domingo, 5 de janeiro de 2014

Banda Certa, Vocalista Errado


Por Davi Pascale
 
Troca de vocalistas nem sempre é uma tarefa fácil. Há algumas vezes que funciona. Alguns exemplos? As melhores fases do Deep Purple são com Ian Gillan e David Coverdale. Nenhum dos dois é original. Stratovarius só se destacou com a entrada de Kotipelto. Helloween despontou com Michael Kiske e Andi Deris, ainda que seu primeiro álbum fosse com Kai Hansen. Mas também há casos que a coisa não vai para frente. Resolvi relembrar os 3 mais marcantes. Confere aí...

Blaze Bayley
Cantor bem que tentou, mas não funcionou!

Os fãs do Iron Maiden encaram a banda quase como se fosse uma religião. Criticar um disco do conjunto é, literalmente, começar uma guerra. Seus admiradores conhecem não apenas as letras, mas as histórias delas. Conhecem cada solo, cada acorde. Substituir alguém em um grupo assim não é tarefa fácil. Ainda mais quando esse alguém atende pelo nome de Bruce Dickinson, um dos vocalistas mais venerados da história do heavy metal.
E Blaze Bayley teve que encarar essa guerra. Tem meu respeito por isso. Agora... verdade seja dita, seu trabalho no Iron Maiden deixou a desejar. E muito! Seu estilo não combina com o estilo da ‘donzela’. Com um timbre grave e de baixo alcance, poderia ser uma ótima escolha para um grupo como o Danzig, mas nunca para um Maiden. Sejamos francos, o cara não é ruim. Simplesmente não era o cara certo para o cargo. Seus trabalhos fora do grupo de Steve Harris – seja no Wolfsbane, no projeto Blaze ou em sua carreira solo – são bons. Mas no Maiden, não funcionava, nem em estúdio, nem ao vivo.
Hás os mais fanáticos que insistem em enaltecer o The X Factor. Infelizmente, não concordo. O grupo soou descaracterizado, com um ar sombrio, melancólico. Há alguns bons momentos como a faixa “Sign Of The Cross”, mas é um trabalho maçante. Virtual XI já foi artificial demais. Ao vivo, a coisa piorava. Sua presença de palco, de cara fechada e fazendo movimentos bruscos, não tinha nada a ver com a imagem da banda. Sua voz não tinha o alcance necessário para cantar as músicas da fase do Bruce, ou seja, 80% do repertório. Tive a oportunidade de assisti-los no Monsters of Rock de 1996, no lançamento do X Factor e não gostei da performance do rapaz. Escolha infeliz!

Anette Olzon
Anette fez um bom trabalho, mas fãs não compreenderam
Guardada às devidas proporções, o fanatismo que os fãs do Iron têm pelo Bruce, os seguidores do Nightwish têm pela Tarja. Assim como aconteceu com o Bruce, embora não seja a responsável pela decisão da banda (no caso do Maiden, isso fica a cargo de Steve Harris enquanto no Nightwish fica a cargo do Tuomas Holopainen), foi ela quem trouxe fama para a banda. Hoje pode ser comum vocal soprano em uma banda heavy, mas naquela época não era. Havia alguns grupos antes deles que trabalhavam com esse estilo vocal em determinados momentos, mas nunca 100% do tempo. E nenhuma dessas vocalistas tinha o alcance de Tarja Turunen – que além de cantar muito, era lindíssima. Daí, já viu! 
Tarja foi expulsa do grupo. Aliás, a meu ver, de uma maneira covarde. Os caras a tiraram através de uma carta. Custava chamar a garota para conversar? Desde sua saída, os músicos disseram que estavam atrás de uma cantora que combinasse com o grupo, mas que não era necessário ter o mesmo estilo de cantar. E assim foi... Anette Olzon realmente tinha outro approach. Cantava com a voz limpa, abusava menos dos vocalizes e não tinha domínio lírico. Estava muito mais para Amy Lee do que para Tarja Turunen. E isso assustou os fãs.
Tendo outra formação, assim como Blaze, ela trouxe uma nova postura. Nesse caso, mais alegre. Dizem que deixou o som mais comercial. Tenho um pé atrás. Nos últimos discos da fase Tarja, já tinham canções mais pop como “Nemo”, por exemplo. Entretanto, ao contrario de Blaze, seu estilo funcionou. Seu timbre de voz casou bem com a proposta da banda e ela conhecia bem seus limites. Ou seja, não ficava cantando nota que não atingia e não cantava as músicas que não combinavam com a interpretação dela. Era mais profissional. Gravaram dois álbuns ao lado dela: o excelente Dark Passion Play e o bom Imaginarium. Tive a oportunidade de assistir a passagem do Nightwish pelo Brasil cm Anette nos vocais e gostei bastante da sua performance. Para quem não conhece, vale a pena dar uma checada...

Gary Cherone
Escolha equivocada dos irmãos Van Halen

Assim como o Nightwish, quando foram atrás de seu terceiro vocalista, o Van Halen resolveu apostar em alguém com estilo diferente. E mais uma vez, não tinha o mesmo alcance de seu antecessor. Isso poderia até não ser um grande problema se focassem o setlist na fase (genial) do Dave Lee Roth. O cantor original gravou verdadeiros clássicos, era um excelente showman, cantava bem, mas nunca fez um trabalho vocal abusando de técnica. E também não tinha uma extensão vocal que fosse impressionante. Seria a saída ideal, mas ao invés disso, os músicos ficaram defendendo erroneamente que Gary havia evoluído muito, que havia se tornado um grande vocalista. Quando insistia em cantar musicas como “Right Now”, o resultado era risível.
Quem acompanhou seu grupo anterior, o Extreme, sabia que Cherone tinha carisma, tinha uma boa presença de palco, mas não tinha uma grande voz. Na época, o grande destaque era o guitarrista Nuno Bittencourt que deixava todos de boca aberta com sua técnica e sua criatividade, mesmo sendo bem jovem. Quem assistiu a passagem deles pelo Brasil no festival Hollywood Rock, sabia o quão fraco ele era ao vivo. Portanto, não dava para entender como que uma banda tão experiente apostava em Gary Cherone como possível substituto de Sammy Hagar que, ao contrario do cantor original, chamava atenção por sua extensão vocal.
Para piorar a situação, a decepção não vinha apenas nas apresentações, mas também no disco. III, que recebeu esse nome por ser o inicio de uma então terceira fase , é o pior disco da carreira do Van Halen. Além de conter uma fraca performance de Gary, o CD não tem nenhuma musica memorável. Esses resolveram em não apostar em um segundo CD com Cherone. Ainda bem... O rapaz se sai bem melhor ao lado do grupo que o fez famoso e a banda se sai bem melhor sem ele. Não há dúvidas! 

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