Por Davi Pascale
A cantora finlandesa Tarja Turunen acaba de lançar mais um álbum. Mais
uma vez contando com a participação de Mike Terrana, o novo trabalho é uma
viagem ao universo da música clássica. Portanto, se você acompanha o duo
unicamente pela ligação ao heavy metal, afaste-se...
Se você está descobrindo a cantora agora, cuidado! Esse novo disco não
tem nenhuma ligação ao lado mais pesado da artista. Pelo contrário, é um dos mais
delicados já lançado pela mesma. Eu sei que a presença de Mike Terrana pode
confundir os possíveis compradores, mas a jogada foi intencional. Não no
sentido de querer tapear os fãs. Ela não faria isso. Mas no sentido de querer
fazer algo diferente musicalmente.
Desde que se lançou como artista solo que a ex-Nightwish vem
intercalando projetos clássicos com projetos de heavy metal. Em Tarja & Haurus, tinha vindo com o
diferencial de misturar a música clássica com a guitarra. Aqui, a ideia é
misturar com a bateria. Para os fãs de música clássica isso pode ser uma
heresia, mas não deixa de ser uma forma de atrair os olhares dos mais jovens
para o gênero, o que torna a brincadeira mais do que válida. Gravado ao vivo na Republica Checa em 2013, o time era formado pelo
renomado baterista Mike Terrana (Rage, Axel Rudi Pell), a belíssima soprano
Tarja Turunen (Nightwish), a Bohuslav Martinu Philarmonic Orchestra e o Pevecky
Masarykovy Univerzity Brno Choir.
“Pô... não tem nenhum de rock no disco”? Tem alguns (poucos), mas a maioria
ganhou um ar clássico mesmo. E dá para fazer essa brincadeira, sim. Eu já vi
Sarah Brightman cantando Queen e Kansas em seus shows... E sejamos honestos. Vários
artistas que escutamos tem inspiração nesse universo. Não é raro vermos grupos
de rock fazendo shows com orquestras por trás. Sem contar músicos como Yngwie
Malmsteen e Steve Vai que já fizeram álbuns voltados ao tema.
Tarja Turunen lança novo trabalho clássico ao lado de Mike Terrana |
No primeiro CD, estão intercaladas faixas interpretadas por Mike e
faixas interpretadas por Tarja. Mike Terrana toca sem alterar seu estilo.
Continua descendo a mão e abusando de viradas e bumbo duplos. Em algumas
canções como “Can-Can” e “William Tell Overture” se sai bem. Ficaram curiosas.
Já em números como “Concert For Violin & Oboe” deixa a desejar. Não
tecnicamente. Trata-se de um exímio baterista, sem duvidas. O problema é que ele quer explorar
demais em passagens que se pede exatamente o oposto. Aquela velha história,
o melhor musico que existe é o que faz o que a música pede. Algumas passagens
ficaram um pouco poluídas, na minha opinião.
Se por um lado, a participação de Terrana traz esse contraste entre o
peso da bateria e a sutileza de uma orquestra, a participação de Tarja Turunen
é exatamente o oposto. Contando apenas com uma orquestra e, por vezes, corais
(como em “You Take My Breath Away”) canta com alma números de compositores como
Bernstein, Bach e Strauss. A música clássica possui um campo harmônico maior do
que a música pop ou até mesmo o heavy metal. Portanto, a cantora tem
oportunidade de demonstrar não apenas sua técnica como sua tão famosa extensão
vocal. Embora seja idolatrada entre os fãs de metal sinfônico, sempre existiu
aqueles velhos babões (não tem jeito, estão em toda parte) que querem ficar
diminuindo o trabalho dela comparando-a com Maria Callas ou Montserrat. Aqui,
ela pode finalmente demonstrar o que sabe e o que não sabe fazer com o gogó. E
deixa claro que canta muito. Discorda? Sinto muito!
O segundo CD é onde é focado as canções do universo rock. Mas acalme-se.
Não há guitarras, nem baixos pulsantes. Como disse, os arranjos são clássicos.
Uma pegada meio Sarah Brightman mesmo. Que não por acaso é um dos grandes
ídolos de Tarja Turunen. Interpreta aqui faixas de sua carreira-solo, do
Nightwish e até mesmo Led Zeppelin. A maioria delas, agora, ao lado de Terrana. O medley do Led, aliás, ficou com aquela
cara de orquestra tocando rock. Várias músicas do Zeppelin tinham orquestrações
por tras, portanto fica quase impossível nos desassociarmos das canções
originais. “I Walk Alone” é outra que nos dá essa sensação. Não ficaram ruins, ficaram
bem legais por sinal, mas acabam fugindo um pouco da proposta. Nas demais,
emocionam. Até mesmo “Fly Me to The Moon”, onde Mike Terrana ousou dividir o
microfone com a Tarja acabou ficando agradável.
No encarte do CD tem uma foto da Tarja tocando bateria. Estou curiosíssimo para ver essa cena, mas somente quando conseguir o DVD matarei minha curiosidade. Beauty & The Beat (nome provavelmente inspirado em Beauty & The Beast) é um trabalho bonito, bem feito, mas é para
quem tem ouvidos e mente aberta.
Nota: 7,5 / 10,0
Status: Ousado. Trabalho vocal matador
Faixas:
CD 01:
01) Concert For Violin & Oboe
02) Blute Nur
03) Zuneigung Op 10 No 1
04) Barber of Seville
05) New World Symphony
06) Song To The Moon
07) Vilja Lied
08) O Mio Babbino Caro
09) Can-Can
10) I Feel Pretty
11) William Tell Overture
12) Mein Herr Marquis
13) Eine Kleine Nachtmusik
CD 02:
01) You Take My Breath Away
02) The Reign
03) Witch-Hunt
04) Led Zeppelin Medley
05) Swanheart
06) Fly Me To The Moon
07) Into The Sun
08) I Walk Alone
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