Por Davi Pascale
E um dos assuntos preferidos dos
roqueiros voltou com tudo essa manhã por conta de uma entrevista que o Gene Simmons
cedeu para seu filho Nick Simmons no site Esquire.com. O músico foi categórico ao
afirmar que o rock está morto e que, para ele o mais triste, é saber que não
morreu de causas naturais, foi assassinado. Todos que me conhecem sabem que
sempre tive o Kiss como minha banda número 1. Como ídolos, mesmo. Porém, em
alguns pontos sou obrigado a discordar do rapaz.
Essa historia da morte do rock
existe desde sempre. O que começou como um artigo de um momento triste da
historia da musica, acabou virando discussão sempre que o rock caía um pouco de
popularidade ou quando ganhava um formato que não agradava parte dos ouvintes. Em
3 de Fevereiro de 1959, um acidente de helicóptero tirou a vida dos músicos
Ritchie Valens, Buddy Holly e J.P. “The Big Booper” Richardson. Alguns se
referem à esse momento como ‘o dia em que a música morreu’, outros como a morte
do rock. Em alguns pontos, o musico do Kiss tem razão. Já em
outros, nem tanto.
O baixista aponta o
compartilhamento de arquivos como a principal razão da morte do gênero. “Triste
saber que aquele garoto de 15 anos que está tocando em sua garagem não terá a
mesma oportunidade que tive”. O musico diz que tudo ocorre por conta de um
outro garoto de 15 anos que está fazendo compartilhamento de músicas sem saber
que está matando a carreira de seus ídolos e sua própria oportunidade. Tudo
bem, concordo que o mp3, o torrent e afins foram vilões para a indústria e têm
uma boa parcela de culpa. No entanto, logo em seguida, dispara que o rock não
tem novos ícones desde 1984. Daí já tenho que discordar, além de ser uma grande
confusão.
O assunto voltou à mídia depois de entrevista com Gene Simmons |
Compartilhamento de musica online
não começou nos anos 80. Começou no final dos anos 90. Entre 1998 e 1999. O que
existia nessa época era troca de gravações em fita cassete, que não incomodava
as vendas de disco nem de longe. Portanto, se para ele o problema inicia aí,
é porque não considera o universo online
o principal vilão e, sim, a MTV. Que também seria uma discussão interessante.
Uma vez que com a popularização dos clipes, a imagem passa a ganhar tanta importância
quanto a musica. A partir daí, não existe mais a preocupação única de se achar
o som certo, mas também do rosto certo. De todo modo, seria bacana ouvir sua
teoria já que essa é exatamente a lógica do Kiss. Tanto ele quanto o Paul
Stanley defenderam durante toda sua carreira que a principal diferença entre
eles e os demais conjuntos de sua época é que eles tratavam de maneira igualitária
som e imagem.
Citar que não temos mais grandes
nomes após 84 também é um pouco ilusório. Poderíamos dizer que não tivemos mais
artistas das dimensões dos anos 60 e 70, principalmente no que se diz respeito à
inovação. Daí, concordaria. Mas a galera dos anos 80, 90 e 00 também teve seus ídolos
e muitos deles arrastaram multidões. Poderia citar como exemplo Nirvana, Pearl
Jam, Oasis, Lenny Kravitz, Guns n´ Roses, Evanescence. Temos atualmente Kings
of Leon e Avenged Sevenfold que vem crescendo muito. O Foo Fighters é outro
grupo que arrasta um enorme publico. Faith No More é cultuado até hoje. Todos esses surgiram pós-84. Prova de que o rock não morreu. Só não está mais com tanta evidencia como alguns anos atras. E mesmo assim ganha-se muito dinheiro em cima do rock. Merchandising, shows, livros, etc etc etc
Ele acerta quando diz que o rap tomou o lugar do rock nas paradas, já o pop não concordo. O pop sempre esteve na radio junto com o rock. Ele só foi mudando de forma. Motown, new wave, synthpop, disco music. Faz tudo parte do universo pop e muitas vezes flertam com o rock n roll. O rap também flerta com o rock em diversos momentos, mas nas décadas anteriores era mais underground mesmo. Um ou outro artista se destacava. O que cresceu, na realidade, foi o numero de artistas teenager, que para mim está relacionado ao universo online. Hoje, as indústrias investem somente naquilo que consideram tiro certo. E tomam como base pesquisas online (acessos de Youtube, MySpace e afins). Cada vez mais, a linguagem da internet está sendo dominada por pessoas cada vez mais jovens, o que influenciaria as mudanças. Pode ver que no rock também já temos os artistas teen, o que seria inimaginável alguns anos atrás, já que o rock sempre teve uma relação forte com atitude, com seguir seus instintos, sempre falou abertamente de sexo e drogas... Concordo que não se encontrou um novo formato rentável de se vender musicas (volta do vinil e itunes estão longe de atingirem o nivel de popularidade da venda de discos nos anos 80 e 90), mas no que diz à respeito à lançar musicas, eles tem dado um jeitinho. As rádios continuam ganhando fortunas. Tenho Gene Simmons enquanto ídolo, mas dessa vez deu algumas bolas foras.
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