quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Kiss – Love Gun Deluxe Edition (2014):





Por Davi Pascale

Em 1977, os mascarados do Kiss lançavam seu sexto álbum de inéditas. Agora, em 2014 retorna ao mercado em uma edição dupla, contendo o disco original totalmente remasterizado e um segundo formado por raridades.

Os músicos estavam no auge de sua popularidade. Depois do estrondoso sucesso de Kiss Alive! (com seu primeiro hit, a versão ao vivo de “Rock n´ Roll All Nite”) e Destroyer (com a megabalada “Beth” disparando cada vez mais nas paradas), os rapazes conquistaram de vez os roqueiros da época. 1977 era o auge do punk. A cena que havia dominado as paradas nos Estados Unidos com os Ramones um ano antes, chegava agora com força total na Inglaterra com a explosão do Sex Pistols. Aqueles que não se identificavam com a linguagem punk, contudo, voltavam sua atenção para grupos como Thin Lizzy, Aerosmith, Queen, Ufo, AC/DC e Kiss.

A banda chegava ao período que é conhecido como kissmania. O termo é um trocadilho com beatlemania. Embora sejam dos Estados Unidos, alguns de seus grandes ídolos eram justamente a galera da British Invasion. Grupos como Rolling Stones, The Who, Kinks e, claramente, os Beatles foram a trilha sonora da adolescência dos músicos. Os Beatles atingiram em 1964, um sucesso nunca visto antes. A galera brincava dizendo que eram o Elvis multiplicado por 4 (já que também eram um quarteto). Naquela época, encontrava-se tudo que se podia imaginar do grupo de Lennon/Mccartney. Bonecos, fotos oficiais, revistas e mais revistas com os músicos na capa. Os shows eram uma verdadeira histeria. À esse período se deu o nome de beatlemania. Em 77, quem estava vivendo isso era o Kiss. Chegava ao mercado bonecos, lancheiras, revistas em quadrinhos, maquina de pinball... A lista é grande. Os shows ficavam cada vez mais grandiosos e cada vez mais lotados... 

Grupo já tinha grande linha de merchandisings

Depois da sofisticação de Destroyer, os músicos retornaram à simplicidade em Rock n Roll Over. E aqui não é diferente. Embora conte com a produção de Eddie Kramer, não havia aqui efeitos sonoros, músicas interligadas, orquestrações. Era um trabalho de rock n roll básico. Guitarra, baixo, bateria, voz. E fim. De diferente, apenas um teclado atrás do arranjo de “Christine Sixteen”. Gene Simmons explica no encarte. “Essa musica nasceu no teclado. Sempre fui fã de doop-wop. No lugar de ter um solo, os caras falam. Até Elvis fez isso”.

O álbum trazia uma sonoridade um pouco mais pesada do que o trabalho anterior. E também trazia a estréia de Ace Frehley nos vocais. O músico havia sido eletrocutado em uma apresentação na Florida e a banda sugeriu que escrevesse uma musica sobre o tema. Foi daí que nasceu “Shock Me”. Paul e Gene insistiram para que fizesse sua estréia enquanto vocalista. Ace se sentia tão inseguro que pediu para que Eddie Kramer desligasse a luz da sala do estúdio para se esquecer que estavam assistindo-o.
 
A música que fecha o disco é um cover. “Then She Kissed Me”, canção escrita originalmente por Phil Spector e que chegou às paradas de sucessos pela primeira vez com o grupo feminino The Crystals, da época da Motown. Originalmente, chamava-se "Then He Kissed Me". Paul Stanley adaptou a letra. No encarte, comenta que hoje se arrepende de tê-la gravado. Que considera que a versão não faz justiça à original. Outros grandes destaques são “I Stole Your Love”, “Got Love For Sale”, “Plaster Caster” e, é claro, a faixa título.

Reedição traz replica da arma de papel que acompanhava a primeira prensagem em LP


O segundo CD é formado por uma entrevista de Gene Simmons concedida à uma rádio de Montreal, poucas horas antes de uma apresentação na cidade, 7 versões demos e 3 ao vivo. Dessas todas, apenas a demo de “Reputation” já havia sido lançada anteriormente. As demais são inéditas.

Gravadas em Capital Centre, as versões ao vivo são extremamente cruas. Foi bacana ouvir, mas conheço registros melhores dessa turnê.  Aqui, tinham alguns momentos em que Peter Criss dava umas atravessadas de tempo. Tenho bootlegs dessa turnê onde isso não acontece. Não entendi a escolha dessa apresentação em específico. As versões demos contam com ótima qualidade de som e a mais bacana de todas é a inédita “I Know Who You Are”. Minha única queixa é que eles deixaram de fora as versões demos de “Christine Sixteen” e “Got Love For Sale”, cujos registros foram realizados por Gene Simmons e os irmãos Van Halen. Na entrevista, o mais interessante é ouvir Gene dizendo que não consideraria impossível que o Kiss se apresentasse um dia sem as máscaras. Um depoimento desse quando estavam no auge é, no mínimo, surreal. Ainda mais porque quem conhece a história da banda sabe quanto ele relutou para tirar as maquiagens nos anos 80.

O relançamento foi produzido pelo atual guitarrista do Kiss, Tommy Thayer, e traz um encarte repleto de fotos e comentários dos músicos. Acompanha também uma reprodução da arma de papel que acompanhava a primeira tiragem de LPs. Para quem é colecionador de discos e para quem é fã do quarteto, trata-se de um item indispensável.

Nota: 9,0 / 10,0
Status: reedição de álbum clássico

Faixas:
CD 01:
01) I Stole Your Love
02) Christine Sixteen
03) Got Love For Sale
04) Shock Me
05) Tomorrow And Tonight
06) Love Gun
07) Hooligan
08) Almost Human
09) Plaster Caster
10) Then She Kissed Me

CD 02:
01) Much Too Soon (Demo)
02) Plaster Caster (Demo)
03) Reputation (Demo)
04) Love Gun (Teaching Demo)
05) Love Gun (Demo)
06) Gene Simmons Interview 1977
07) Tomorrow And Tonight (Demo)
08) I Know Who You Are (Demo)
09) Love Gun (Live ´77)
10) Christine Sixteen (Live ´77)
11) Shock Me (Live ´77)

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