Por Davi Pascale
Parceria realizada em grande
festival originou a gravação de EP. Misturando faixa inédita e releituras,
os músicos entregaram um trabalho criativo e competente. Lançado no formato
vinil 10”, o projeto acabou passando batido por grande parte do público.
Já faz um tempo que o festival
Rock In Rio vem apostando em parcerias. Desde a criação do Palco Sunset que
temos visto misturas inusitadas no palco. Às vezes, o resultado é
interessante como a parceria de Nando Reis com Samuel Rosa ou do Sepultura com
Tambours Du Bronx. Às vezes, é desastrosa como o show extremamente mal ensaiado
do Angra com a Tarja Turunen ou do fraquérrimo Republica com o ótimo Dr. Sin
(sim, o trio paulista mandou muito bem, como de costume, mas os dois juntos no
palco só serviu para demonstrar o quão caquético era o outro grupo). Por que
estou comentando isso em uma resenha do Autoramas?
Porque a parceria originou-se daí. Os músicos
resolveram estender a parceria que fizeram no festival para o disco. E ficou
bem legal! Lembro que, na época, o show deles não havia me chamado tanto a
atenção. Embora goste muito dos dois artistas, tinha ficado um pouco
decepcionado com o trabalho vocal. Principalmente, do BNegão. Gosto do trabalho
do músico. Mas, se por um lado, o cara esbanja energia e domina a galera com
facilidade, de outro, fica quase impossível entender o que canta ao vivo. Nos
discos, contudo, sempre soube trabalhar legal sua voz. Os dois trabalhos que realizou
ao lado do Seletores de Frequência são bem bacanas.
Para quem não está por dentro do
trabalho dos grupos. Autoramas surge no Rio de Janeiro em 1997 marcando a união
do ex-Planet Hemp, Bacalhau, com o ex-Little Quail And The Mad Birds, Gabriel
Thomaz. O som aposta em uma mistura de
new wave, punk, surf music e garage. O trio sempre foi mais profissional do que
o Little Quail, que era mais escrachadão. B-Negão & Os Seletores da Frequência
aposta em uma mistura de soul com hip hop. Tive o primeiro contato com o tal
projeto, do também ex-Planet, pelo CD encartado na extinta revista OutraCoisa. Auto Boogie marca o último registro do
Autoramas como trio. A última notícia que seus fãs receberam foi que a banda
havia se transformado em um quarteto e estava preparando um novo disco, através
do crowdfunding. Da formação original, apenas Gabriel segue adiante.
Projeto nasceu no Rock In Rio |
Nesse projeto especial, apenas 4
músicas. 1 inédita e 3 covers. Os rapazes aproveitaram o formato vinil para
fazer a divisão das canções. Talvez os ouvintes mais novos, que começaram a
ouvir música através do CD ou do MP3, não saibam. Boa parte dos artistas
escolhia a sequência das faixas pela lógica Lado A, Lado B. Isso poderia
ocorrer de diferentes maneiras. Faixas longas de um lado, curtas de outra.
Faixas mais comerciais de um lado, menos comerciais de outro. E por aí vai.
Aqui, ocorre a divisão. Faixas com BNegão à frente no Lado A, faixas com Autoramas
à frente no Lado B.
Contando com a produção de
Roberto Frejat (líder do Barão Vermelho), o disco captou com maestria o que há
de melhor em cada artista. A malandragem do BNegão com o rrrrrrock esperto dos
Autoramas. A ótima faixa inédita “O Giro” mostra bem essa mistura. “Kiss”
ganhou uma roupagem totalmente diferente. A clássica canção do Prince ganhou um ar mais rock n´ roll. Com guitarra levemente distorcida, mais acelerada
e sem os históricos falsetes do multi-instrumentista norte-americano. Versão interessantíssima.
O Lado B inicia com “Walk On The
Wildside” de Lou Reed, tendo a baixista Flavia Couri assumindo os vocais. Nunca
fui muito com a cara do Lou Reed, mas para quem curte ficou bacaninha. Está muito bem tocada. Com arranjo
mais próximo da original, inovaram ao misturar a letra da canção original com a
letra de “Enxugando o Gelo” do grupo Seletores de Frequência. A última música
não é exatamente um cover. Trata-se de uma releitura de uma velha canção do
Little Quail. A musica perdeu um pouco da sujeira do arranjo original, mas ficou bem divertida.
Auto-Boogie passou um pouco batido pelo público, o que é realmente
uma pena. Os músicos fizeram um trabalho redondo com arranjos inteligentes e bem executados.
Vale a pena correr atrás.
Nota: 8,0 / 10,0
Status: Divertido e bem produzido
Faixas:
01) O
Giro
02) Kiss
03) Walking
On The Wildside
04) 1,2,3,4
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