Por Davi Pascale
“Adivinha, doutor, quem está de
volta na praça”? Exatamente, eles estão de volta. Um dos maiores nomes do rock
brasileiro dos anos 90 e um dos grupos mais polêmicos que já tivemos, acaba de
anunciar o retorno. E dessa vez, segundo os músicos, é definitivo. Ou seja, não
se trata de uma reunião para alguns shows como das outras vezes.
A notícia foi dada pelos músicos
para o jornal O Globo essa semana. Planet
Hemp se destacou ao flertar o rock com o rap e discutir de maneira aberta a
legalização da maconha. Não foram os primeiros a cantar sobre o tema. “Malandragem
Dá Um Tempo” do sambista Bezerra da Silva, por exemplo, já falava sobre a droga
e foi criada muito antes. Não foram os únicos a abordarem o tema na época também.
Raimundos tinham diversas letras sobre maconha. Os Virgulóides tomaram as
rádios versando sobre o ‘bagulho no bumba’. Até o pop brasileiro foi tomado
pelo assunto. “Da Lata” de Fernanda Abreu era uma referência ao verão de 1987,
onde várias latas de leite surgiram no litoral paulista e carioca recheadas de
maconha. Se a discussão do momento é a homossexualidade, na época era a marijuana.
Contudo, o grupo de Marcelo D2
causou um furor que há muito não se via no rock brasileiro. Os músicos foram
presos. Os shows começaram a ser censurados para 18 anos. Todo o enrosco girava
em torno das letras. Muitos acusavam o grupo de fazer apologia às drogas. O
grupo dizia que não, que o discurso deles era que não queriam que ninguém
começasse a fumar por causa da banda, que o que queriam é quem fumasse não
fosse preso por isso.
O auge da confusão ocorreu durante
a divulgação de seu segundo álbum, Os
Cães Ladram, Mas a Caravana Não Para. Vários shows foram proibidos. Foi
nessa época que rolou a prisão. No Distrito Federal, em cima do palco, logo
após terminarem sua apresentação. A polícia civil local havia assistido uma
gravação de um show realizado em Curitiba e havia concluído que suas letras
eram uma afronta à Justiça. Em Minas, os músicos tiveram seu show cancelado e
foram levados direto à delegacia. D2 comentou sobre o caso à revista Playboy: “Ficamos
pelados. Os caras viram cada bainha, cada linha do tênis. Tinha cachorro
cheirando nosso rabo, muito constrangedor”.
Músicos foram presos por conta de suas letras |
Vários músicos já haviam sido
presos no Brasil por porte de maconha. Rita Lee, Gilberto Gil e Lobão foram
alguns dos músicos que foram presos por portar a erva. Lobão chegou, inclusive,
a levantar uma discussão na ocasião (1987), quando escreveu uma carta ainda
dentro da cadeia e a enviou aos jornais. Essa carta foi estampada depois na
capa do LP Promo da música “Vida Bandida”. Contudo, já havia um tempo que o
assunto rock + drogas não tomava uma dimensão tão forte. Provavelmente, desde a
prisão dos Titãs. Em 13 de Novembro de 1985, Tony Bellotto e Arnaldo Antunes foram
presos com heroína. Se isso já era assunto mais do que suficiente para virar
manchete de jornal, tudo ficou pior quando Bellotto admitiu para a polícia que
havia conseguido a droga com Arnaldo e, com isso, o cantor foi enquadrado como
traficante.
Vários músicos e pessoas públicas saíram em defesa do Planet Hemp e logo veio à tona a discussão da liberdade de expressão. Tudo isso, meu amigo, em uma época onde não havia essa ode ao politicamente correto. Época em que Mamonas Assassinas tocava no Faustão, Raimundos aparecia na Xuxa. “Puteiro Em João Pessoa” tocava nas rádio sem bips. E com isso, me pergunto, o que ocorrerá com esses caras ao retornarem à ativa em um momento como esse em que estamos vivendo onde tudo é ofensa, tudo é bullying, tudo é caso de processo. Ainda mais quando D2 dispara na entrevista: “Estamos falando em música nova. É difícil porque, hoje, aquelas letras me soam um pouco ingênuas. Continuo o mesmo moleque revoltado de 20 anos atrás, mas perdi a ingenuidade”. De duas uma. Ou foram adestrados, o que acho pouco provável. Ou tomarão na cabeça de novo. Bem-vindos de volta e boa sorte ao grupo!
Vários músicos e pessoas públicas saíram em defesa do Planet Hemp e logo veio à tona a discussão da liberdade de expressão. Tudo isso, meu amigo, em uma época onde não havia essa ode ao politicamente correto. Época em que Mamonas Assassinas tocava no Faustão, Raimundos aparecia na Xuxa. “Puteiro Em João Pessoa” tocava nas rádio sem bips. E com isso, me pergunto, o que ocorrerá com esses caras ao retornarem à ativa em um momento como esse em que estamos vivendo onde tudo é ofensa, tudo é bullying, tudo é caso de processo. Ainda mais quando D2 dispara na entrevista: “Estamos falando em música nova. É difícil porque, hoje, aquelas letras me soam um pouco ingênuas. Continuo o mesmo moleque revoltado de 20 anos atrás, mas perdi a ingenuidade”. De duas uma. Ou foram adestrados, o que acho pouco provável. Ou tomarão na cabeça de novo. Bem-vindos de volta e boa sorte ao grupo!
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