terça-feira, 5 de janeiro de 2016

RPM – 30 Anos de Revoluções Por Minuto:

A equipe do blog Riff Virtual se encontra de férias. Retomaremos nossas atividades no dia 20 de Janeiro. Enquanto essa data não chega, trazemos para vocês alguns de nossos melhores posts. Recordar é viver. Confira!



Por Davi Pascale

Certamente não dava para deixar essa data passar batida. Nesse mês de Maio comemoramos três décadas do álbum de estreia do RPM. Tanto o grupo quanto seu líder, Paulo Ricardo, sempre geraram relação de amor/ódio, mas quando se trata do disco em questão, todos colocam o rabinho entre as pernas. Mesmo as publicações que os massacram, quando resolvem elaborar listas de melhores álbuns da década de 80 ou até mesmo de melhores discos da música brasileira, acabam elegendo-o. E não é por acaso...

Não consegui descobrir o dia exato, apenas que foi lançado em Maio de 1985. O Brasil passava por um momento delicado. Tancredo Neves havia falecido há pouco tempo, poucos meses após assumir a presidência. Sua posse ocorreu em 15 de Janeiro de 1985 e marcava o fim do regime militar. É por conta desse feito que o Cazuza dá seu famoso discurso no final da canção “Pro Dia Nascer Feliz” durante o primeiro Rock in Rio. A notícia deu uma abalada no povo. Fora isso, aquela velha história que já conhecemos. Inflação correndo solta, censura pra todo lado, por aí vai...

Por que estou relembrando isso? Por que todos esses dados se cruzam de algum modo emRevoluções Por Minuto. Tudo aqui foi pensado. Roupa, cabelo, arranjos, discurso. Os caras sabiam o que estavam fazendo. Em depoimento ao livro Quem Tem Um Sonho Não Dança, o cantor do RPM afirma que “o primeiro disco define o que o RPM queria. Era uma coisa libertária, de garotos que tinham crescido na época da ditadura e queriam, antes de qualquer coisa, desestigmatizar a palavra ‘revolução’, que o golpe militar de 64 teimou em querer usar para definir seu golpe”.


Paulo Ricardo era critico musical antes de assumir o comando do RPM

Tendo atuado como jornalista em um passado não muito distante, Paulo Ricardo estava por dentro de tudo o que estava rolando em nosso país. E mais do que isso, de tudo que estava rolando fora de nosso país. Se por um lado, as letras retratavam nosso cotidiano, de outro, os arranjos traziam o que havia de mais moderno na cena internacional. Nos seus anos de crítico musical, trabalhou como correspondente internacional da SomTrês. Experiência que abriu os olhos do rapaz para todo um universo musical que até então não era muito corriqueiro em nosso país. Começou a se corresponder através de cartas com Luis Schiavon, deixando claro o som que queria fazer. Assim que chegou de Londres, mostrou algumas canções que tinha na cabeça e deixou claro de uma vez por todas sua proposta: fazer um som new romantic (uma vertente da new wave, muito popular na Inglaterra na década de 80) cruzando com o progressivo. Foi daí que veio o lance dos sintetizadores, da bateria eletrônica, do baixo marcado.

As questões políticas aparecem em várias letras do disco. Principalmente, nas canções presentes no lado B. A faixa-título fazia referência direta à todos os problemas que o país estava atravessando. Os caras foram tão direto na ferida que a canção foi proibida de ser tocada nas rádios. Sim, o Brasil estava passando por uma transformação, mas tudo estava no começo ainda e a censura demoraria mais alguns anos para sumir. “Juvenília” é uma crítica aos anos de chumbo do Brasil. “Liberdade /Guerra Fria”, questionava o conflito entre Estado Unidos e União Soviética.

A cena BRock ainda estava dando seus primeiros passos. Iniciados poucos anos antes com a explosão do compacto “Você Não Soube Me Amar” da Blitz, o movimento começava a ganhar força com o sucesso da primeira edição do Rock In Rio. O Brasil começava a descobrir que havia uma cena forte rolando no país. Em pouco tempo, o movimento se tornaria o momento de maior popularidade do rock brasileiro desde a explosão da Jovem Guarda. O RPM é um marco desse período. Seu LP de estréia vendeu 500.000 LPS quando o desejo dos executivos era de que vendesse 50.000 para cobrir os gastos. Quando entraram em estúdio para registrar esse LP, a realidade era um pouco diferente. A maior parte das programações das rádios era montada por canções internacionais. Foi por conta disso que nasceu a canção "Rádio Pirata". Uma crítica contra essa situação.


Elementos da new wave e do progressivo rondam o LP

Havia um ceticismo em torno do álbum, já que a gravadora não havia gostado da capa do disco. Mas a banda bateu o pé que era aquela arte que eles queriam. A imagem foi criada pelo artista Alex Flemming em cima de uma foto do Rui Mendes. Quem conhece a capa do LP, notará que o baterista P.A. não aparece nela. A razão era muito simples. O musico entrou durante as gravações do álbum e quando o acordo foi fechado (inicialmente, queriam utiliza-lo como musico contratado, mas ele se negou), a imagem da capa já estava pronta. Naquela época, fazia-se a arte de capa antes do término das gravações por ser um processo extremamente demorado.

RPM foi um fenômeno. Não apenas de vendas, mas também de impacto na juventude. Os músicos tinham seus rostos estampados em tudo quanto era lugar, suas apresentações eram uma verdadeira histeria, os rapazes eram perseguidos nos aeroportos. Não demorou muito para que começassem à associa-los aos 4 rapazes de Liverpool e a explosão da Beatlemania.

Sem querer, os garotos criaram uma aproximação do rock brasileiro com o universo do remix. Naquela época, antes da gravadora investir na criação de um LP, os artistas eram testados com um compacto. Só que o compacto do grupo paulista não emplacou. E alguém de dentro da gravadora teve a ideia de pedir para que alguns DJs (entre eles, o hoje cultuado Iraí Campos) fizessem alguns remixes de "Louras Geladas" para que pudessem atacar a música nas danceterias. Deu certo! Em pouco tempo a música foi para as rádios e a gravadora armou um esquema para explorar o recurso a partir dali. Foi por conta desse auê que nasceu uma série de LPS, que fez muito sucesso na época, chamada Dance Mix.

Revoluções Por Minuto foi extremamente pensado. O Lado A trazia as canções mais dançantes, mais comerciais. O lado B as músicas mais densas, mais sombrias, repletas de críticas políticas. RPM também foi um marco em relação à shows, trazendo tecnologias inéditas ao nosso país, mas deixaremos isso para quando fomos comentar o LP seguinte em um futuro post. Quem não conhece esse LP, vá atras. Certamente, um clássico do rock brasileiro.

Faixas:
01) Radio Pirata
02) Olhar 43
03) A Cruz e a Espada
04) Estação do Inferno
05) A Fúria do Sexo Frágil Contra o Dragão da Maldade
06) Louras Geladas
07) Liberdade/Guerra Fria
08) Sob a Luz do Sol
09) Juvenília
10) Pr´esse Vício
11) Revoluções Por Minuto

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