quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Mayhem: a banda mais controversa da história

Por Rafael Menegueti

Vocês já devem ter ouvido falar das loucuras que os roqueiros fazem por aí. As quebradeiras em hotéis, as brigas, as cabeças de morcego mordidas. Pois agora eu vou lhes contar a historia de uma banda que vai fazer tudo isso parecer travessura de criança. Uma banda que se tivesse sua historia transformada em filme, esse seria apenas para maiores, e possivelmente proibido em alguns países: o Mayhem!

Mas para entender o Mayhem, antes devemos entender a cena de black metal norueguesa. Assim como em grande parte da Europa, nos países nórdicos o cristianismo foi imposto à força na população. Antes, os escandinavos eram pagãos. Essa imposição gerou certo rancor contra o cristianismo, que foi carregado por algumas pessoas através dos anos. No começo da década de 80, esses ideais anticristãos chegaram a grupos de adolescentes, que viram no heavy metal uma maneira de expressar seus pontos de vista. Inspirados nisso e em bandas como Venom e King Diamond, surgia o Black metal. O estilo viria a se tornar tão popular (e polêmico) na Noruega, que acabou se tornando o principal produto de exportação cultural do país. E as bandas do estilo viriam a disputar os principais prêmios de música noruegueses.
Os membros do Mayhem em 1990
Mas no inicio de tudo, a cena do Black metal era bem pequena. O Mayhem era uma das bandas que surgiram naquele inicio de década de 90. Fundada por Øystein Aarseth, mais conhecido como Euronymous, a banda seguiu uma linha totalmente independente durante toda sua existência. E durante os anos, muitas mudanças ocorreram na sua formação.

O líder Euronymous não era uma pessoa muito simpática. Extremamente satanista, tido como violento por muitos, e louco por outros, o guitarrista defendia uma sonoridade suja e desleixada para o estilo. Talvez por isso, as primeiras gravações da banda tivessem uma qualidade duvidosa. O fato é que a banda tinha um som extremamente rápido, atmosférico e arrastado, quase aterrorizante.

O segundo vocalista da banda (o primeiro foi Maniac) era um sueco chamado Per Yngve Ohlin, mas apelidado de Dead, pois ele tinha fascinação pela morte, e assim foi um dos pioneiros a usar o famoso “corpse paint”, a pintura facial que imitava um cadáver (os primeiros foram a banda brasileira Sarcófago). Era um sujeito estranho, introvertido. Enterrava suas roupas na terra antes dos shows, para que cheirassem a sepultura. Carregava um saco com um corvo morto dentro para cheirar o bicho podre no palco. Para convencer os integrantes do Mayhem a contratá-lo, enviou um pacote com uma fita demo e um porquinho da índia em decomposição aos membros, que estranharam, mas mesmo assim o contrataram.
O icônico Dead, com e sem maquiagem 
Com todas essas características, não foi muita surpresa quando ele simplesmente cortou os pulsos e deu tiro de espingarda na própria cabeça em 1991. Com requintes de humor negro, deixou um bilhete onde se lia apenas “desculpe pelo sangue”. Seu corpo foi encontrado pelo guitarrista da banda, Euronymous, que fez exatamente o que qualquer pessoa normal faria: pegou uma câmera e fotografou o cadáver (eu disse que ele era louco). Mais do que isso, ele ainda guardou pedaços do crânio de Dead, com os quais ele fez colarzinhos como lembrança depois. A frieza de Euronymous com a morte de Dead chocou os outros membros do Mayhem, Necrobutcher (baixo) e Hellhammer (bateria). Tanto que Necrobutcher deixou a banda logo depois.

Em seu lugar entrou Varg Vikenes (agora a porra ficou séria), ou Count Grishnackh, líder e único membro de outro grande nome da cena, o Burzum. Alem dele, Attila Csihar entrou para a vaga de Dead. Com essa formção a banda gravou seu álbum de estréia em 92, “Des Mysteriis Dom Sathanas”. Mas antes que ele fosse lançado, as coisas tomaram novamente rumos truculentos, mais especificamente entre Varg e Euronymous.

Percebam, Varg era outro sujeito complicado. Tinha leve simpatia por idéias nazistas. Certa vez, se desentendeu através de cartas com o líder judeu de uma banda de metal israelense. Algum tempo depois a policia bateu a porta do rapaz e lhe perguntou “quem te odeia na Noruega?” ao questionar o porquê da pergunta, o policial respondeu, “porque havia um pacote no correio para você vindo de lá, e dentro tinha uma bomba”. Varg ainda seria acusado de queimar igrejas (algo que foi comum na época).

Com Euronymous, o problema de Varg era ideológico. Para Euronymous, a cena Black metal deveria ser reservada e exclusiva para pessoas fortes e que tivesse real interesse nos objetivos dela. Já Varg pensava o contrario: quanto mais pessoas e popularidade tivesse o movimento, mais facilmente eles alcançaria meus objetivos. Isso os levou a brigarem. Em 93, Varg acabou descobrindo um plano de Euronymous para assassiná-lo. Quando foi atrás de Euronymous para tirar satisfações, os dois se atracaram, e Varg acabou matando Euronymous a facadas. Preso, Varg foi condenado à pena máxima, 21 anos (mas saiu em condicional em 2009). E assim o Mayhem terminaria, mas voltaria.
Varg Vikernes ri em seu julgamento
Após algum tempo, em 94, Necrobutcher, Hellhammer, o primeiro vocalista da banda, Maniac, e um novo guitarrista, Blasphemer, trouxeram o Mayhem de volta à vida. Em 95, a banda lançaria um disco que contaria com faixas ao vivo e demos da época de Dead, “Dawn of the Black Hearts”. O disco teria a capa mais controversa da historia da música, de acordo com o site Gigwise. Por que? A capa era a foto de Dead morto (não postarei aqui, pois a imagem é forte).

Depois de tudo isso o Mayhem segue na ativa até hoje. Com algumas mudanças de formação, como a volta de Attila Csihar aos vocais e a saída de Blasphemer. Lançaram alguns discos, todos por selos pequenos e independentes. Seguem fazendo um som sujo e arrastado, como no inicio. Inclusive fizeram show no Brasil em dezembro passado. Fiquei curioso pra ver, mas não fui. Afinal de contas, tem que ser muito doido pra se misturar com essas coisas...
O Mayhem em foto recente


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