Por Davi Pascale
Durante muito tempo, os roqueiros
foram inimigos das discotecas. Qualquer tentativa de se aproximar com esse
universo era considerada traição. Quando o Kiss lançou a música “I Was Made For
Lovin´ You” em 1979, por exemplo, muitos fãs torceram o nariz para os
mascarados. Tudo porque a gravadora insistia em divulgar a música com o termo
de disco rock. Honestamente, não acho que essa faixa soe como musica de
discoteca. E mesmo assim, os músicos foram crucificados.
Um grupo dessa época que se
aproximou descaradamente do universo disco em seu trabalho foi o Blondie.
Liderado pela playmate Deborah Harry e por seu marido Chris Stein, eles
começaram fazendo parte da cena punk. Seus dois primeiros discos (Blondie e Plastic Letters) ainda são cultuados pelos punks, inclusive. Entretanto,
eles só atingiram o estrelato de vez no terceiro LP Parallel Lines quando deixaram seu som mais próximo da new wave e escreveram
a canção “Heart of Glass”, altamente influenciada pelo movimento disco. Mais
uma vez, perderam grande parte dos seus velhos seguidores.
Na década de 80, entretanto, tudo
começava a mudar. Os roqueiros começam a freqüentar as danceterias para
conseguirem garotas e acabam gostando de alguns artistas pop. Cai aí a
mentalidade de que fã de rock não pode ouvir canção pop. Nessa época, era comum
um garoto gostar de Prince, Iron Maiden e Poison, ao mesmo tempo. E é
justamente daí que nasce a sacada dos músicos do U2, Bono Vox e The Edge. Vale
lembrar que aqui no Brasil, inclusive, muitos artistas de rock faziam shows em
danceterias.
Capa do compacto de "I Was Made For Lovin´ You" |
Em 1991, os irlandeses do U2 dão
uma repaginada em seu som e resolvem criar uma sonoridade que nada mais é do
que uma mescla entre a música dance com o rock. No documentário From The Sky Down, os músicos explicam
a idéia. Bono diz que não importa se os rapazes freqüentavam esses ambientes
para arrumar mulher, o fato é que eles estavam freqüentando. Os músicos acreditavam
que se continuasse com a mesma proposta de sempre sumiriam e resolveram criar um
estilo de musica que fosse capaz de agradar tanto os fãs de dance music (que
nos anos 80 era vendido como house) quanto os fãs de rock n roll. Eles queriam pegar, como público, a garotada que ia para as boates no final de semana. É daí que
nasce a trilogia Atchung Baby, Zooropa e Pop. O cruzamento não foi por acaso. Foi tudo pensado. A banda ficou mais de um ano trancada em estúdio testando sonoridades até chegar naquilo que considerava o ideal.
A jogada deu certo. O disco Atchung Baby emplaca várias faixas nas radios como “Even Better
Than The Real Thing”, “Misterious Ways”, “One”... Vários grupos passam a
copiar seus passos. The Cult, Def Leppard, INXS, Simple Minds, são alguns
deles. Aqui no Brasil, alguns grupos tentaram (um pouco tardar até) reproduzir
essa sonoridade. Nenhum teve êxito. Barão Vermelho tentou isso no disco Puro Extase e não funcionou. O
vocalista Dinho Ouro Preto tentou algo similar em seu álbum solo de 1995 e não obteve
sucesso. O último a tentar trilhar esse caminho foi o Paulo Ricardo com o PR.5
já nos anos 2000. Mais uma vez, sem êxito.
O sucesso do novo gênero fez com
que a imprensa também abrisse os olhos para o metal industrial criado pelo
Ministry, ainda nos anos 80. O
auge deles foi o álbum de 1992 Psalm 69:
The Way to Suceed and the Way to Suck Eggs. Os grupos Ministry e
Nine Inch Nails são considerados meio que os pais do metal industrial. Está aí
um grupo que preciso correr atrás. Nine Inch Nails conheço bem, Ministry quase
nada.
Atchung Baby do U2 ditou rumo do mercado |
Não demorou muito e começaram a
surgir novos artistas buscando essa sonoridade mais moderna. Alguns mais,
outros menos, a verdade é que boa parte dos trabalhos lançados nos anos 90
buscaram alguma referencia na musica eletrônica. White Zombie em “More Human Than Human”,
Marilyn Manson em “The Beautiful People”, Korn em “Freak On A Leash” e até mesmo
a retomada do Motley Crue em “Generation Swine”. Todos eles tinham sua
dose de industrial. É só ouvir com atenção. Isso para não falar de grupos ainda
mais descarados como o (excelente) Garbage e o (fraco) Cardigans.
Esse pop mais dançante estilo “Somebody
Told Me” do Killers ou “Take Me Out” do Franz Ferdinand também não é de hoje. Já
que estamos falando de anos 90, vamos manter a visão aqui. Em 1991, o grupo one hit wonder EMF estourou com “Unbeleavable”.
Escute com atenção as três musicas na sequência e me diga se não é a mesma
proposta. E já havia gente se arriscando nesse universo pop dançante antes
deles...
Muita gente torce o nariz para
essas misturas, mas a verdade é que tem muita coisa interessante nesse meio. O
primeiro trabalho do Garbage é espetacular, Downward Spiral do Nine Inch Nails
é fantástico. Para quem ouve musica com o coração e não com os olhos, há
excelentes trabalhos nesse universo para serem descobertos...
Nenhum comentário:
Postar um comentário