Por Davi Pascale
No final do ano passado, me mudei para o ABC e desde então tenho
frequentado bastante o Sesc de Santo Andre. Ontem à noite, dei um pulo lá para
conferir a apresentação do grupo gaúcho Cachorro Grande. Sou fã dos caras desde
o primeiro álbum e nunca tinha assistido ao vivo. Já tinha escutado bastante
gente elogiando a performance da banda, inclusive o musico Lobão (que é outro
artista que admiro). Portanto, guardava bastante expectativa na apresentação.
O pessoal do Cachorro Grande ficou conhecido por se vestirem com
terninhos, iguais à seus ídolos da British Invasion. Isso não existe mais. Beto
Bruno, Marcelo Gross, Rodolfo Krieger, Pedro Pelotas e Gabriel Azambuja agora
usam trajes comuns: jaquetas de couro, calça jeans, camiseta dos artistas que admiram.
As referências sessentistas agora ficam explicitas na boina do cantor e no
baixo Rickenbacker.
A apresentação traz todos os elementos que um bom show de rock deve ter.
Som alto, banda com energia de sobra, boa interação com o público. O setlist
foi bem dosado. Tocaram vários de seus clássicos, quase todos os músicos
assumiram o vocal durante o show (o tecladista é o único que não canta), fizeram
ainda citações de clássicos do rock como “Cold Turkey” (John Lennon), “Lugar
Nenhum” (Titãs) e “Heartbraker” (Led Zeppelin).
Marcelo Gross se destaca com solos improvisados |
O guitarrista Marcelo Gross e o baterista Gabriel Azambuja foram os grandes
destaques da noite. Os músicos roubaram a cena nos momentos
de improviso. Rodolfo Krieger, com seu cabelo à la Jupiter Maçã, tem ótima presença de palco. Toca com vontade,
pula, corre de um lado para o outro e ganha a plateia ao cantar “Deixa Fudê”. O
tecladista Pedro Pelotas também desempenha bem seu papel. O único senão mesmo
foi o vocal de Beto Bruno. O rapaz tem uma boa presença de palco, é bem
carismático e muito simpático com o público. Entretanto, abusa das bebidas alcoólicas
durante a performance. O resultado não poderia ser diferente. O vocal começa
bom, forte e no decorrer do espetáculo vai caindo o nível. No final do show ele
estava falando enrolado e já encontrava dificuldades para cantar várias notas.
Cara, pega leve!
O show começou com um som meio embolado, mas logo na segunda música “Hey
Amigo”, tudo se ajustou. Mesmo tendo apresentação do Guns n Roses em São Paulo,
os 5 garotos de Porto Alegre conseguiram arrastar um bom número de pessoas ao
teatro. Lá encontrava-se de tudo. Desde crianças de 3 anos brincando de air
drum, passando por casais de 30 e poucos anos, e chegando até pessoas de mais
de 60. É comum nos shows do Sesc pintarem uns curiosos, mas boa parte lá era fã
mesmo, tanto que boa parte do público cantou a letra de “Sinceramente” junto com os músicos. Chegaram, inclusive, a pedir música, "Bom Brasileiro", prontamente atendido.
Beto Bruno tem boa presença de palco, mas tem voz prejudicada pelo excesso de bebida |
Trouxeram ainda algumas surpresas como “Debaixo do seu Chapéu”, faixa do álbum
de estreia, que segundo Beto fazia anos que não tocavam. Ocorreram alguns
imprevistos, mas os músicos não se abatiam. Encaravam tudo com bom
humor, davam risada e reiniciavam como se nada tivesse acontecido. Saíram do
palco logo após interpretarem “Lunático” e “Sexperienced”. Mas o final
definitivo veio com o cover de “My Generation” (The Who) no bis.
Após uma hora e meia de apresentação, as luzes se acenderam indicando
que o show havia se encerrado. Considero o Cachorro Grande uma das poucas
bandas brasileiras da última geração que fazem um som realmente bacana. Espero
que os caras dêem uma maneirada na bebedeira. Seria muito triste ver músicos tão
jovens e com um trabalho tão legal indo embora tão cedo por conta de um vício. Do mais, os caras nos entregaram um show bem enérgico, inspirado e bem rock n´ roll. A fudê!
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