domingo, 22 de julho de 2018

Dead Daisies – Burn It Down (2018):




Por Davi Pascale

A Ressureição do Rock

Supergroup chega ao seu quarto álbum de inéditas. Burn It Down mostra banda pegando fogo e entrega um hard rock enérgico e inspirado. Os caras fizeram fácil, fácil, um dos melhores álbuns de 2018.

O Dead Daisies nasceu em 2012 da mente do guitarrista David Lowy. Muitos dizem que se você não acontecer até os 20 e poucos, você deve buscar outra profissão. Lowy está aí para provar o contrário. O rapaz é um empresário de sucesso e resolveu viver seu sonho de rockstar após sua aposentadoria. Atualmente, com 63 anos nas costas, ele é a mente por trás de um dos supergroups mais falados do momento.

Já tem um tempo que a ideia de uma banda formada única e exclusivamente por rockstars deixou de ser novidade. Há quem diga que se tornou uma jogada de marketing e que essas bandas são criadas já com prazo para terminar. Polêmicas à parte, a grande verdade é que esses projetos (ou bandas, em alguns casos) são extremamente empolgantes, além de serem divertidos. E existe mais um ponto a favor, como esses caras já são músicos tarimbados, muito dificilmente você encontrará algo meia boca. Primeiro, porque eles têm uma reputação a zelar, depois pelo conhecimento acumulado em décadas de estrada. Tudo fica ainda mais bacana, quando os músicos reencontram o tesão pela profissão. Em pouco mais de 5 anos, os caras já soltaram 4 álbuns de estúdio e um ao vivo. Não é pouca coisa!

Durante esses anos, vários grandes nomes do rock passaram pela banda. Entre eles; Darryl Jones (The Rolling Stones), John Tempesta (The Cult), Jon Stevens (INXS) e Dizzy Reed (Guns n´ Roses). A formação atual inclui: Marco Mendoza (Thin Lizzy, Blue Murder), Doug Aldrich (Whitesnake, Dio), Deen Castronovo (Ozzy Osbourne, Journey) e John Corabi (Motley Crue, Union). Verdade seja dita, os caras encontraram a fórmula.



O primeiro álbum foi bacana, mas longe de ser algo empolgante. Depois da entrada de John Corabi, a banda ganhou um novo gás. Ficaram mais pesados, a sonoridade ganhou personalidade e as composições amadureceram. Revolución e Make Some Noise foram dois grandes álbuns. E o novo disco chega para manter o alto padrão.

Infelizmente, o rock n roll não atravessa um momento de renovação, com artistas surgindo com pé na porta, dominando as paradas de sucesso e estampando as capas de revista. Tanto aqui no Brasil, quanto nos Estados Unidos, o gênero parece estar cada vez mais afastado da grande mídia. Enquanto muitos comemoram a volta ao gueto, eu realmente lamento. Tal situação impede que se crie novos ícones, uma vez que os artistas não chegam ao grande público. É uma pena porque temos vários artistas que mereceriam estar no topo das paradas. Uma banda como o Dead Daisies sempre ajuda a dar uma mexida na cena e ajuda a provar que o rock n roll ainda tem muitos adeptos.  

Burn It Down aposta em um hard rock vigoroso, com altas influências de anos 70, mas ainda assim com uma mixagem moderna e identidade própria. Make Some Noise já era mais pesado do que o Revolución e aqui a sujeira ganha mais uma dose extra. Algo já perceptível na faixa de abertura “Resurrected”. A faixa seguinte, “Rise Up”, mantém o peso e traz o ar de diversão no refrão. Deve funcionar bem ao vivo.

Embora façam um hard rock pesado, os músicos mantêm intacta o clima de festa que muitos sentem falta nos grupos atuais. Seja na construção dos refrãos melódicos, seja no clima de suas performances. Quem já teve a oportunidade de assistir os caras ao vivo, sabe que o show deles é uma verdadeira celebração. Os músicos interagem com a galera, tocam com uma puta energia, isso sem cantar na performance de seu baixista Marco Mendoza. Do nada, o cara sai fazendo caras e bocas, sai girando com o baixo. O show é altamente empolgante (sim, já tive a oportunidade de assisti-los).



“Burn In Down” começa a deixar as referências de 70´s mais escancaradas. A canção soa como um Whitesnake mais moderno. Desde seu começo bluesy até seu refrão explosivo. “Judgement Day” é outra que poderia ser gravada em um novo trabalho da trupe liderada pelo David Coverdale. Além de John Corabi com seus vocais potentes e resgados, outro músico que trouxe vida nova ao som do grupo foi Doug Aldrich. “What Goes Around” é uma ótima amostra do talento do garoto. Não apenas pelo timbre matador, quanto pelo ótimo solo de guitarra.

Uma das maneiras que os músicos encontraram para manter o ar de descontração nas suas apresentações é misturar originais com releituras de clássicos do rock. O mesmo acontece em seus álbuns de estúdio. Sempre tem um ou 2 covers marcando a presença. Aqui, temos duas. A primeira delas é “Bitch”, um clássico menor dos The Rolling Stones, lançada no clássico LP Sticky Fingers. Os músicos mantiveram o riff, mas aceleraram a música e criaram uma bateria mais pesadona. Ficou bem bacana.

“Set Me Free” é a balada do disco. Uma faixa com um ar meio Gov´t Mule, aquela balada meio blues-rock. John Corabi se sobressai cantando com alma. “Dead And Gone” traz os caras de volta ao rock n roll. O refrão remete um pouco às linhas vocais do Lynyrd Skynyrd. “Can´t Take It With You” foi uma das que menos me empolgaram nesse disco. Por outro lado, “Leave Me Alone”, é uma das melhores do novo álbum trazendo a sonoridade clássica do Dead Daisies. Ou seja, aquele hard pesado, mas com clima festivo, como já mencionei.

Se vocês leram com atenção repararam que eu disse que haviam 2 covers aqui, certo? Pois é isso mesmo, a edição lançada aqui no Brasil se encerra com uma versão matadora de “Revolution”. Sim, essa mesma. O famoso hit daqueles 4 garotos de Liverpool. A canção foi totalmente renovada. A linha vocal foi mantida, mas guitarra e bateria foram totalmente modificados. Não deixaram nem a famosa introdução. Corajoso, sem dúvidas, mas os caras se saíram bem. A versão ficou excelente.

Burn It Down consagra Doug Aldrich e John Corabi como diferencial dentro do talentoso grupo e mostra que a banda veio para ficar. Algo muito bacana é que, embora todos eles sejam donos de uma técnica de excelência, em nenhum momento colocam a técnica acima da melodia. Não se trata de um grupo exibicionista. O álbum também marca a estreia de Deen Castronovo no lugar de Brian Tichy. Honestamente, é difícil decidir quem toca mais. Sem reclamações. Para quem curte rock n roll com uma dose extra de peso, a audição é obrigatória. Ótimas canções, excelentes músicos, ótima qualidade de gravação. Até agora, um dos melhores discos que ouvi esse ano. Sem brincadeira.

Nota: 10,0 / 10,0

Faixas:
     01)   Resurrected
     02)   Rise Up
     03)   Burn It Down
     04)   Judgement Day
     05)   What Goes Around
     06)   Bitch
     07)   Set Me Free
     08)   Dead And Gone
     09)   Can´t Take It With You
     10)   Leave Me Alone
     11)   Revolution (Bonus Track)

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Angra – Omni (2018):




Por Davi Pascale

Despertando da Escuridão

Depois de passar por uma série de turbulências, o Angra firma uma nova formação e lança esse que é seu melhor trabalho desde Temple of Shadows. Contando com apenas Rafael Bittencourt da formação original, o grupo renasce das cinzas e inicia o terceiro capítulo de uma história que teve mais conquistas do que derrotas.

O Angra foi uma banda que já nasceu grande. Assim que lançaram seu debut, (o ótimo) Angel´s Cry, começaram a dar o que falar. Existia uma grande expectativa para saber o que estava aprontando a nova banda do Andre Matos. O heavy metal surgiu no Brasil nos anos 80 (sim, chegou com atraso por aqui) e na primeira leva de grupos era comum termos grandes instrumentistas, porém com vocalistas fracos e inglês macarrônico. Eram poucos os cantores que realmente faziam um grande trabalho. E André era um deles.

Fora o fato de ter uma extensão vocal maior do que os demais de sua geração, Andre tinha mais um ponto a seu favor. O músico optou por sair do Viper, logo após terem lançado (o ótimo) Theatre of Fate, alegando que queria aprofundar seus estudos no campo da música e acabou se formando em composição e regência. E foi com essa bagagem que ele chegou ao Angra. Como alguém que já havia gravado álbuns de destaque, alguém que já tinha prestígio e, agora, alguém com formação acadêmica.

Essa primeira geração ficou marcada por lançar grandes músicos no cenário (Rafael, Kiko, Luis e Ricardo se tornaram referência rapidamente) e por lançar dois trabalhos que hoje são considerados clássicos do gênero: Holy Land e o já citado Angel´s Cry. Essa primeira formação implodiu por possuírem visões empresariais distintas. Andre Matos, Luis Mariutti e Ricardo Confessori fundaram o Shaman. Rafel Bittencourt e Kiko Loureiro criaram a segunda encarnação do Angra efetivando Felipe Andreoli e Aquiles Priester (que haviam gravado um álbum ao lado do ex-Iron Maiden, Paul Di´Anno) para a cozinha. Para assumir o lugar de Andre veio Edu Falaschi, que na época se destacava com a banda Symbols. Uma das principais apostas daquela nova geração.

Edu teve que segurar a bronca. A cobrança era alta e o papel a desempenhar não era fácil. Andre Matos se consagrava como o melhor cantor de heavy metal do país. As músicas eram muito altas e embora seja também um excelente cantor, a região natural do Edu era mais baixa. Começou uma discussão entre os fãs, que dura até os dias de hoje, se a escolha havia sido correta. Independente de discussão, Edu conseguiu criar sua leva de seguidores e gravou dois grandes álbuns ao lado dos garotos: Rebirth e Temple of Shadows.



Da lá para cá, muito pedra rolou. Confessori voltou para gravar o Aqua, Fabio Lione assumiu os vocais e Kiko Loureiro foi efetivado no Megadeth. Agora, os músicos querem emplacar a terceira geração do Angra. Marcelo Barbosa (ex-companheiro de Edu no Almah) assume as guitarras de Kiko. Bruno Valverde e o ex-Rhapsody Fabio Lione, firmam sua posição de baterista e vocalista da banda. E é nesse cenário que chega o álbum Omni.

Contando com a produção do sueco Jens Bogren (Symphony X, James La Brie, Sepultura), a banda conta com uma sonoridade mais sombria, mais pesada, porém extremamente bem definida. Trata-se de um álbum conceitual. A história é uma ficção. A ideia geral é que em 2046 as pessoas do presente e do futuro irão se corresponder umas com as outras, por conta da percepção cognitiva alterada por uma inteligência artificial. Interessante...

É comum os trabalhos do Angra iniciarem com alguma introdução preparando o território para o que viria a ser a primeira faixa de fato. Aqui, fazem diferente. O CD já abre de cara com “Light Of Transcendence”. Faixa power metal típica que traz um refrão pegajoso, no melhor sentido da expressão. Uma espécie de “Nova Era Pt 2”. O alto nível segue em “Travelers of Time”, música que inicia trazendo a velha mistura de ritmos brasileiros com metal, antes de entrar em uma pegada mais progressiva. O refrão remete bastante ao Angra fase Andre Matos.

E eis que chegamos na polêmica “Black Widow´s Web”. A nova faixa de trabalho vem causando polêmica por conta da inusitada participação da cantora Sandy (sim, essa mesma que você está pensando). Os músicos decidiram que queriam 2 vozes femininas. Uma angelical, outra mais agressiva. Convidaram Alissa White-Gluz (The Agonist, Ach Enemy) para os vocais guturais e a filha do Xororó para a voz mais angelical. Embora não goste do trabalho da Sandy, acho muito chororô. A faixa não tem nada de comercial. Pelo contrário, é bem pesada. E a participação dela não dura mais do que alguns segundos. Boa música com destaque para o excelente solo de guitarra. E, não, a menina não comprometeu.

“Insania” retorna trazendo novamente a pegada power metal do início do disco. Mais uma vez contando com um forte refrão, a canção se destaca pela linha de baixo de Felipe Andreoli. “The Bottom Of My Soul” é uma balada sombria. Conta com bonitas orquestrações e um ótimo trabalho vocal de Rafael Bittencourt. Pouca gente comenta sobre ele cantando, mas sempre curti seu trabalho vocal. Já cheguei, inclusive, a ouvir uma versão de “Don´t Stop Believin´” (clássico do Journey) com ele quebrando tudo nos vocais. Espero que isso seja lançado algum dia... “Warn Horns” mostra que Fabio Lione está mais à vontade na banda. Ele que havia feito um trabalho bem sutil em Secret Garden, resolveu botar as asinhas de fora no novo disco. Também vale destacar o criativo solo de Kiko Loureiro.



Embora não seja uma obrigatoriedade, o fato de misturar elementos de ritmos brasileiros dentro do power metal progressivo realizado pelo Angra, algo que fazem desde “Never Understand”, se tornou uma marca registrada do grupo. E a brincadeira volta a aparecer com força em “Caveman”, onde, inclusive, misturam inglês e português.

“Magic Mirror” é um dos grandes destaques do novo álbum. Contando com um refrão forte e uma boa linha de baixo de Andreoli, a música se destaca por sua passagem progressiva. Bruno Valverde também faz um belo trabalho. “Always More” é mais uma balada. Dessa vez, com arranjo mais suave e trazendo Lione nos vocais. Achei a composição mais fraca e, de certa forma, deslocada do restante do material. “Silence Inside” traz uma forte veia progressiva novamente, com Rafael e Fabio dividindo os vocais e atinge um bom resultado. “Infinite Nothing” encerra o álbum em grande estilo contando como uma sonoridade mais cinematográfica.

A escolha de Marcelo Barbosa e Bruno Valverde foram acertadas. Os dois desempenharam muito bem suas funções e mantiveram as características que seus fãs esperam. Fabio Lione é, sem dúvidas, um grande cantor e um dos destaques da cena power metal. Contudo, tenho certeza que parte dos fãs continuarão reclamando da escolha do substituto. Embora tenha uma ótima técnica vocal e um timbre de voz que casa com a sonoridade explorada pela banda, o cantor não tem domínio da técnica de falsete, o que dificulta para cantar o repertório da primeira fase. Algo que ficou perceptível na recente apresentação que assisti do conjunto.

De todo modo, Omni é o início de uma nova fase e deve agradar aos fãs. Continuam apostando nos elementos do rock progressivo, nas orquestrações, na sonoridade speed/power metal. As letras continuam bem elaboradas. E as composições são muito boas. Um retorno à sua boa forma depois de três trabalhos que foram apenas regulares. Muito bacana ver o grupo retornando com tudo e calando a boca dos pessimistas que torciam contra. Bem-vindos de volta ao topo!

Nota: 8,0 / 10,0

Faixas:
      01)   Light Of Transcendence
      02)   Travelers of Time
      03)   Black Widow´s Web
      04)   Insania
      05)   The Bottom of My Soul
      06)   War Horns
      07)   Caveman
      08)   Magic Mirror
      09)   Always More
      10)   Omni: Silence Inside
      11)   Omni: Infinite Nothing