segunda-feira, 7 de julho de 2014

Cazuza – Exagerado (1985)





Por Davi Pascale

Em 7 de Julho de 1990, Agenor de Miranda Araujo Neto, morria vitima da Aids. Mais conhecido como Cazuza, o rapaz conquistou o Brasil com suas letras poéticas, sua atitude debochada e suas falas polêmicas. Já escrevemos um texto falando um pouco sobre o rapaz aqui no blog, portanto, não escreverei sobre sua carreira e sim, sobre seu primeiro álbum solo, Exagerado.

Cazuza abandonou o Barão Vermelho quando estavam no auge do sucesso. Depois de dois discos mal sucedidos, o grupo carioca finalmente havia conquistado o grande publico impulsionados pela canção “Bete Balanço” – trilha do filme homônimo – e pela apresentação no Rock In Rio I, em 1985. O cantor optou pela saída logo após receberem seu primeiro disco de ouro e um dia antes de renovaram o contrato para seu quarto álbum. Engana-se quem acredita que o pessoal passou a mão na cabeça dele desde o inicio. O rapaz foi muito criticado, inclusive por seus colegas de banda que se sentiam traídos e inseguros.

O produtor Ezequiel Neves – parceiro do cantor, não apenas no trabalho musical, mas também em suas loucuras – foi o único que apoiou o rapaz desde o inicio, ainda que deixasse claro que não tomaria partido. Gostava da banda e não deixaria de trabalhar com um para trabalhar com outro. Ezequiel continuou do lado tanto do Barão quanto do Cazuza. Para não prejudicar ainda mais o grupo – sua saída já era um choque grande, já que ele era visto como integrante principal pela imprensa – optou por dividir o repertorio do álbum em dois. 5 músicas para o Barão e 5 para sua estréia solo. 

Metade do seu primeiro disco seria de Declare Guerra

Nesse mesmo ano, aos 27 anos de idade, fez seu primeiro teste HIV. Cazuza tinha medo que pudesse ter contraído a doença. Quem pediu o teste na ocasião, inclusive, foi o próprio cantor. O garoto ficou 11 dias internado no Hospital São Lucas em Copacabana. Estava ficando com febre frequentemente e quando foi internado, segundo sua mãe Lucinha Araujo conta no livro Só As Mães São Felizes, sua febre já havia passado de 40 e estava tendo crises de convulsões incontroláveis. Na ocasião, foi diagnosticado com Streptococus Viridans, um vírus que se instala nos pulmões. A idéia de ter algo mais não saía de sua cabeça. Esse exame, contudo, deu negativo.

Foi durante esse temporada que nasceu a canção “Codinome Beija-Flor”, inspirada pelos beija-flores que voavam no jardim do hospital. A faixa-título, “Exagerado”, a mais marcante desse período, era uma parceria do cantor com Leoni (Kid Abelha), e foi uma das que saíram a seu favor na divisão de repertório. Muitos acreditavam que a faixa era sobre si próprio, mas na verdade ela foi composta em homenagem à Ezequiel Neves, o famoso Zeca.

Uma das razões que fez com que optasse sair do conjunto era a falta de liberdade criativa. Embora tivesse um bom relacionamento com os músicos, em especial o guitarrista Frejat, o cantor ficava incomodado com o fato de não poder ir além do rock e do blues. Queria experimentar novos horizontes, novas linguagens. No seu debut solo, já se notava isso. Em especial, na já citada “Codinome Beija-Flor”, uma balada com arranjo orquestrado e extremamente sutil. Algo que nunca poderia fazer com o Barão. O LP também trazia uma sonoridade mais magra, afastando-o de vez da influencia blues rock do Barão Vermelho e o aproximando cada vez mais da linguagem pop rock. Outro grande destaque é a balada "Mal Nenhum", parceria com o músico Lobão, que já havia sido apresentada ao grande público no já citado Rock in Rio.

O disco, produzido pelo cantor e compositor Nico Rezende (Ezequiel produziu o Declare Guerra do Barão, mas ajudou o Cazuza a compor o material do seu LP), chegou às lojas em 15 de Novembro de 1985. Foi seu ultimo lançamento pela Som Livre que, na ocasião, havia mudado sua filosofia e decidiu encerrar seu cast. Só Se For a Dois, seu álbum seguinte, seria lançado pela Polygram.  Voltando à sua estréia solo, o LP trouxe polêmica com a música “Só As Mães São Felizes”. Na letra, dava uma de Jim Morrison questionando “quem nunca quis matar o seu pai ou comer a sua mãe”. Em entrevista ao Jornal da Bahia, em Fevereiro de 1986, explicou que a musica nasceu a partir de um verso de Jack Kerouac. “É uma homenagem à todos os poetas malditos. As pessoas que, de certa forma, vivem o lado escuro da vida. Gente que barbariza, que é santo e demônio ao mesmo tempo”.

Ezequiel Neves e Cazuza morreram com uma diferença exata de 20 anos
 
As frases não saíam da cabeça dos repórteres, que insistiam na pergunta como se Cazuza, no fundo, realmente desejasse aquilo. Em outubro de 1987, o Jornal do Brasil fez uma nova matéria com o cantor , que já estava de saco cheio do assunto e resolveu ser irônico. “Gostaria de transar com minha mãe e meu pai também. Eles são muitos gostosos. Mas eu gosto mesmo é de broto, eles estão passados”. Lucinha foi quem ficou mais chocada com a resposta, depois explicada pelo filho. Segundo Cazuza, a pergunta era tão ridícula que não merecia uma resposta séria.

Seu primeiro show solo ocorreu em 17 de Janeiro de 1986 no Morro da Urca (Rio de Janeiro). O cantor ainda não estava com HIV. Sua performance ainda era semelhante à de seu tempos do Barão. Pulava, dançava, esbanjava energia. Sua alegria, contudo, não duraria muito.  Em 26 de Abril de 1987, quando estava prestes a fazer sua estréia no Teatro Ipanema para divulgar seu segundo LP Só Se For A Dois, o médico Abdon Issa deu o recado aos pais do cantor: Cazuza estava com Aids. Se hoje, a pessoa que tem a doença não se cura, mas vive com a mesma. Naquela época, contraí-la significava morte certa. Por ironia do destino, em 7 de Julho de 2010, 20 anos após sua morte, morria Ezequiel Neves, vitima de um câncer no cérebro. Cazuza, se foi, mas sua obra continua influenciando milhares de pessoas. Nesse exato momento, temos uma peça teatral com o nome de "Pro Dia Nascer Feliz, o Musical" correndo todo o país. Homenagem, certamente, mais do que merecida.

Faixas:

01) Exagerado
02) Medieval II
03) Cumplice
04) Mal Nenhum
05) Balada de um Louco
06) Codinome Beija-Flor
07) Desastre Mental
08) Boa Vida
09) Só As Mães São Felizes
10) Rock da Descerebração

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