sábado, 29 de novembro de 2014

Korzus – Legion (2014):





Por Davi Pascale

Ícones do thrash metal brasileiro lançam seu sétimo disco de inéditas. Gravado no estúdio da banda e produzido pelos próprios músicos, o grupo segue à risca a fórmula que seguem à tantos anos e entregam um dos melhores álbuns nacionais do ano.

Sempre que se comenta sobre thrash brasileiro, a primeira coisa que vem à mente é o Sepultura em sua fase Max Cavalera. Beneath the Remains, Arise e Chaos A.D. atualmente são considerados clássicos do metal nacional. Entretanto, essa mesma cena entregou outros nomes de altíssima qualidade que são super manjados por quem a frequenta, mas constantemente esquecidos pela grande mídia. Entre essas, poderia citar, sem medo de errar, o Dorsal Atlantica e o Korzus.

O começo do Korzus foi exatamente como o começo de qualquer banda de metal brasileira dos anos 80. Cheio de garra, ideologia, contavam com um público fiel. Investimento zero (no sentido de empresários e gravadoras). Tudo era suado. Os caras ralavam para manter o projeto em pé e para conseguir colocar um LP no mercado. Os discos, quase sempre, eram mal gravados. Não era raro uma banda gravar tocando ao vivo como se fosse um ensaio. O primeiro trabalho do Korzus, inclusive, era um EP ao vivo com o áudio extraído de uma gravação em fita k7. Conforme iam crescendo, iam se profissionalizando.

Em 2014, com uma carreira de mais de 30 anos de estrada, essa fase mais amadora já ficou para trás há um bom tempo. A banda amadureceu em todos os aspectos. Nos arranjos, nas letras, no trabalho vocal e, é claro, na sonoridade do álbum. Já faz um tempo que o guitarrista Heros Trench e o vocalista Marcello Pompeu tem atuado nessa área de produção de discos. Recentemente, se destacaram pelo trabalho realizado com o trio Nervosa (já resenhado nesse blog) e são eles quem estão por trás desse CD. Pompeu atacando como engenheiro de som e Trench atuando como produtor. O resultado não poderia ser mais positivo. Pesado e bem definido. É possível distinguir com clareza o que cada músico está tocando e compreender cada palavra que Pompeu canta.

Grupo entrega álbum thrash old school com canções inspiradas

O grupo não inventa moda. Segue fazendo aquilo que sabe de melhor. Thrash old-school. A dupla Heros Trench e Antonio Araujo entregam riffs poderosos. Rodrigo Oliveira é um verdadeiro monstro na bateria. Sempre gostei do estilo de Marcello Pompeu cantar. Lembro que o primeiro contato que tive com o grupo foi em sua apresentação no festival Monsters of Rock 1996 e um dos fatores que me chamou a atenção foi o trabalho vocal. Agressivo, mas sem ficar urrando. Sem dúvidas, um belo diferencial em relação à tantos outros grupos que têm por aí (muitos, talentosos até). O baixo continua a cargo do lendário Dick Siebert.

A influência de Slayer continua a todo vapor. Para quem acha que é perseguição por conta da interpretação de “Evil Has No Boundaries” no EP ao vivo, recomendo escutar com atenção faixas como “Lamb”, “Die Alone” e “Purgatory”. Tente escutar essas faixas e não se lembrar do grupo de Tom Araya. Legion traz composições inspiradas alternando arranjos agressivos com cadenciados em um trabalho empolgante. Os grandes destaques ficam por conta de “Die Alone”, “Bleeding Pride” e a faixa-título. Vale destacar também a participação especial de Edu Ardanuy (Dr. Sin) em “Time Has Come”.

O quinteto iniciou sua carreira cantando em português. Os velhos tempos são revividos em “Vampiro”. Sonho Maníaco é cultuado entre os fãs, mas o grupo não guarda boas recordações. Pouco após o lançamento, o baterista Zema cometeu suicídio. Um choque e tanto para os rapazes. O LP de estreia continha letras satânicas e isso mexeu com a cabeça dos integrantes. Desde então, pararam de escrever sobre o assunto. “Six Seconds” é uma música feita para levantar a plateia. “Bleeding Pride” reflete os conflitos da Síria, mas muitas músicas refletem sobre nosso país. “Broken” é meio que uma crítica ao governo e o modo como funciona. O tema ‘morte’ continua presente, mas de forma menos fantasiosa. Não se fala sobre diabo e, sim sobre guerras. 

Korzus pode demorar a lançar um novo trabalho, mas quando lança faz valer a pena. Mais uma vez, o alto nível foi mantido. Quem é fã, pode comprar sem medo. Quem não conhece, favor correr atrás.

Nota: 9,0 / 10,0
Status: Empolgante

Faixas:
      01)   Lifeline
      02)   Lamb
      03)   Six Seconds
      04)   Broken
      05)   Vampiro
      06)   Die Alone
      07)   Apparatus Belli
      08)   Time Has Come
      09)   Purgatory
      10)   Self Hate
      11)   Bleeding Pride
      12)   Devil´s Head
      13)   Legion