Por Davi Pascale
Esse disco foi a virada para os
rapazes do Barão Vermelho. E foi também quando eu descobri a banda. Depois de atingirem
fama com o hit “Bete Balanço” na época de seu terceiro LP, Maior Abandonado, o cantor Cazuza abandonou o barco. Os trabalhos
seguintes – Declare Guerra e Rock n Geral – não conseguiram grande destaque
na mídia e os shows estavam cada vez mais escassos. Algo precisava ser feito. E
foi!
Cazuza não era o único que tinha
deixado o conjunto. Para dizer a verdade, os rapazes haviam se tornado um trio.
Restavam apenas Roberto Frejat (guitarra e voz), Dé (baixo) e Guto Goffi
(bateria). O conceito do disco nasceu da cabeça do baterista. Guto mostrou ao
Frejat o que tinha em mente. Um poema, em especial, chamou a atenção: “Nosso
carnaval será eternamente diário, Nossos sonhos e fantasias se tornarão, a cada
dia, mais essenciais e mais reais”. O cantor captou e abraçou a ideia, e o
projeto se concretizou. Essas frases foram tão marcantes, inclusive, que
acabaram sendo impressas na contracapa do disco.
Engana-se, quem acredita que
Frejat e Cazuza tornaram-se inimigos por conta da saída do rapaz no auge do
sucesso. Tanto eles ainda eram amigos, como o menino Agenor fez uma nova
parceria com o musico para esse trabalho em especial, “Rock da Descerebração”. Entre
as outras contribuições, estavam os titãs
Arnaldo Antunes e Paulo Miklos, além do lider do Engenheiros do Hawaii,
Humberto Gessinger.
Não se assustem com o titulo do
vinil. Embora a festa de Carnaval seja muito popular em nosso país e os ritmos
predominantes do evento sejam samba e axé, o Carnaval apresentado pelo Barão é bem rock n roll. O grupo
continuava apostando em sua sonoridade que cruzava elementos do hard rock com o
blues. As guitarras até ganharam uma distorçãozinha extra, se compararmos com
os álbuns anteriores. Aproximava-se mais da sonoridade que tinham no palco, que
logo em seguida seria devidamente retratada em um excelente disco ao vivo
gravado no extinto Dama Xoc.
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Musica em trilha de novela colocou o Barão de volta no mapa. |
O grande sucesso desse disco foi “Pense
e Dance”. O primeiro hit da Era Frejat.
A faixa que foi tema da novela Vale Tudo (Rede Globo), nasceu a partir de um
riff criado por Dé. A canção que era para ter sido uma parceria entre o músico
e Roberto Frejat, acabou recebendo algumas mudanças sugeridas por Guto Goffi.
Principalmente nas letras. Foi dele a idéia de tirar a negatividade dos versos “Não
penso como vai minha vida. Não alimento nenhum desejo”. Quem se lembra dessa
musica, irá reparar que no estúdio foi registrado justamente o contrário: “Penso,
como vai minha vida. Alimento, todos os desejos”. Foi dele também a ideia de
inserir a frase-manifesto do Lobão “saudações a quem tem coragem”. O que surgiu
de maneira inocente, tornou-se uma grande polêmica.
Os músicos haviam decidido colocar
a citação até como uma homenagem ao cantor Lobão, artista que eles admiravam. O
músico, entretanto, não entendeu como homenagem. Pelo contrario, o rapaz ficou
puto e começou a acusá-los de plágio. Para sorte dos garotos do Barão, que
estavam rezando para ganharem algum dinheiro novamente, o compositor resolveu
deixar a birra de lado em nome da velha amizade e não seguiu adiante com os
protestos.
Gravado em 45 dias no estúdio Nas Nuvens (Rio
de Janeiro), o disco é um marco na história do Barão e, na minha opinião, um
dos melhores álbuns de rock já produzidos em nosso país. Além de ser extremamente
bem gravado, o disco chama atenção pela inteligência das letras e pelos ótimos
arranjos. Perdi as contas de quantas vezes, em minha vida, escutei as faixas “Não
Me Acabo”, “Lente”, “Quem Me Escuta”, além do grande hit, é claro, “Pense e
Dance”. Quem não conhece, por favor, corra atrás. Diversão garantida.
Faixas:
01) Lente
02) Pense
e Dance
03) Não
Me Acabo
04) O
Que Voce Faz A Noite
05) Nunca
Existiu Pecado
06) Como
Um Furacão
07) Quem
Me Escuta
08) Selvagem
09) Carnaval
10) Rock
da Descerebração