Por Davi Pascale
No final de 1993, o Nirvana realizou um concerto em Seattle (cidade que voltou a ganhar notoriedade na década de 90 com a explosão do grunge). A apresentação seria transmitida pelo canal MTV em todo o mundo com o nome de Live & Loud. Depois de muitos anos sendo pirateado por aí, finalmente chega ao mercado a versão oficial e sem cortes como parte comemorativa dos 20 anos de In Utero.
O trio de Aberdeen causou um puta estardalhaço no início da década de 90
com o Nevermind, disco que marcava a
estreia do baterista Dave Grohl (atualmente, cantor e guitarrista do Foo
Fighters). Kurt Cobain rapidamente deixou de ser mais um garoto que sonhava com
o reconhecimento para tornar-se um rockstar. Chegou em um ponto onde nem ele
mesmo sonhava. Seu rosto foi capa de tudo quanto é revista, programas de
televisão que haviam negado espaço quando lançaram o Bleach, agora imploravam por sua aparição no programa. Afinal, ter
uma participação do Nirvana era sinônimo de audiência. Seus clipes passavam na
MTV o dia todo, os músicos viraram os queridinhos da emissora.
Atualmente, a MTV é apenas mais um canal com teor adolescente repleto de
seriados e clipes com o pop do momento, sem muita expressão. Nos anos 80 e 90, a
história era outra. A emissora era o principal canal de divulgação de música.
Muitos afirmam que chegaram a superar as rádios, no que diz respeito à influência
dos jovens. Quando o clipe de “Smells Like Teen Spirit” estreou na emissora,
houve um grande impacto nos amantes do rock n roll. Afinal, o grupo ia na
contramão. Enquanto vários conjuntos apareciam com os cabelos cheios de laque,
roupa colada, cantando sobre garotas e imitando o palco do Kiss com fogos,
rampas, plataforma para bateria e tudo mais; o Nirvana aparecia com um visual
desleixado, vocal gritado, com uma formação básica e trazendo de volta a simplicidade
dos espetáculos de rock. Não havia nenhum efeito especial, as performances eram
enérgicas, conversavam com o público de igual para igual. No palco; apenas os
amplificadores, os instrumentos, os músicos e nada mais.
É justamente isso que assistimos em Live
And Loud. No Brasil, o Nirvana ficou conhecido como uma banda fraca por
conta de sua frustrante apresentação no extinto festival Hollywood Rock em
1993. Embora Dave Grohl surrasse a bateria como se fosse a última apresentação
de sua vida, o líder Kurt Cobain decepcionou seus fiéis seguidores subindo ao
palco totalmente fora de si, tropeçando sozinho no palco, sem conseguir cantar
ou tocar direito. Nesse show de Seattle, estava o oposto. Totalmente centrado
em sua performance, de bem com a vida, cantando bem próximo ao disco e
executando suas partes na guitarra com segurança. Ninguém imaginaria que alguns
meses depois receberíamos a notícia de sua morte na mesma emissora que o
alavancou.
Na ocasião, divulgavam In Utero,
o sucessor do Nevermind. Embora o
álbum de 1991 tenha sido um enorme sucesso e mudado a vida dos músicos da água
para o vinho, Kurt não morria de amores pelo disco. Dizia que gostava das
composições, que não tinha problemas em interpretá-las ao vivo, mas que não
apreciava a mixagem do CD. Segundo o cantor, o som era muito polido. Sua
resposta foi o álbum In Utero. Queria
trazer o velho Nirvana de volta com um som cru e pesado.
Essa crueza era uma marca de seus shows. As apresentações eram bem
honestas. Quando estavam em um bom dia, o show era destruidor. Quando estavam
em um mau momento, era desesperador. Não havia samplers, playbacks. Era nu e
cru. Os músicos mudavam a afinação dos instrumentos no palco durante o espetáculo
enquanto trocavam palavras com a plateia. Um pedido inusitado de seus fãs
poderia mudar todo o rumo do show. O fato de conter um musico de apoio nesse
período (Pat Smears, atualmente também no Foo Fighters), deixava Kurt um pouco
mais seguro e ajudava a dar um pouco mais de peso. Quem teve a oportunidade de
conferi-los de perto nesse período viu algo especial. Um dos melhores shows dos
rapazes, sem dúvidas.
Apresentação cheia de energia |
Interessante que justo na apresentação que estava sendo filmada pela
MTV, não deixaram de apresentar “Rape Me”, faixa que haviam sido proibidos de
tocarem no MTV Music Awards alguns meses antes, e não apresentaram o megahit “Smells
Like Teen Spirit”, faixa que catapultou os músicos ao estrelato. Não dá para
dizer contudo que estavam revoltados ou renegando o sucesso, uma vez que faixas
como “Lithium”, “Heart-Shaped Box” e “Come As You Are” estavam no setlist. E
uma vez que seu maior sucesso tinha aparecido no roteiro de outras
apresentações dessa mesma turnê. Durante 75 minutos, os músicos levam uma casa
lotada ao delírio em uma apresentação avassaladora, repleta de anarquia. Krist
Novaselic bate o contrabaixo no chão com força na introdução de “Endless,
Nameless”, Grohl esmurra a bateria, Kurt derruba seus amplificadores e atira
sua guitarra ao chão. Exatamente o oposto do MTV Unplugged que havia sido filmado pouco tempo antes. (Embora
tenho sido lançado em 94, o acústico foi filmado em Novembro de 1993).
Nos extras há o clipe de “Heart-Shaped Box” em duas edições (a que ficou
conhecida mundialmente e a edição do diretor), apresentações em programas de TV
na França e na Italia, a passagem de som para o show do especial televisivo e 3
faixas do último show do Nirvana. Duas horas de diversão para fã nenhum botar
defeito.
Nota: 10/10
Status: Nostálgico
Faixas:
01)
Radio
Friendle Unit Shifter
02)
Drain You
03)
Breed
04)
Serve The
Servants
05)
Rape Me
06)
Sliver
07)
Pennyroyal
Tea
08)
Scentless
Apprentice
09)
All
Apologies
10)
Heart-Shaped
Box
11)
Blew
12)
The Man Who Sold The World
13)
School
14)
Come As You Are
15)
Lithium
16)
About a Girl
17)
Endless, Nameless
18)
Very Ape (Live & Loud
Rehearsals)
19)
Radio Friendly Unit Shifter (Live
& Loud Rehearsals)
20)
Pennyroyal Tea (Live & Loud
Rehearsals)
21)
Rape Me (Live & Loud
Rehearsals)
22)
Heart-Shaped Box (Video clipe. 2 versões: original e director´s cut)
23)
Rape Me (Nulle Part Ailleures,
France)
24)
Pennyroyal Tea (Nulle Part
Ailleures, France)
25)
Drain You (Nulle Part
Ailleures, France)
26)
Serve The Servants
(Tunnel, Italy)
27)
Radio Friendly Unit Shifter
(Live In Munich)
28)
My Best Friend´s Girl (Live In
Munich)
29)
Drain You (Live In Munich)
Eu, como todos os adolescentes que não se encaixavam no perfil 'comum' da época, sempre me impressionei com esses caras. Não só pelas músicas que têm uma personalidade única, mas pelo comportamento deles perante a sociedade: eram super autênticos e debochavam numa boa sem parecerem esnobes.
ResponderExcluirEnfim, esse DVD é um registro histórico e merece nota 10 fácil!
Valeu
Valeu pela participação, Leonardo. Sempre gostei muito do Nirvana também. Acho que é uma banda que faz falta...
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