Texto publicado originalmente no site Consultoria do Rock
Por Davi Pascale
Paulo Ricardo & RPM – Hard e pop na mesma frequencia:
Muitas vezes o carisma de um artista acaba encobrindo seu talento. As pessoas começam a olhar com certa desconfiança e deixam de acompanhar o trabalho de artistas extremamente competentes por conta do visual do cantor, da sua popularidade com as garotas e outras bobeiras mais. Acabam pegando raiva sem mesmo ter ouvido algo do mesmo. Poderia citar uma infinidade de exemplos. Um exemplo polêmico no Brasil é o do eterno “RPM”, Paulo Ricardo. A coisa piorou ainda mais depois que na segunda metade da década de 90 ele se arriscou em uma (curta) carreira romântica. E, para ser honesto, os discos não eram ruins. Dentro daquilo que ele se propunha a fazer, eram projetos bem sucedidos.
É verdade que o rapaz fez alguns discos realmente questionáveis (como o fraco projeto PR.5), mas fez muita coisa legal também. E dentro do nosso tão amado rock n´ roll, inclusive. Nem só de Revoluções Por Minuto vive sua discografia. Aposto que muitos leitores que acompanham esse site, nunca ouviram o trabalho que o músico lançou no longínquo ano de 1993. Exatamente duas décadas atrás. E aposto que uma boa parte iria se apaixonar pelo disco se deixasse o preconceito de lado.
Na época, Paulo Ricardo Oliveira Nery de Medeiros, queria retomar o grupo RPM. Na década anterior, o grupo tinha sido o grande vendedor de discos do Brasil. O sucesso que esses caras fizeram na época do LP Rádio Pirata talvez só pudesse ser comparado ao estardalhaço causado pelo Secos & Molhados, nos anos 70. Até hoje ninguém conseguiu repetir o sucesso deles. Quem mais chegou perto foi o irreverente grupo Mamonas Assassinas, talvez o último verdadeiro fenômeno da música popular brasileira. Os caras eram perseguidos nos aeroportos, os shows eram verdadeiras histerias, capa de tudo quanto é revista, aparição em todos os programas de televisão. Venderam 2.500.000 de discos em uma época onde 500.000 era um megasucesso. Tiveram até LP´s pirateados. Pode acreditar, naquela época isso era raro. Viviam literalmente uma “beatlemania”. Portanto, não é de se estranhar essas novas tentativas de resgatar o RPM. Concordo que é praticamente impossível que repitam o sucesso daquela época, mas é bem provável que nasçam registros bem interessantes como esse álbum.
Quando reformulou a banda, o musico decidiu que não queria uma volta nostálgica. Não queria soar como os anos 80. Resolveu fazer um som mais voltado para a época. Daí a razão de eu falar que muitos leitores iriam adorar esse disco. Nesse LP, Paulo Ricardo resolveu flertar com o hard rock. Os teclados ganharam mais corpo, a bateria ganhou mais peso, as guitarras ganharam mais volume. Da formação original veio o guitarrista Fernando Deluqui (que já tinha participado dos primeiros trabalhos solo de Paulo como musico convidado). Completavam o time, o tecladista Franco Junior e o baterista Marquinho Costa.
O disco abre com a primeira musica de trabalho, “Perola”, uma musica bem pra cima que conta com um bom riff de Fernando Deluqui. “Genese” vem em seguida dando uma cara um pouco mais sombria. A primeira balada do disco vem em seguida com a belíssima “Veneno”. Mas, calma, não é uma balada sonsa, trata-se da famosa balada rocker, manja? “Surfista Prateado” traz uma sonoridade mais pop. O lado mais hard volta na ótima “O Fim”, incrível como essa letra ainda soa atual. “Outro lado”, faixa que encerra o lado A traz uma sonoridade pop/rock, mesclando momentos calmos com momentos mais pesados.
O lado B começa bem com “Hora do Brasil”. Trazendo uma sonoridade mais pesada e direta. “Eclipse” e “Ninfa” trazem o lado baladeiro de volta. Essa ultima já recebeu várias regravações de Paulo mas, na minha opinião, nenhuma chega perto dessa. O lado pop/rock reaparece com “Trem”, “Virus” e “Falsos Oasis”, que encerra o disco.
Quando lançou o famoso Revoluções Por Minuto, o musico dividiu o LP deixando as musicas que julgava possíveis hits no Lado A e as musicas que julgava de mais difícil compreensão no Lado B. Aqui não foi diferente. As musicas com uma pegada mais pesada ficaram, em sua maioria, na lado A. Enquanto as músicas mais comerciais, digamos assim, ficaram em maioria no Lado B.
Esse disco era pra ter sido lançado com o nome de RPM, mas o até então ex-tecladista Luiz Schiavon (que tinha direito do nome) abriu um processo judicial impedindo que eles se apresentassem com o nome que os tornaram famosos. Depois de muita conversa e negociação, Schiavon cedeu, porém com uma condição, teria que ter um outro nome na frente. Nada mais eficaz do que utilizar a velha prática de colocar o nome de seu líder na frente, até porque todos já sabiam quem ele era. Pronto! Nascia ali o projeto Paulo Ricardo & RPM.
Nas apresentações, algumas músicas antigas foram rearranjadas para combinar com esse novo repertorio. Caso da clássica “London, London” (musica escrita por Caetano Veloso em seu tempo de exílio, que fez grande sucesso com a versão teclado e voz gravada pelo RPM em 1985).
As letras desse disco seguem a mesma lógica de sempre. Nesse ponto, as características principais de seu líder aparecem por aqui intactas: oras com letras românticas, oras com criticas políticas. Paulo Ricardo, além de ser um bom showman, sempre foi um bom letrista. Portanto, é interessante parar para ler as letras enquanto se escuta o álbum. O disco também ganhou uma versão em espanhol que nunca foi lançada no Brasil. Apenas no exterior. Se houver algum colecionador por aí, corra atrás. Eu consegui o meu.
Muitos julgam esse LP como o terceiro trabalho solo de Paulo Ricardo (uma vez que ele sucedia o também ótimo Psicotropico e fugia um pouco da sonoridade clássica do grupo), muitos como o terceiro do RPM (alguns fãs, inclusive, têm pedido para que os músicos incluam canções desse disco no seu show atual). Eu sempre preferi considerá-lo um trabalho solo. E você? Já ouviu esse disco? Como o encara?
Faixas:
01. Perola
02. Gênese
03. Veneno
04. Surfista Prateado
05. O Fim
06. Outro Lado
07. Hora do Brasil
08. Eclipse
09. Ninfa
10. Trem
11. Vírus
12. Falsos Oásis
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