quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

O Rock Brasileiro de 1993

Por Davi Pascale

Recentemente, nosso colega Rafael fez uma lista com os álbuns que considera os 5 melhores de 2013. Pensei em fazer uma lista também, mas já havia feito uma com 10 discos para outro blog e, honestamente, pouquíssimos álbuns de 2013 me chamaram a atenção. Então seria muito difícil fazer uma lista diferente. Para não ser repetitivo, fiz diferente. Resolvi escolher 5 álbuns de rock brasileiro que completaram 20 anos em 2013 e que acho que a molecada deveria correr atrás. Daqui, apenas um álbum eu já tinha feito uma matéria grande sobre ele. E também não foi para esse blog, então... Não são necessariamente os 5 melhores daquele ano, simplesmente 5 discos que considero muito bons e acho que vale a pena vocês conhecerem. Simples assim. Confere aí!


Dr. Sin – Dr. Sin



Conheci o trio totalmente por acaso, em 1994. Ao comentar com um amigo que gostava do LP Rosa Branca da Banda Taffo, o cara disparou: “E o que você achou do Dr. Sin?”. Respondi “Quem?”. Ele disse “Dr. Sin. A banda nova do Ivan e do Andria”. Respondi que não conhecia e ele me emprestou um VHS com a apresentação deles no Hollywood Rock 93 e me pediu para reparar no guitarrista. Não sosseguei enquanto não conseguir comprar o disco.

O som que os caras faziam estava muito acima dos padrões brasileiros. Tanto em relação à técnica quanto em relação à composição. No debut, apostavam em um som com bastante influencia de hard rock oitentista. Era um som elaborado para o que se fazia no Brasil na época, mas bem mais simples do que fazem atualmente. O álbum beira a perfeição e ainda é o meu favorito do trio. As canções de destaque ficam por conta de “Stone Cold Dead”, “Howlin´ In The Shadows”, “Valley Of Dreams”, além dos hits “Scream & Shout” e “Emotional Catastrophe”.


Titãs – Titanomaquia



Nesse mesmo ano, foi lançado o primeiro álbum dos Titãs sem o Arnaldo Antunes. Com produção de Jack Endino, o álbum trazia uma sonoridade mais crua, mais agressiva. Já era fã dos Titãs, mas a sonoridade que conseguiram nessa época me impressionou. Sem contar que a banda tinha uma puta atitude no palco. Pena que com o tempo, ambas características se perderam.

Atualmente, os caras entram no palco de roupa social, tocam alegremente e fazem canções pop, sem ter medo de ser feliz. Nessa época, entravam com visual desleixado, se moviam sem parar e as letras eram incômodas. Sem dúvidas, uma das bandas mais criativas do rock nacional. Fizeram alguns dos melhores discos do gênero (Cabeça Dinossauro e Jesus Não Tem Dentes No País Dos Banguelas ainda impressionam). Torço para que voltem a ter a criatividade de antes, mesmo que com outra sonoridade, e deixem esse proposta quadradinha de lado.


Angra – Angel´s Cry



Foi em 1993 também que o Angra lançou seu debut. O vocalista Andre Matos já era conhecido entre os headbangers pelos trabalhos que havia realizado ao lado do Viper. Depois de abandonar o grupo de Pit Passarel para se dedicar à faculdade de música (Andre tem formação em regência), retornou à ativa com o Angra. Assim como o Dr. Sin, os músicos passaram a chamar a atenção pelo domínio que possuíam nos instrumentos. E, assim como o grupo dos irmãos Busic, nos entregou um álbum perfeito (algo que se repetiria no trabalho seguinte, Holy Land).

Era comum, naquela época, as comparações entre os excelentes guitarristas Kiko Loureiro e Edu Ardanuy. O pessoal adorava ficar discutindo sobre quem era o melhor. A realidade é que os dois são fantásticos, mas possuem estilos diferentes. Assim como os grupos também apostavam em sonoridades diferentes. A estréia do Angra trazia bastante influencia do power metal, estilo que estava em evidencia na ocasião. Andre chamava atenção pelo seu alcance vocal e por seu domínio em falsete. Os destaques ficam por conta de “Streets of Tomorrow”, do hit “Time”, além da faixa-título “Angel´s Cry”.


RPM – Paulo Ricardo & RPM


Talvez muitos de vocês achem estranha essa escolha no meio de tantos álbuns pesados, mas não é. Explico! Em 1991, Roberto Medina propôs que o RPM se reunisse para uma apresentação no festival Rock In Rio II, realizada no estádio do Maracanã. Quando ocorreu a primeira edição do festival em 1985, o grupo de Paulo Ricardo estava no auge e ninguém entendeu a ausência do conjunto. A apresentação foi realizada como uma atração solo do vocalista por questões contratuais. O nome RPM pertencia ao tecladista Luiz Schiavon, que não topou se reunir para o show e nem permitiu o uso do nome. Mesmo assim, o show foi bem falado, o que levou o vocalista a querer reestruturar a banda. Dois anos depois, uma nova formação surgia. Sem a presença de Schiavon (que mais uma vez não quis retornar ao conjunto) e sem a presença do baterista P.A. (que preferiu se afastar para evitar inimizades). Depois de muita insistência, o músico cedeu a utilização do nome com a condição de ter uma outra palavra na frente. Daí o motivo de se chamar Paulo Ricardo & RPM.

Esse disco é bem diferente de tudo que você possa querer associar ao RPM e ao Paulo Ricardo. Com teclados encorpados, guitarras cheias de distorção, bateria pesada, o trabalho assustou muito de seus velhos fãs. Enquanto em seu LP de estréia traziam influencia da new wave e do rock progressivo, aqui flertaram sua sonoridade pop como o hard rock e um pouco de grunge. A única característica em comum com seus trabalhos antigos são as letras. Oras com criticas políticas e oras românticas. Eu, particularmente, gosto bastante tanto do trabalho do Paulo Ricardo quanto do RPM. Mas mesmo se você não for fã do rapaz, tente dar uma chance à esse disco. Como disse anteriormente, é bem distinto do resto de sua discografia. Destaques para “Gênese”, “Hora do Brasil”, “Veneno”, “O Fim” e o hit “Pérola”. Há alguns momentos pops que também são interessantes como as faixas “Do Outro Lado” e “Ninfa”. Belo Álbum!


Sepultura – Chaos A.D.



1993 parece ter sido o ano do heavy metal no Brasil. Além das fantásticas estréias do Dr. Sin e do Angra, foi nesse ano que foi lançado o disco que considero o melhor trabalho do Sepultura. Certamente, um marco na historia do grupo e do metal brasileiro. Depois de lançarem os fantásticos Beneath the Remains e Arise, os caras lançaram esse trabalho explosivo. Foram além! Mantiveram a agressividade dos trabalhos anteriores e começaram a apostar em uma sonoridade mais experimental, mais cadenciada. Além de trazer suas primeiras experiências com sonoridades regionais, que seria aprofundado no álbum seguinte.

Muitos consideram Roots a obra-prima do quarteto de Belo Horizonte, mas sempre preferi esse álbum. Faixas como “Slave New World” e “Territory” me impressionaram na primeira vez em que as escutei e continuam me impressionando 20 anos depois. Continuo acompanhando o trabalho dos caras, gosto muito do vocal do Derrick (acho que ele canta melhor do que o Max Cavalera, inclusive) e gosto do trabalho atual, mas ainda estou esperando um trabalho nesse padrão. Tudo bem, fizeram discos fantásticos como Roorback (o meu preferido da fase Derrick) e o Kairos, mas nesse nível nunca mais...