segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Kiss: Lick It Up - Um Novo Começo

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Por Davi Pascale
Publicado originalmente no site Consultoria do Rock

É capaz que a nova geração não saiba que o Kiss chegou a gravar e se apresentar sem suas famosas máscaras durante 12 anos. Depois de muita especulação, finalmente o quarteto mostrava seus rostos publicamente. Uma nova etapa iniciava-se.

Depois de uma turnê na América do Sul (incluindo o Brasil), o quarteto voltava para os estúdios de Nova York para o registro de mais um LP. Paul Stanley, que já tinha dado a idéia na época das gravações de Creatures of The Night, voltou com o assunto durante as gravações do novo disco. Ele queria abandonar as máscaras. Stanley disse ao seu colega Gene Simmons que achava essa a decisão mais acertada, uma vez que as vendas estavam caindo e os fãs não estavam aceitando bem o personagem de Vinnie Vincent, The Wizard. Era o momento de mudar. Simmons inicialmente era contra, mas depois de um tempo acabou concordando. Vinnie e Eric Carr ouviam a discussão sem se manifestar.

O baixista depois esclareceu em sua auto-biografia Kiss And The Makeup que teve mais um motivo que o levou a abandonar os personagens: a chegada da MTV. O linguarudo comentava que a situação era irônica porque a MTV unia pela primeira vez musica e imagem em proporções iguais, que era o seu ideal de show, mas o visual do Kiss não se encaixava com aquilo que os fãs de rock procuravam no momento.

Podemos perceber que a escolha para aparecerem pela primeira vez sem as famosas máscaras em uma transmissão da Music Television não foi por acaso. A jogada deu certo! O álbum Creatures of The Night, cultuado nos dias de hoje, teve uma receptividade morna na época. Lick It Up, por outro lado, trouxe o Kiss de volta à mídia. A banda recebeu disco de ouro pela vendagem. Algo que não ocorria há algum tempo…

Mas nem tudo foi um mar-de-rosas nesse período. Se por um lado, o quarteto demonstrava força para vir com algo novo e conquistar um novo público. Por outro, as crises internas recomeçaram. E a briga era justamente com o mais novo integrante, Vincent John Cusano. Ou seja, o Vinnie Vincent.

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As gravações ocorreram bem. Mais uma vez, a banda demonstrou interesse pelo lado compositor do músico que acabou entrando como co-autor de 8 das 10 faixas do disco. Curiosamente, a faixa-titulo (talvez a mais conhecida do álbum) por pouco não ficou de fora do LP. Vinnie mostrou a melodia para Paul Stanley que mostrou desinteresse. Só depois que Gene pediu para que ouvisse novamente é que o cantor mudou de idéia. Uma que foi registrada em demo, mas ficou de fora foi “So Many Girls, So Little Time” que depois foi gravada pela banda Keel, no álbum The Right to Rock, produzido por Gene Simmons.

A outra canção a ser trabalhada nas rádios foi “All Hell´s Breakin´ Loose”, composta pelo baterista Eric Carr. O músico ficou sem reação quando viu sua musica ser aceita, mas ficou incomodado com a idéia de Stanley querer incluir um rap na composição. Carr dizia que imaginava a musica em uma pegada totalmente distinta, um jeito meio Led Zeppelin.

O disco foi registrado em diversos estúdios. Entre eles: Right Track Studios, Atlantic Studios, Hit Factory e Record Plant. De músicos convidados, dessa vez, somente Rick Derringer no solo de “Exciter”. Durante muito anos acreditava-se que isso fosse um boato. Mas depois de um tempo tanto Vinnie quanto Derringer reconheceram a história. A versão demo, contudo, é tocada por Vincent. O guitarrista diz que acredita que tenham feito isso por não terem gostado do solo que ele criou.

A sonoridade do álbum é meio que uma continuação de Creatures of the Night. Aquele heavy/rock direto com guitarras no talo, bateria forte e vocal cantado aos plenos pulmões. Os grandes destaques, para mim, ficam por conta do trabalho vocal de Paul Stanley e da bateria de Eric Carr.

A dupla Simmons/Stanley chegou a afirmar em algumas entrevistas que apesar de Vincent aparecer na capa e ter seu nome creditado no disco, nunca foi um membro oficial. O rapaz não chegou a assinar o contrato com a banda. Não concordava com o valor e as exigências da dupla. Para piorar, Vinnie se sentia responsável por colocar o Kiss de volta à mídia e pedia participação nos lucros de tudo em que envolvia o nome do grupo. Por conta disso, começaram a procura de um novo substituto.

As coisas foram piorando durante a turnê. Vinnie reclamava de não ter muita visibilidade nos concertos e começou a provocar seus colegas fazendo números solos cada vez mais longos. Reza a lenda que depois do show realizado em Los Angeles em Janeiro de 1984, o músico se desentendeu com Paul Stanley a ponto de Gene, Eric Carr e alguns roadies terem que segurá-los para não saírem no braço. Não sabemos até onde a historia é real e até onde é ficção, mas é fato que Paul guarda rancor dessa época. No DVD Kissology 2, o cantor afirma que considera Creatures of the Night um álbum muito melhor do que Lick It Up e vai além: “A única razão que enxergo para que mais pessoas comprem o Lick it Up do que o Creatures of the Night é pelo fato de estarmos sem maquiagem na capa. Essa é a única razão”.

A saída do musico é um mistério. Há quem diga que ele saiu por conta própria, há quem diga que ele foi expulso da banda. Simmons no documentário X-Treme Close Up dá a entender que o guitarrista foi expulso ao declarar “deixe-me mostrar as botas que o chutaram para fora” e levantar seu pé para a câmera. Outro mistério que se permanece. Por que se não havia contrato assinado, chutá-lo de onde?

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Na turnê, musicas como “Exciter”, “Gimme More” e “Fits Like a Glove” estavam sempre presentes. Essa última, por sinal, manteve-se durante muitos anos nos shows do grupo.

Os shows deixaram Gene Simmons inseguro. “Pela primeira vez, não sabia o que fazer em cima de um palco”, declarou o músico em sua auto-biografia. A banda sabia que não tinha como manter os mesmos números, mas não queria deixar de fazer um mega espetáculo. Algumas coisas foram mantidas como o número em que o baixista cospe fogo, explosões de fogos, mas grande parte teve que ser reinventada.

Uma curiosidade que vale citar é justamente a guitarra de Vinnie que foi feita por Grover Jackson. O musico queria um modelo que chamasse a atenção. “Ele disse que tinha algo para mim e mostrou o corpo de guitarra do Randy Rhoads. Ele não me disse isso naquele momento porque, infelizmente, Randy havia morrido e não tinha tido a oportunidade de utilizá-la em um show de grandes proporções. Ele pediu para que eu mostrasse para Paul e Gene para ver a reação deles. Eles adoraram”. Reza a lenda que o modelo utilizado por Vincent é limitadíssimo, tendo apenas 40 unidades no mundo. Esse instrumento pode ser visto com clareza no vídeo-aula “Metal Tech”.

Outra curiosidade legal é que em vários shows desta turnê, o Kiss executou o cover de “Whole Lotta Love” do Led Zeppelin (versão que pode ser escutada no bootleg Simmon’s Meteor). Era a primeira vez que eles incluíam um cover no setlist em mais de 10 anos.

Houve uma tentativa de se livrar de Vincent no final da turnê européia. Paul Stanley chegou inclusive a entrar em contato com o baixista Dana Strum (Slaughter), por intermédio do Ozzy Osbourne, pedindo por indicação de guitarrista. Como não conseguiram encontrar um substituto a tempo, tiveram que agüentar o rapaz por mais um tempo. A idéia era terminar de cumprir os compromissos que já haviam sido agendados.

LickItUp-outtake-1Independente de como tenha sido sua saída definitiva, ela aconteceu. E em Abril de 1984, Vincent Cusano começou a trabalhar no que viria a ser o Vinnie Vincent Invasion. Finalmente realizaria seu grande sonho de ser o centro das atenções, o principal compositor, único guitarrista e seu próprio chefe. Sua manobra não deu certo. A banda encerrou após 2 discos gravados. O Kiss não demoraria muito para encontrar um novo substituto, Mark St John, mas essa fica para a próxima…


Faixas:
01) Exciter
02) Not For The Innocent
03) Lick It Up
04) Young And Wasted
05) Gimme More
06) All Hell´s Breakin´ Lose
07) A Million To One
08) Fits Like a Glove
09) Dance All Over Your Face
10) And On The 8th Day

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