sábado, 22 de fevereiro de 2014

Gross: Use o Assento para Flutuar (2013)



Por Davi Pascale

Muita gente não gosta do Cachorro Grande. Eu sempre gostei. Desde o primeiro disco. Aquele som meio rock de garagem anos 60, meio Beatles/meio Stones, sempre chamou minha atenção. É exatamente isso que Marcelo Gross nos entrega em seu primeiro trabalho solo. Um rock influenciado pela cena sessentista, oras com uma sonoridade mais crua e direta, oras com uma cara mais psicodélica.

Assim como em sua banda principal, em vários momentos os arranjos nos remetem à cena britânica. Seja em nomes mais modernos como Oasis, seja em nomes que mudaram a historia do rock n´ roll como Beatles, Stones e Kinks. Se bem que o próprio Oasis bebia na fonte dessas bandas, então acaba dando no mesmo.

Quem é fã do grupo de Porto Alegre, certamente irá se deliciar com a estréia de Gross. A sonoridade de seu trabalho não se distancia muito da proposta do Cachorro. Há várias linhas melódicas similares, mas não sei se concordo muito com o texto que vem no OBI do meu vinil. Ali está escrito que ele resgata a sonoridade dos primeiros discos do grupo. Na verdade, ele me recordou mais a sonoridade de álbuns como “Todos os Tempos” e “Cinema” do que dos dois primeiros.

A principal diferença entre seu trabalho solo e o de seu grupo, acredito que seja o conteúdo das letras. Aqui elas contam com um tom mais pessoal. Mas o que mais me chamou a atenção mesmo foi reparar que todos esses arranjos, que estão muito bem executados, foram gravados por apenas 3 pessoas: o baterista Clayton Martin, o baixista Fernando Papassoni e o próprio Gross. E o que me deixou ainda mais impressionado foi descobrir que a base do disco (ou seja: bateria, baixo e guitarra) foi gravado ao vivo no estúdio. Os overdubs foram utilizados apenas para adicionar os demais instrumentos que costuram as faixas.

Músico mantém sua influência de Beatles e Stones em sua estreia solo

Marcelo Gross é conhecido por ser guitarrista e compositor do Cachorro Grande. Entretanto, no grupo seu trabalho vocal fica mais voltado aos backings. Aqui ele ficou responsável pelo trabalho vocal como um todo. Embora não tenha o mesmo domínio vocal que tem na sua guitarra, o rapaz se sai bem e atinge os objetivos.

Legal perceber que as mudanças entre os dois projetos não são drásticas, sinal de que sempre fizeram um trabalho honesto. Entretanto, me preocupa essa idéia de projeto solo em paralelo. No Brasil, 80 % dos artistas que começaram com essa brincadeira, depois de um tempo, acabaram deixando o grupo em segundo plano. Foi assim com Frejat, Nando Reis, Marcelo Camelo, Marcelo D2... Espero que o mesmo não aconteça com esse que é um dos poucos grupos decentes que surgiu nos últimos anos na cena rock brasileira.


O disco é muito bom e prende a atenção do ouvinte. Certamente, um diferencial nessa cena rasa que o rock brasileiro vem atravessando. Faixas de destaque ficam por conta de “Trilhos”, “O Buraco da Frestra”, “A Hora de Rolar”, “Hoje Não Vai Dar” e “Nessa Trip”. 

Nota: 08/10
Status: rock vintage  

Faixas:
01) Trilhos
02) Disfarça
03) Eu Aqui e Você Nem Aí 
04) A Hora de Levantar
05) O Buraco da Fresta
06) A Hora de Rolar
07) A Minha Paciência
08) Se Libertar
09) Hoje Não Vai Dar
10) Movimento Contínuo
11) Nessa Trip
12) Algo Real

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