vocal. Principalmente, do BNegão. Gosto do trabalho do músico. Mas, se por um lado, o cara esbanja energia e domina a galera com facilidade, de outro, fica quase impossível entender o que canta ao vivo. Nos discos, contudo, sempre soube trabalhar legal sua voz. Os dois trabalhos que realizou ao lado do Seletores de Frequência são bem bacanas.

Para quem não está por dentro do trabalho dos grupos. Autoramas surge no Rio de Janeiro em 1997 marcando a união do ex-Planet Hemp, Bacalhau, com o ex-Little Quail And The Mad Birds, Gabriel Thomaz.  O som aposta em uma mistura de new wave, punk, surf music e garage. O trio sempre foi mais profissional do que o Little Quail, que era mais escrachadão. B-Negão & Os Seletores da Frequência aposta em uma mistura de soul com hip hop. Tive o primeiro contato com o tal projeto, do também ex-Planet, pelo CD encartado na extinta revista OutraCoisa. Auto Boogie marca o último registro do Autoramas como trio. A última notícia que seus fãs receberam foi que a banda havia se transformado em um quarteto e estava preparando um novo disco, através do crowdfunding. Da formação original, apenas Gabriel segue adiante.  

Projeto nasceu no Rock In Rio

Nesse projeto especial, apenas 4 músicas. 1 inédita e 3 covers. Os rapazes aproveitaram o formato vinil para fazer a divisão das canções. Talvez os ouvintes mais novos, que começaram a ouvir música através do CD ou do MP3, não saibam. Boa parte dos artistas escolhia a sequência das faixas pela lógica Lado A, Lado B. Isso poderia ocorrer de diferentes maneiras. Faixas longas de um lado, curtas de outra. Faixas mais comerciais de um lado, menos comerciais de outro. E por aí vai. Aqui, ocorre a divisão. Faixas com BNegão à frente no Lado A, faixas com Autoramas à frente no Lado B.

Contando com a produção de Roberto Frejat (líder do Barão Vermelho), o disco captou com maestria o que há de melhor em cada artista. A malandragem do BNegão com o rrrrrrock esperto dos Autoramas. A ótima faixa inédita “O Giro” mostra bem essa mistura. “Kiss” ganhou uma roupagem totalmente diferente. A clássica canção do Prince ganhou um ar mais rock n´ roll. Com guitarra levemente distorcida, mais acelerada e sem os históricos falsetes do multi-instrumentista norte-americano. Versão interessantíssima.

O Lado B inicia com “Walk On The Wildside” de Lou Reed, tendo a baixista Flavia Couri assumindo os vocais. Nunca fui muito com a cara do Lou Reed, mas para quem curte ficou bacaninha. Está muito bem tocada. Com arranjo mais próximo da original, inovaram ao misturar a letra da canção original com a letra de “Enxugando o Gelo” do grupo Seletores de Frequência. A última música não é exatamente um cover. Trata-se de uma releitura de uma velha canção do Little Quail. A musica perdeu um pouco da sujeira do arranjo original, mas ficou bem divertida.

Auto-Boogie passou um pouco batido pelo público, o que é realmente uma pena. Os músicos fizeram um trabalho redondo com arranjos inteligentes e bem executados. Vale a pena correr atrás.

Nota: 8,0 / 10,0
Status: Divertido e bem produzido

Faixas:
      01)   O Giro
      02)   Kiss
      03)   Walking On The Wildside
      04)   1,2,3,4

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