Por Davi Pascale
Quando abandonou os Titãs, muitos
acreditaram que sua decisão era impulsiva e errada. O tempo veio mostrar que
não. Na verdade, o baque foi maior para a banda que, mais uma vez, perdia um de
seus grandes talentos. Nando sempre foi um músico competente. Mais do que isso,
sempre foi um compositor de mão cheia. Soube guiar sua trajetória melhor do que
seus ex-companheiros.
Muitos dizem que seu trabalho não
é rock. Que é MPB. Diria que é um pouco de cada, mas se fomos levar essa
acusação a ferro e fogo também seria “problemático” dedicarmos tempo à artistas
como Rita Lee, Secos & Molhados, Mutantes... Não é de hoje que existe a
influência de MPB dentro do rock brasileiro. E vice-versa. Quando bem feito,
não vejo problema nenhum nisso.
Para trabalhar em Jardim-Pomar o músico trouxe de volta
as mãos e o conhecimento de Jack Endino. Renomado produtor norte-americano
responsável por dar uma cara ao que ficou conhecido como grunge. O mesmo Jack
Endino que produziu o álbum de estreia do Nirvana. E o mesmo Jack Endino que
produziu o polêmico (e brilhante) Titanomaquia.
Lembra a acusação de que os Titãs estavam tentando embarcar na onda do grunge? Pois é...
“Infinito-Oito”, “Deus Meu” e “Inimitável”
abrem o CD com um ar rock n roll e com uma forte influência de 70´s. Uma pegada
meia Led Zeppelin, meia Rolling Stones. Não é nenhum choque, na verdade. Nando
já havia feito essa brincadeira em “No Recreio” anos atrás.
Novo álbum traz Jack Endino, Mike McReady, Peter Buck e ex-parceiros do Titãs |
Muito relacionado à emblemática
obra dos Titãs, muitos se esquecem que o ruivão é um artista multi-facetado.
Que já teve composições suas gravadas por artistas de diferentes estilos. De
Cidade Negra à Cássia Eller. Esse ecletismo reflete em suas composições. “Lobo
Preso em Renda” e “Pra Onde Foi” são rocks mais calmos com uma forte influência
de Neil Young. Os violões sutis de “Água-Viva” vão de encontro à velha MPB. “Concórdia”
que havia sido gravada por Elza Soares em Vivo
Feliz ganha um tom melancólico e old school. “Só Posso Dizer (São Paulo)” é
a típica balada feita para tocar nas rádios. Enfim, temos um pouco de tudo
nesse trabalho.
Mike McReady (Pearl Jam) e Peter
Buck (R.E.M.) emprestam seus “dotes guitarrísticos”, mas acredito que a maior
curiosidade de seus velhos seguidores seja a faixa “Azul de Presunto”, onde
traz de volta seus velhos parceiros Branco Mello, Paulo Miklos, Sérgio Britto e
Arnaldo Antunes. Além de um curioso trio feminino formado por Luiza Possi,
Tulipa Ruiz e Pitty. A canção é marcada por um ótimo gingado e participações
sutis.
Lançado de maneira independente, Jardim-Pomar apresenta, mais uma vez,
um trabalho bem acabado e inspirado. Com uma caprichada arte gráfica, excelente
produção e composições fortes, o disco torna-se uma audição intrigante. Escute!
Nota: 8,0 / 10,0
Status: Eclético e consistente
Faixas:
01)
Infinito Oito
02)
Deus Meu
03)
Inimitável
04)
4 de Março
05)
Só Posso Dizer (São Paulo)
06)
Concórdia
07)
Azul de Presunto
08)
Lobo Preso em Renda
09)
Pra Onde Foi
10)
Como Somos
11)
Água-Viva
12)
Pra Musa
13)
Só Posso Dizer (Seattle)
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