Por Davi Pascale
Depois de ir por um caminho mais moderno no (bom) Wicked Wonderland, a cantora Lita Ford volta ao rock cru em Living Like a Runaway. Em seu mais
recente trabalho, Lita mantém o peso e volta a apostar suas fichas na estrutura
clássica de um grupo de rock: guitarra, baixo, bateria e voz. O trabalho marca
a volta da cantora à sonoridade hard/heavy. Seu melhor disco desde Dangerous Curves.
Esse disco representa vários marcos em sua carreira. Além da volta à uma
sonoridade mais básica, é o primeiro lançado em parceria com a SPV. E também o
primeiro após sua separação de Jim Gillette. Em Março de 2011, Lita concedeu
uma entrevista ao AXS Entertainment, onde dava a entender que havia apanhado de
seu marido. “Quando você tem aquele tamanho e é assustador daquele jeito, deve
buscar alguém do seu tamanho. Pedi um divórcio porque ele estava me machucando.
Veja o tamanho dele. Não acho isso certo”.
A situação é influência direta no álbum. A balada “Mother” é uma carta
aberta para seus filhos que se afastaram dela após o divórcio. A cantora já
disse em várias entrevistas que seu ex-marido fez lavagem cerebral neles, mas
que ela ainda os ama. Se “Mother” é uma carta aos seus filhos, “Branded” só
pode ser dirigida à Gillette. “Não quero mais brigar com você. Saia da minha
frente. Não há mais para sempre”. Para sempre, certamente é uma referência aos
votos de casamento. Mais direto, impossível.
Lita Ford entrega disco forte, composto durante período negro. |
Toda sua raiva interna (com razão) influenciou o álbum positivamente. Ao
contrário de seus álbuns mais populares – os ótimos Lita, Stilleto e Dangerous Curves – que continham grande
presença de teclados, nesse o foco principal foi a guitarra distorcida. O uso de teclado aqui é mínimo. Algo
que não fazia dentro dessa linguagem mais hard rock desde Dancin´ On The Edge. Adoro o período
mais comercial dela, para ser honesto o Dangerous
Curves é o meu trabalho favorito, mas não acho que funcionaria nos dias
atuais. Sendo assim, nada melhor do que uma volta às raízes. Até porque ela é não
apenas uma excelente cantora, quanto uma ótima guitarrista.
A faixa título “Living Like a Runaway” foi vista por muitos como parte
dessa tal volta às raízes. Como um retrato de seus tempos na banda Runaways
(para quem não sabe, ela e Joan Jett eram as guitarristas do conjunto e
gravaram todos os discos). A letra realmente faz uma referência aos seus tempos
iniciais, mas a escolha como nome do disco reflete ao período negro que estava
atravessando. Em entrevista à Rolling Stone, explicou que havia um duplo
sentido porque era um período onde estava vivendo como uma fugitiva. Ela saiu
de casa fugida. Esperou o marido sair, enfiou as coisas no carro e se mandou.
Sem marido, sem apoio dos filhos, era assim que se sentia.
Embora na maior parte do tempo, o álbum aposte em uma sonoridade
hard-heavy, há uma exceção na faixa escrita por Nikki Sixx (baixista do Motley
Crue), “A Song To Slit Yout Wrists By”. A única a contar com um arranjo mais
eletrônico. E, na minha opinião, a mais fraquinha do álbum. Quem é fã mais
ardoroso, vale a pena correr atrás da deluxe edition que acompanha um pôster e
duas faixas inéditas. A excelente “Bad Neighborhood”, que traz a participação
especial de Doug Aldrich (Dio, Whitesnake), e uma versão bem legal de “Bitch Is
Back” da fase roqueira do Elton John. Lita Ford lançou recentemente um novo trabalho
ao vivo e segue excursionando. Feliz de ver ela de volta à ativa e passando por
cima de situações tão delicadas como essa. Espero que não demore muito para
lançar um novo álbum de inéditas e que resolva finalmente fazer uma visitinha aqui no Brasil. Esse é um show que gostaria de assistir.
Nota: 8,0 / 10,0
Status: Muito bom
Faixas:
01)
Branded
02)
Hate
03)
The Mask
04)
Living
Like a Runaway
05)
Relentless
06)
Mother
07)
Devil In
My Head
08)
Asylum
09)
Love U 2
Hate U
10)
A Song To Slit Your Wrists By
11)
Bad Neighborhood
12)
The Bitch Is Back
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