Por Davi Pascale
Imagine a situação: você é musico em uma banda, de repente ela começa a
despontar e logo depois você é expulso, sem grandes motivos. Ela vai ficando
cada vez maior até que torna-se um ícone. Qual seria sua reação? Você poderia
entrar em depressão, se retirar da música ou arrumar forças para criar algo
novo. Mustaine optou pela terceira opção.
Aos desavisados, Dave Mustaine fez parte do Metallica antes de criar o
Megadeth. O grupo nasce de uma paranoia. Criar algo que seja maior do que o
Metallica. Queria roubar a cena de Lars Ulrich e seus companheiros. Uma espécie
de vingança. Nunca conseguiu, é verdade, mas também não dá para tacha-los de
irrelevantes, nem de derrotados. Conseguiram boa popularidade, gravaram álbuns
clássicos, descobriram grandes músicos. Sem dúvidas, estão entre meus artistas
favoritos de heavy metal.
Mustaine explica essa história passo a passo. Criação do nome, concepção
das músicas, reação dos fãs. A paranoia em torno de seus antigos companheiros.
Está tudo aqui. Devidamente registrado e explicado, com direito à várias
histórias de bastidores. O rapaz levou um estilo de vida típico da cena. Regado à mulheres,
drogas e bebidas. Não esconde do leitor suas dezessete visitas à clínica de
reabilitação, as mulheres com quem se apaixonou, os casos de uma noite, as
ressacas, os anos iniciais quando não tinha onde cair morto.
Musico comenta sobre sua trajetória com bastante honestidade |
A história não poderia ser diferente. Prisões, processos, brigas
internas. Uma das principais marcas do Megadeth é a inconstância de seus
integrantes. O cara muda de guitarrista e baterista igual a quem troca de
cueca. Até o fechamento desse livro, escrito em 2010, 17 pessoas já haviam
passado pela banda. Esse ano, já sofreu mais duas alterações. Ou seja, contando
com Dave, já temos um total de 20 músicos que passaram pelo Megadeth. De 1983
para cá. Sempre disse que, 90% dos casos que são declarados como ‘divergências
musicais’, são anunciados assim para não entregarem os podres. O livro comprova
isso. Apenas um integrante saiu por querer fazer algo diferente. O resto foi
por excesso de álcool, excesso de drogas, mulheres e dinheiro.
O musico comenta sobre sua conversão religiosa, sobre o problema que
teve no braço que o impedia de tocar, sobre o arrependimento de Risk e Cryptic Writings, se encara suas letras como políticas ou não. Não
deixa de comentar sobre os shows cancelados e a polêmica em torno de “A Tout Le
Monde”. E, não. Não há citações sobre o Rock in Rio de 1991 e nem sobre o convite
supostamente feito à Pepeu Gomes. Memorias
do Heavy Metal é um belo retrato não apenas da criação de um dos grandes
nomes do thrash metal, mas também do que é a vida na estrada. Das roubadas, das
tentações. Com uma linguagem fácil e com a ajuda do Joe Layden, o autor prende
a atenção do leitor do início ao fim. Sem dúvidas, leitura essencial para
qualquer fã de heavy metal que se preze.
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