Por Davi Pascale
Esse especial do Elvis Presley é
tido como o primeiro show acústico da historia. Esse papo de o primeiro isso, o
primeiro aquilo sempre gera polêmicas. Agora, há um fator que ninguém pode
discutir: a apresentação do Elvis causou muito mais estardalhaço do que
qualquer show do gênero. E mais do que isso, ainda impressiona os novos
ouvintes e ainda inspira novos artistas. E, isso, realmente é para poucos. E, o
mais legal de tudo, aconteceu por acaso.
Em 1968, foi realizado em
parceria com a emissora NBC, um especial de Natal do cantor. O empresário de
Elvis, o Coronel Parker, adorou a idéia. Ainda mais porque haviam decidido
fazer o programa inteiro com o artista. Algo que até então não era muito usual.
Normalmente esses programas eram realizados com diversos artistas, misturando
grandes e pequenos nomes. A ousadia nasceu das mentes de Steve Binder e Bones
Howe, os dois produtores que seriam responsáveis pela criação do especial,
indicados pela própria emissora. A aposta maior era em Steve que apesar de ser
um jovem de apenas 23 anos, era produtor do programa musical Hullabaloo, que era extremamente
popular na época. Sem contar que o garoto havia produzido um especial de TV com
a cantora Petula Clark pouco tempo antes e havia conseguido boa audiência. O
programa ficou marcado pelo polêmico beijo entre Harry Belafonte e a Petula. Um
negro e um branco se beijando em horário nobre não era algo comum naqueles
dias.
O especial foi sendo moldado aos
poucos. Assim que lançaram a ideia (prontamente aprovada) de Elvis Presley ser
a única estrela, o coronel enviou para a emissora um especial de rádio feito
pelo cantor um ano antes. Também era um especial de natal e Parker acreditava
que a equipe poderia transpor o especial para o formato de vídeo. O empresário queria
que o especial tivesse apenas músicas natalinas e enviou uma lista de sugestões
com faixas como “Jingle Bell Rock”, “Little Stranger”, “Merry Christmas Baby”...
Steve, o menino prodígio, dizia que ficava preocupado com essa limitação
temática. Elvis concordava com o garoto e decidiram fazer diferente. Sabiam que
não seria fácil dobrar a NBC e o coronel, mas acharam que tinham que tentar.
Aos poucos, o programa foi se desenhando.
A idéia da apresentação acústica surgiu por acaso |
O que seria inicialmente um
programa natalino, logo transformou-se em um semidocumentário. Seria contado,
meio que por cima, como um jovem cantor atingiu a fama. Queriam que Elvis fosse
retratado como um artista inovador. A ideia inicial era misturar uma cena de
luta, um segmento gospel, sequencias de shows e números com clima de dança contemporânea.
O cantor queria que a parte musical trouxesse alguma novidade, dizia que queria
criar um som ‘novo e contemporâneo”. Presley queria que utilizassem Billy
Strange como diretor musical. Os rapazes aceitaram sua sugestão, mas ela não
funcionou. Billy acabou sendo substituído por Billy Goldenberg por não ter
conseguido entregar os arranjos em tempo.
A ideia da apresentação acústica foi
mais uma vez de Steve Blinder. Durante os ensaios para as gravações, os músicos
costumavam pegar os violões para relaxar e improvisar músicas de blues e rock. Ao
ver a cena nos camarins, Steve teve a ideia de mostrar esse lado mais
descontraído que era algo que o público de Elvis nunca tinha visto. O rapaz
havia ficado apaixonado com aquela clima e imaginou que isso afetaria os fãs de
uma maneira positiva também. Foi dele também a ideia do palco em formato de
ringue com os fãs todos em volta. Palco que também foi copiado por muitos.
Inclusive pela própria MTV Brasil quando lançou seu programa Balada MTV. Aliás,
não apenas o conceito do palco era o mesmo, mas o conceito do programa. O
artista tocando suas músicas em formato acústico e conversando com o público,
que ficava sentado em volta do palco, de maneira descontraía... Tudo exatamente
igual. Dizem ainda que esse show foi a real inspiração para a criação da série MTV Unplugged nos EUA. Não posso comprovar, mas faz sentido.
No início o cantor ficou relutante,
especialmente porque os produtores queriam que o clima de descontração fosse
mantido. Como se fosse um ensaio aberto. Pediram para que o artista conversasse
com a plateia, contasse histórias. Isso incomodava um pouco Elvis. Não por um
ar de superioridade, mas por insegurança. Tinha medo de travar, ficar sem saber
o que dizer... Tinha medo de parecer bobo. Tal situação só aumentava ainda mais o nervosismo de Elvis Presley, que já se encontrava bem preocupado com a gravação de um show, já que estava há 7 anos afastado dos palcos. Foram realizadas duas apresentações.
Ambas gravadas no mesmo dia, 27 de Junho de 1968, mas para públicos diferentes.
Houve intervalo de uma hora entre uma gravação e outra.
Elvis Presley se sentia inseguro com a ideia de interagir com o publico |
Para esse sessão acústica resolveram
focar no material da fase inicial e trazer os músicos Scotty Moore e DJ Fontana
para acompanha-lo. Para deixa-lo ainda mais à vontade completaram o time com os
amigos Charlie Hodge e Alan Fortas e também Lance Legault, o duble de Elvis em
suas produções cinematográficas .
O especial, que se encerrava com
a bonita “If I Can Dream” foi ao ar no dia 23 de Dezembro às 21h e deu mais do
que certo. O público voltou à se encantar com Elvis Presley, a crítica rasgou
elogios, o compacto de “If I Can Dream” chegou ao topo das paradas, assim como
o disco com a trilha do programa. Foi a música certa no momento certo. A letra
que suplicava por compreensão e fraternidade só ajudava a sensibilizar ainda
mais as pessoas que choravam os assassinatos de Martin Luther King e Robert
Frances Kennedy (Ministro da Justiça dos Eua, também conhecido como Bobby
Kennedy).
Passados mais de 40 anos, o
programa ainda emociona. O especial pode ser facilmente encontrado em DVD e
traz um dos melhores registros do cantor em vídeo. Quem não conhece, por favor,
corra atrás!
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