quinta-feira, 24 de março de 2016

Álbuns Clássicos: Traveling Wilburys –Vol. 1 (1988)



Por Davi Pascale

Hoje, optei por não falar de um lançamento, mas sim de um álbum clássico. E coloca clássico nisso. O termo pode ser aplicado à sonoridade do disco (totalmente focado nas raízes do rock n roll), pode ser aplicado aos músicos envolvidos e principalmente por ter sobrevivido tão bem à prova do tempo.

Traveling Wilburys nasceu de maneira totalmente despretensiosa. George Harrison estava retornando à ativa depois de um hiato de 5 anos e havia recém-lançado o LP Cloud Nine. Um dos favoritos dos críticos e fãs. Particularmente, considero esse e o histórico All Things Must Pass seus melhores discos solo. Várias músicas ficaram na mente dos fãs: “Devil´s Radio”, “Got My Mind Set On You”, “When We Was Fab”....

Outra que é marcante é o hit “This Is Love”. E foi justamente essa canção, a responsável por juntar esses monstros do rock. Os executivos da gravadora procuraram o beatle pedindo uma faixa inédita para que pudessem utilizar como lado B do compacto. E é aí que nasce o histórico projeto Traveling Wilburys.

George estava sem nenhuma ideia para compor. Jeff Lynne (Electric Light Orchestra), que havia ajudado a produzir seu último disco, o aconselhou a entrar em contato com Bob Dylan e perguntar se havia a possibilidade de utilizarem o estúdio que havia construído em sua casa. O musico aceitou e disse que poderiam ficar o tempo que quisessem. Harrison e Lynne combinaram de se encontrar na casa de Dylan para tentar compor uma música. George Harrison sabia que Jeff estava trabalhando com um de seus maiores ídolos, o cantor Roy Orbison, e perguntou se existia a possibilidade dele aparecer por lá. Tudo acertado, saíram em caminho ao estúdio.

Disco foi o último álbum de Roy Orbison

No meio do trajeto, George Harrison, lembrou que não estava com nenhuma de suas guitarras no carro. Para não retornarem tudo, resolveram fazer uma rápida visita ao músico Tom Petty e questioná-lo se poderia emprestar uma de suas guitarras para a sessão. Assim que o musico soube que Dylan e Orbison estariam por lá, disse que gostaria de ir junto. Assim nascia o Traveling Wilburys.

Os músicos se juntaram. Cada um foi escrevendo um trecho, uma frase e assim nasceu “Handle With Care”. Ao entregar a canção para a gravadora, os executivos ficaram boquiabertos com o que tinham em mãos e decidiram que aquilo era grande demais para ser utilizado em um lado B de um compacto. Acabaram preenchendo o compacto com “Breath Away From Heaven”, uma faixa menor de Cloud 9. Como não eram bobos, questionaram se havia a possibilidade daquela reunião virar um disco. George Harrison se sentiu atraído com a oportunidade de voltar a trabalhar em grupo. Algo que não fazia desde os tempos dos Beatles. E tratou de persuadir os colegas.

Como todos eram amigos, não houve pressão, não havia ego. Todos tinham liberdade para compor ou para cantar. A gravação aproximou os músicos ainda mais. Talvez, por isso o resultado seja tão divertido. Os músicos levaram tão na brincadeira que resolveram apelidar a banda com uma piada interna. Jeff Lynne costuma dizer durante as gravações “we´ll bury in the mix” (iremos desaparecer com isso na mixagem). Por conta disso, começaram a se referir aos equipamentos do estúdio como wilburys. Daí veio a expressão. Incialmente se chamariam The Trembling Wilburys. Jeff Lynne sugeriu trocar Trembling por Traveling. Todos concordaram.

Projeto nasceu de maneira despretensiosa

Vol. 1 é um álbum bem variado. É fácil reconhecer as marcas principais dos compositores com uma rápida audição. Além de “Handle With Care”, fica nítida a as mãos de George Harrison em “End Of The Line” e “Heading for The Light”. Assim como também é fácil reconhecer as mãos de Dylan em “Dirty World” e “Tweeter And The Monkey Man”.

Os músicos seguiram sua tradição. Fizeram um LP com 10 faixas, pouco mais de 30 minutos de gravação, grande cuidado com as melodias vocais, fortes influências do folk e do início do rock  n roll. “Rattled” tem uma pegada bem rockabilly, bem anos 50. “Not Alone Anymore” traz todas as características de Roy Orbison. Parece ter vindo direto de algum disco do cantor. “Last Night” tem uma pegada meio reggae. É bem para cima.

O disco foi bem recebido. “Handle With Care” se tornou um grande sucesso. Infelizmente, a alegria duraria pouquíssimos meses. Em 6 de Dezembro de 1988, Roy Kelton Orbison, foi encontrado morto, vítima de uma parada cardíaca. A banda nunca se apresentou ao vivo. Em 1990, os quatro músicos sobreviventes se reuniram para fazer um segundo e último disco, mas deixaremos isso para outra oportunidade.

Faixas:
      01)   Handle With Care 
      02)   Dirty World
      03)   Rattled
      04)   Last Night
      05)   Not Alone Any More
      06)   Congratulations
      07)   Heading For The Light
      08)   Margarita
      09)   Tweeter And The Monkey Man
      10)   End Of The Line

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