Por Davi Pascale
Alexandre Magno Abrão, caso estivesse vivo, estaria completando hoje 45
anos. Metade de sua vida passou ao lado do grupo santista Charlie Brown Jr, considerado
um dos grandes destaques da cena brasileira dos anos 90. Pelo menos para mim,
poucos grupos chamaram atenção nesse período. E eles foram um deles. E não há
como negar... o cara foi a alma do grupo.
Como um bom rockstar, nunca foi unânime e nem queridinho da mídia.
Aliás, essa é uma das diferenças que tenho com boa parte dos colegas de
profissão. Grande parte daquilo que é considerado genial pelos meus colegas,
considero uma tortura. E esse problema de reconhecer as qualidades de um
artista mais popular nunca tive. Nunca entendi essa teoria de que artista que
faz sucesso não pode ser levado a sério. Sempre preferi RPM ao Fellini,
Raimundos ao Acabou La Tequila. Nunca duvidei da qualidade do Charlie Brown.
Chorão tinha muitas qualidades que faltam para artistas considerados
mais sérios. Tinha um grande carisma, seus shows podiam chegar à 3 horas e ele
mantinha o público na palma da mão todo o tempo. Era um personagem
interessante. O fato de falar o que acreditava, ajudava nisso. Polêmica sempre vendeu, não é segredo, mas é
um terreno perigoso. O problema é conseguir causar polêmica sem perder a
credibilidade entre seus admiradores. E o cara conseguia isso. Tinha ainda o
lado letrista também. A linguagem malandra, adquirida em seus tempos de
skatista, ajudava a manter o frescor do grupo. Nem infantil, nem intelectual.
Dava aquele ar de atitude que é esperado dentro do rock n´ roll e ajudava a
construir a identidade do grupo.
Quem desmerece sua trajetória, gosta de dizer que o Charlie Brown foi
jogada de gravadora. Acho difícil acreditar. A banda não surgiu da noite para o
dia e seu início não foi muito glorioso. Os caras penaram para conseguirem seu
espaço. Transpiração Contínua Prolongada,
seu debut, só foi lançado em 1997, a banda já tocava na noite há pelos menos 5
anos. Pode ser pouco em comparação à que outros grupos ralaram, mas é muito
para quem está em uma jogada unicamente por dinheiro. Se não vira em 1 ou 2
anos, partem pra outra. E não caíram no gosto logo de cara. Assisti eles pela
primeira vez, ainda em 97, abrindo o show do Offspring no Olympia. Foi uma das
3 vezes que vi uma banda iniciante ser vaiada em numero de abertura. Não contentes com as vaias, o público arremessava objetos em direção aos músicos. E das 3, foi a única que
não desistiu e conseguiu driblar a história. Tudo bem, o cara não era santo. Teve alguma atitudes questionáveis (como a polêmica briga com Marcelo Camelo), mas tinha seu valor.
Chorão era irrequieto. Estava sempre envolvido em alguma coisa. Mesmo
nunca tendo dado um grande distância entre um disco e outro, o cara ainda arrumava
tempo para fundar um espaço para skatistas (Chorão Skate Park), trabalhar nos
DVD´s do grupo, nos clipes e até mesmo na produção de um filme: O Magnata. O longa não fez muito
sucesso, mas era a cara dele. Misturava sexo, drogas, rock n roll. Apresentava
uma linguagem direta, sem ficar medindo muitas palavras. Não era filme para
agradar crítico de cinema, nem para assistir ao lado de seus pais.
Cantor tinha domínio do público |
Se já não era muito querido pelos críticos no auge, quando passavam por
momentos delicados então o ataque era total. O cantor foi o único que nunca
saiu do grupo. Ele e o baixista Champignon, coincidentemente os dois que nos
deixaram, foram os que sofreram os ataques mais pesados quando
ocorreu a separação da banda após o bem sucedido Tamo Aí Na Atividade. Confusão até hoje não explicada para seus
fãs. O ataque em cima de Chorão era esperado. Afinal, os 3 saíram juntos e ele
ficou sozinho. Não tinha como a história ser diferente.
Infelizmente, em 6 de Março de 2013, o rock brasileiro que já não ia
muito bem, ficou mais pobre. Alexandre Magno Abrão foi encontrado morto em um
apartamento bagunçado, aos 42 anos, vítima de
uma overdose de cocaína. A juventude perdia um ídolo e o rock perdia um dos
poucos grupos realmente interessantes que surgiu nos últimos anos. Faz falta!
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