sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Nelson - After the Rain (1990):

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Por Davi Pascale
Texto publicado originalmente no site Consultoria do Rock

Esse é um dos artistas mais injustiçados que existe. Em 1990, Matthew e Gunnar Nelson, lançaram seu debut. Muito superior a muitos álbuns lançados nessa mesma época, os irmãos sofreram – e ainda sofrem – com preconceito por parte de público e crítica. Muito se fala a respeito deles e, ao mesmo tempo, nada se fala. As críticas e piadas são sempre em cima de seu visual. Os poucos que comentam sobre seu som, usam sempre a mesma expressão: farofa. Só que no decorrer da carreira, nunca repetiram a fórmula. E, por vezes, saíram da sonoridade hard rock. Isso deixa claro, ao menos para mim, que essas caras nunca ouviram um disco deles do início ao fim com a devida atenção.

Nunca dei muita bola para críticas, principalmente para críticos e publicações que tendem a ser preconceituosas. Depois de um bom tempo acompanhando a cena como leitor fica muito fácil distinguir quem são os  jornalistas que fazem um trabalho sério. Depois que comecei a trabalhar nessa área, firmei ainda mais minha opinião.

Aqui no Brasil muitas pessoas começaram a ridicularizar o trabalho da dupla sem ao menos terem escutado o disco. Aquela velha história: a imprensa tem o poder de colocar alguém para cima ou destruir esse alguém. Uma pena! Os rapazes trouxeram para seu trabalho tudo aquilo que aprenderam com seu pai: arranjos de alta qualidade, preocupação com melodias e ótima harmonia vocal. Para os desavisados, os garotos são filhos de Ricky Nelson, figura lendária do rock.

O disco que foi, e ainda é, desprezado no Brasil foi um marco no exterior. O grupo foi capa de todas as principais revistas da época (de People à Rolling Stone), emplacou 5 videoclipes na MTV (na época em que a emissora possuía relevância), foi atração de programas como Saturday Night Live e David Letterman, além de terem vendido mais de 6 milhões de cópias. Ou seja, longe de ser uma mera piada.

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Foto da banda completa

Aqui nesse disco, Nelson ainda era uma banda. Embora na capa aparecessem apenas os irmãos, na contracapa aparecia todo o grupo. Assim como na capa do VHS e no merchandising. Completavam o time: Brett Garsed, Joey Cathcart, Paul Mirkovich (Whitesnake, Peter Gabriel) e Bobby Rock (Vinnie Vincent Invasion, Hardline).


A tônica do álbum não é o peso. E sim, melodia e harmonia vocal. Logo de cara já percebemos isso em “(I Can´t Live Without Your) Love & Affection”, faixa que abre o disco. As vozes dobradas mostram um cuidado especial nas vocalizações. Marca registrada do disco e de bons artistas pop. Ou alguém vai querer me convencer que Beatles, Beach Boys e Everly Brothers não devem ser levados a sério?

“I Can´t Hardly Wait” vem na sequência e mantém o espírito alegre do disco com refrão marcante. Impossível ouvir a canção e não sair cantarolando por aí. A faixa-título diminui o andamento, mas não a alegria, e abre espaço para o megahit “Only Time Will Tell’. Único sucesso da dupla no Brasil!

“More Than Ever”, “Desire” e “Fill You Up” são as que mais se encaixam ao padrão hair metal, mesmo com as presenças marcantes de violões em duas das canções citadas. “Everywhere I Go” é mais uma bonita balada que poderia ter sido utilizada em qualquer trilha sonora da época. Não fica nada a dever para as baladas de grupos como Firehouse e Winger. Aliás, supera muitas escritas por esses conjuntos. “Bits And Pieces” e “Will You Love Me” trazem de volta a sonoridade pop/rock com influencia de hard apresentada no início do disco.

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Os famosos irmãos Matthew e Gunnar Nelson

Comprei esse álbum quando foi lançado. Na ocasião, era apenas uma criança de 8 anos de idade começando a descobrir as bandas que estavam na mídia até então. Já conhecia os grupos clássicos pela influência de meu pai e meu irmão mais velho. Hoje, com 34 anos de idade, reescuto o disco e sinto a mesma magia que senti na minha infância. Como dizem… O que é bom nunca envelhece. Uma boa canção nunca perde a graça. Não sou uma pessoa nostálgica e acompanho a cena atual, mas sinto falta da alegria e, principalmente, de melodias vocais bem trabalhadas. Tenho escutado discos fantásticos, mas não com essas características!

Para quem tiver interesse em conhecer esse trabalho um pouco mais a fundo, recomendo correr atrás de dois CD´s lançados pela dupla no final de 2010. Justamente para celebrar os 20 anos de seu lançamento. Intitulados “Before The Rain” e “Perfect Storm”. O primeiro, como o nome indica, traz o início de tudo. Ou seja, as demos que levaram à sua contratação com a Warner e ao álbum homenageado. O segundo, traz o resultado que isso trouxe aos rapazes. Ou seja, um concerto gravado no auge do sucesso que ajuda a trazer um pouco de nostalgia para aqueles que curtiram o movimento. Nelson chegava a levar até 60.000 espectadores em uma única noite. Entre os números de abertura estavam alguns grandes nomes da época: Tyketto, Cinderella, House of Lords e Lynch Mob.

Matthew e Gunnar Nelson
Capa de Before The Rain e Perfect Storm

No encarte do CD ao vivo, a dupla diz que se arrepende de nunca terem filmado um show daquela turnê e que aquele era o único registro que havia sobrevivido desse período. Ou seja, para aqueles que são fãs, um documento essencial. Ainda que a qualidade de gravação não seja fantástica.

Resumindo. É um disco pesado? Não! É um disco comercial? Sim! É um disco bobo? Jamais! Nesse álbum de estreia, já demonstravam que tinham herdado o talento de sua família e que possuíam grandes habilidades como compositores pop (no melhor sentido da expressão), além de serem cantores extremamente afinados. Vale a pena deixar o preconceito de lado e reviver um pouco desse momento inocente e mágico!

Track list:
01. (Can´t Live Without Your) Love and Affection
02. I Can´t Hardly Wait
03. After The Rain
04. Tracy´s Song / Only Time Will Tell
05. More Than Ever
06. Desire
07. Fill You Up
08. Interlude / Everywhere I Go
09. Bits And Pieces
10. Will You Love Me
11. Too Many Dreams (Bonus Track – Edição Japão)
12. Keep One Heart (Bonus Track – Edição Japão)

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