Por Davi Pascale
Em 24 de Junho de 1997, chegava
às lojas Generation Swine. O disco
que todos acreditavam que iria colocar o Motley Crue de volta à mídia. O que
ocorreu, no entanto, foi exatamente o oposto. Com esse trabalho, o grupo mais
louco de L.A. sumiria de vez das paradas.
Muitos fatores contribuíram para
isso. Para começar, a banda estava totalmente desunida. O retorno de Vince Neil
não era unanimidade entre os músicos. O cantor, inclusive, demonstrava não
estar totalmente à vontade com a idéia. Por que voltaram? Simples, não tinham
alternativa. O disco feito com John Corabi, embora fosse genial, não havia obtido
boa resposta do publico. A audiência dos shows caiu drasticamente, assim como
as vendas de discos. A gravadora queria Neil de volta. O vocalista, embora
ainda tivesse sérios problemas com Nikki Sixx, também não tinha muita escolha.
Estava atravessando um momento extremamente delicado em sua vida. Sua filha de
4 anos havia morrido de câncer, sua esposa havia se divorciado dele, a banda
que havia montado tinha terminado e estava cheio de dividas. Não era o momento ideal
para ficarem com egos.
Para recuperarem seus dias de
glória, precisavam fazer o melhor disco de suas vidas. E isso não rolou. Sem
duvidas, é o mais fraco do Motley. Agora, verdade seja dita, não é tão ruim
quanto pintam por aí. Não é um trabalho genial, mas também não é execrável. É
razoável. Há alguns bons momentos como “Flush”, “Let Us Prey” e “A Rat Like Me”.
A faixa de trabalho, “Afraid”, também não era ruim. O que acontece é que o que
eles entregaram era muito pouco diante de toda a expectativa.
Capa do polêmico disco |
O último disco de inéditas com a
formação clássica tinha sido “Dr Feelgood”, lançado em 1989. Com produção de
Bob Rock (mais conhecido no Brasil por ter produzido o álbum preto do
Metallica), o LP alcançou o primeiro lugar das paradas da Billboard, vendeu
mais de 6.000.000 de cópias e emplacou alguns dos maiores sucessos do Motley
como “Kickstart My Heart”, “Don´t Go Away Mad”, “Same Ol´ Situation”, além da
faixa titulo. Por isso, todos apostavam tanto no retorno de Vince.
Agora... Vamos ser sinceros, o
cantor é quem menos tem culpa nessa roubada. Tanto as composições quanto a
co-produção de Generation Swine
ficaram à cargo do baixista Nikki Sixx e do baterista Tommy Lee. O material
começou a ser trabalhado, inclusive, com John Corabi. As demos chegaram a ser
gravadas com os vocais dele. O rapaz foi dispensado da banda durante as
gravações. É por essa razão que há duas faixas com co-autoria dele: a (boa) “Let
Us Prey” e a (fraca) faixa-título.
No livro “The Dirt”, inclusive, é
mencionado que o cantor já havia percebido que Vince acabaria retornando à
banda, mas que ele desejava poder continuar no conjunto fazendo segundo
guitarra e vocais de apoio. Não sei o que os fãs mais doentes pensam disso, mas
não acho a idéia má. Corabi é bom guitarrista, bom compositor e ótimo
vocalista, poderia acrescentar bastante ao som do conjunto. O único problema
seria lidar com os egos de Mick Mars já que Scott Humphrey, produtor do CD, já
chegou a declarar publicamente que Mick fica seriamente transtornado com a idéia
de ter outro musico acrescentando guitarras em alguma faixa do Motley.
Trabalho apostava em nova sonoridade e frustrou público |
Vince Neil, além de todos os
problemas citados, estava acima do peso. Muito provavelmente por estar bebendo
em excesso. Scott declarou nesse mesmo livro que gravar Vince era difícil porque
quando exagerava na bebida, o rapaz chegava ao ponto de não parar em pé. Sem
contar que justamente por não estar 100% animado com o retorno, não estava
fazendo muito esforço. Se tivesse que repetir muitos takes, saía andando no
meio da gravação. Scott declara, aliás, que o único músico que chegava ao estúdio
no horário combinado era Mick Mars, que os outros três chegavam com horas de
atraso e tinham dias que não produziam nada.
O resultado não poderia ser
diferente. O disco soa desconexo. Há faixas que soam como Smashing Pupkins, há
faixas que soam como Nine Inch Nails, há faixas onde as letras poderiam ter
sido melhores lapidadas como “Find Myself”, responsável por abrir o CD. Essa,
em especial, acho o arranjo interessante, mas a letra muito fraca. Havia ainda
uma versão modernizada do clássico “Shout At The Devil”. Não ficou de todo mal,
mas está há anos luz da versão original. Dispensável!
A indústria estava mudando e o
Motley, mesmo já sendo uma banda madura, caiu na armadilha tentando adaptar seu
som ao que estava rolando no mercado. Obviamente não deu certo. Não é a verdade
deles. Sou a favor de mudanças, de experimentações, não sou daqueles que
acredita que o artista tenha a necessidade de passar a vida inteira fazendo a
mesma coisa. Mas acredito que você tenha que fazer algo em que você acredita. Se
quer adicionar novas influencias, adicione daquilo que você está ouvindo no
momento. Não acredito que os executivos consigam notar essa diferença – afinal,
esses caras sempre foram mais ligados à grana do que à qualidade musical. Já em
relação aos fãs, são os primeiros a notarem quando algo é forjado. Talvez por
isso não tenha dado certo. A nova geração estava ligada em outros caras e seus
antigos seguidores não acreditaram no projeto.
O Motley Crue só retornaria ao estúdio
três anos mais tarde para registrar (o bom) New Tattoo. Agora, grande disco mesmo, foi o Saint of Los Angeles, editado em 2008, mas esses são assuntos para
outros posts...
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