sábado, 28 de abril de 2018

Quarto Crescente - Quarto Crescente (1981):



Por Davi Pascale
Texto publicado originalmente no site Consultoria do Rock
Um dos grandes baratos de colecionar discos, pesquisar sobre os artistas que acompanhamos, é justamente ter a chance de descobrir trabalhos muito bacanas, mas que nunca tiveram a atenção que mereciam. E um dos grandes baratos de publicar um texto (seja em uma revista, em um jornal ou em um site especializado como esse) é justamente poder compartilhar essas informações com a nova geração.
O Quarto Crescente nunca foi uma banda de sucesso, mas contou com músicos de sucesso em sua formação. Babalu, nome artístico de Antonio Medeiros Junior, também conhecido como Tony Babalu, chegou a gravar diversos álbuns com o cultuadíssimo Made in Brazil. Percy Weiss foi o homem de frente em bandas como Chave do Sol, Patrulha do Espaço e o próprio Made. Inclusive, era o vocalista que eu mais gostava entre todos que fizeram parte da banda. Infelizmente, nunca tive a chance de assisti-lo ao vivo. Uma pena…
O álbum, contudo, nasceu do desejo do baterista Horácio Malanconi Neto, ou simplesmente Horacio, de gravar um disco. Inicialmente, os garotos que começaram como uma banda de bar, utilizavam o nome de Cadela, mas quando decidiram que iriam levar adiante a decisão de gravar um LP, optaram por colocar um nome melhor. Os meninos lembraram que Percy, no início dos anos 70, havia cantando em um grupo que tinha o nome de Quarto Crescente e perguntaram ao cantor se poderiam utilizar o nome, já que a banda não existia mais. O cantor autorizou e a partir de então nasce o novo Quarto Crescente. Mais uma vez, com Percy.

Contracapa do LP
O LP, como acontece com grande parte da cena independente desse país, foi gravado em tempo recorde. Uma semana para gravar, mixar e masterizar o álbum. A produção do disco e a direção dos arranjos são dos próprios músicos. Uma historia comum em nosso país. Conheço banda que gravou todo um álbum em uma única tarde, mas aos poucos vamos revelando essas histórias por aqui…
Percy já era um nome muito conhecido entre os rockers do país. Um ano antes, havia gravado o álbum preto da Patrulha do Espaço. Já havia ocorrido também sua primeira passagem no conjunto dos irmãos Vecchione, onde havia realizado os registros de Jack, o Estripador e Massacre (álbum que foi abandonado por conta da perseguição da censura e só chegou às lojas em 2005 em CD e 2015 em LP). Portanto, já tinha bastante experiência. O trabalho vocal que realiza aqui é bem seguro e extremamente satisfatório.
O Lado A começa calmo com “Bicicleta”, uma boa canção envolvida de uma bela levada de blues. “Serra Pelada” vem na sequência apostando em uma pegada mais country rock. “Ave Noturna” é a grande faixa do primeiro lado. Bem rock n roll. Lembra bastante o som realizado pela turma da Pompeia.  Cabe aqui uma explicação. Existe uma polêmica com essa faixa por conta de uma semelhança com “Me Faça Sonhar”, presente no álbum Minha Vida É o Rock n Roll. Muitos questionam quem plagiou quem. Na verdade, ninguém plagiou ninguém. Pouco antes da separação, Percy e Oswaldo haviam começado a trabalhar uma música juntos que ficou inacabada. E os dois tiveram a ideia de terminar a faixa inacabada para o projeto que estavam desenvolvendo. Daí, a semelhança e a aparição de algumas frases em comum. O primeiro lado encerra-se com um divertido medley intitulado Jovem Guarda, onde eles lembram um pouquinho do popular movimento musical que dominou as paradas de sucesso na década de 60.

Percy com o Made In Brazil
Antes de comentarmos o lado B, cabe mais uma explicação. Além de Babalu, Horácio e Percy, fazia parte da trupe o baixista Tigueis. Muita gente confunde achando que se trata de Luiz Domingues, também conhecido como Luiz Tigueis, dono das 4 cordas da Chave do Sol. Na verdade, trata-se de outro rapaz. Esse aqui, atende pelo nome de Antonio Carlos Lopes e é conhecido por seu trabalho de luthier e seu registro ao lado do grupo Cão Fila. Sim, existem 2 baixistas chamados Tigueis no Brasil.
O lado B começa com “Mercado Modelo”, outro rock n roll bem pra cima. Na minha opinião, um dos grandes momentos do disco. Assim como a bela balada “Boa Garota” que vem logo na sequencia. Segundo indica, essa era a faixa favorita do falecido cantor. “Regue Fajuto” conta com uma boa levada de baixo. “Fique Frio” resgata bem a sonoridade do Made (quem gosta da banda, tem de tudo para curtir esse som), mas é em “Triste Cidade” que o LP volta a pegar fogo. Eles terminaram o disco do mesmo jeito que começaram. Ou seja, mais uma canção calcada no velho blues.
A sonoridade do álbum é tão crua quanto a sonoridade da banda. Nada de mega-produções, efeitos, nada do tipo. Apenas 4 garotos fazendo um som honesto com bastante garra. Há a participação de alguns amigos músicos fazendo percussão, gaita, flauta, mas nada além disso. Infelizmente, esse disco não é muito fácil de se conseguir, mas quando encontrar um por aí, se você for um amante do rock setentista produzido no Brasil, não deixe de pegar. (Embora já tenha sido lançado na década seguinte, a pegada é exatamente esta). Eu consegui meu exemplar…
Lado A:
  • Bicicleta
  • Serra Pelada
  • Ave Noturna (Rock n Roll)
  • Jovem Guarda: Gênio / O Pica Pau / Parei Na Contra Mão / Rua Augusta / O Bom / Splish Splash ) / Você Me Acende
Lado B:
  • Mercado Modelo
  • Boa Garota
  • Regue Fajuto
  • Fique Frio
  • Triste Cidade

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