sábado, 31 de maio de 2014

Metallica: Through The Never (2013)

 
Por Davi Pascale
Não há dúvidas de que a turnê de Death Magnetic rendeu bons frutos para o grupo. Depois de lançarem o box Orgulho, Paixão e Gloria: Três Noites Na Cidade do México, os DVD´s Quebec Magnetic, Francais Por Une Nuit e o projeto Big Four (apresentação ao lado do Anthrax, Megadeth e Slayer), os músicos demonstram que suas ideias ainda não haviam se esgotado. Embora o repertório traga poucas novidades, o elemento visual acaba tornando o projeto em algo totalmente diferenciado e criativo. Mesclando cenas de ação com imagens de show com megaprodução, saem do senso comum e entregam à seus fãs um filme empolgante. Ítem obrigatório!
O Metallica é aquela banda que todo mundo adora falar mal em rodas de amigos, grupos de Facebook, mas quando chega em casa, coloca o disco deles no talo e esquece do sentimento ‘rebelde sem causa’. E, claro, quando se apresentam no Brasil, depois de xingarem nos fóruns, todos vão lá prestigiar, aplaudir, bangear e saem do estádio falando ‘puta show’. Prova de que a qualidade deles é incontestável.
Durante os extras, em vários momentos, os músicos comentam que sempre correram riscos, que sempre fizeram o que estavam a fim. Embora muitos artistas gostem de bater a afirmação no peito, poucos são tão honestos quanto o grupo. Realmente, se arriscam bastante em seus trabalhos de estúdio. Comecei a acompanhar a banda ainda criança quando estavam lançando o LP And Justice For All... Naquela época, acredite se quiser, já existia quem taxava a banda de vendida. A razão, na época, era o fato de terem realizado um clipe para One. Depois foram perseguidos novamente com o Black Album e sua aparição constante na MTV. Depois por terem cortado os cabelos em Load. Depois por terem se posicionado contra o Napster. Bom, nessa última até que dá para entender a indignação, vai... Entretanto, mesmo com a avalanche de críticas, nunca abaixaram a cabeça e sempre entregaram algo diferenciado. Muitos consideram isso um crime. Eu, não! É verdade que existem bandas que sempre foram fiel ao seu estilo e sempre foram empolgantes – como Motorhead e AC/DC, por exemplo – mas esses caras que saem constantemente da zona de conforto são intrigantes. Não vejo problemas em uma banda buscar novas influencias nos seus trabalhos. Mesmo! Nos dois universos existem artistas bacanas.
 
Banda traz megaprodução ao palco
 
Through The Never, nome extraído de uma faixa do Black Album, foi exibido nos cinemas em formato 3-D. Gravado em alta resolução e com diversas cenas de impacto, a experiência deve ter sido inesquecível. Se já foi empolgante assistir em meu home-theater sem a presença do formato 3-D, imagina isso na tela de um cinema com o recurso. Os músicos declaram que não queriam que os espectadores ficassem com a sensação de estarem assistindo à um filme, mas sim de estarem participando de um filme.
Intercalado com a performance, tem uma película de ação que conta a história de Trip (interpretado por Dane DeHann, o Duende Verde de O Espetacular Homem-Aranha 2), um fã da banda que trabalha nos bastidores e que, mais uma vez, é impedido de assistir ao show por ter um trabalho à fazer. O que seria um trabalho simples, torna-se uma grande aventura envolvendo acidente de carro, perseguições... Não vou falar tudo para não estragar a surpresa. Só vou falar uma coisa. Preparam-se para loucuras.
Muitos criticam o Lars Ulrich e alguns chegam ao ponto de dizerem que gostariam de ver outro baterista no Metallica. De boa, é bom passarem a gostar dele porque se esse cara abandonar o barco, o grupo termina. Fora o fato de ser um musico criativo e ter um estilo diferenciado (o que ajuda com que o grupo não soe igual à outras milhares de bandas), Lars está por trás de todas as decisões. Fica claro isso ao assistir os bônus desse vídeo. É o que mais fala nas coletivas, é o que mais interfere nas decisões. Sem um cara desses, difícil atingirem o status que atingiram. Sem dúvidas, James Hetfield é um cara indispensável, mas Ulrich também é.
 
Cena de Dane DeHaan em Through The Never

É importante saber não apenas quais decisões tomar, mas também quando toma-las. Aqui, o baterista comenta que já tinha recebido um convite para fazer esse projeto em 1997, mas que achava que a tecnologia não havia desenvolvido o suficiente. Segundo o mesmo, era muito caro e muito difícil fazer. Também é o que melhor explica a ideia das imagens intercaladas. O musico explicou que queriam uma certa dramaticidade, assim como ocorreu em Some Kind of a Monster. Diz que não queria fazer mais um DVD ao vivo e sim, um 'filme de concerto', assim como ocorre em The Song Remais The Same (Led Zeppelin) e Let There Be Rock (AC/DC). Só que eles quiseram fugir do óbvio. Sair daquela ideia de mostrar os músicos chegando em limousines, se preparando no backstage, chegando em aeroporto, etc. Deu certo! E ficou bem legal... 
No palco, dessa vez, não temos somente os fogos na já citada “One”. A estrutura, que traz o público todo em volta, traz várias menções à carreira do Metallica. A estátua de And Justice, os caixões de Death Magnetic, a cadeira elétrica de Ride The Lightning, está tudo ali. Nunca tinha visto esses caras investirem tanto assim em produção. Simplesmente mágico! Durante 90 minutos, os ícones da bay area entregam uma performance extremamente bem produzida e cheia de garra. Um dos melhores lançamentos em vídeo dos últimos anos.
Nota: 10/10
Status: Imperdível
 
Faixas:
01) Introduction
02) The Ecstasy of Gold
03) Creeping Death
04) For Whom The Bell Tolls
05) Fuel
06) Ride The Lightning
07) One
08) The Memory Remains
09) Wherever I May Roam
10) Cyanide
11) ... And Justice For All
12) Master of Puppets
13) Battery
14) Nothing Else Matters
15) Enter Sandman
16) Hit The Lights
17) Orion
 
Extras:
* Master of Puppets Video
* Trailer
* Thorugh The Never Featurette
* Entrevista de Bastidores com o Time de Som e Música
* Documentário Hit The Lights: making of de Through The Never
* Entrevistas com Metallica e diretor Nimrod Antal
* Destaques da Tenda de Cinema do Orion Festival com Lars Ulrich

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Tuomas Holopainen – The Life and Times of Scrooge (2014)

Por Rafael Menegueti

Tuomas Holopainen - The Life and Times of Scrooge
Olhe bem para a capa e o nome do primeiro album solo de Tuomas Holopainen, lider do Nightwish. Você deve estar pensando: “Ué, Tio Patinhas?” E eu digo: Sim, ele mesmo. Tuomas Holopainen fez um álbum inspirado no Tio Patinhas. Mais especificamente na obra “A saga do Tio Patinhas”, de Don Rosa. Isso porque Tuomas é um aficionado pelo universo Disney e seus personagens. Alias, o próprio Don Rosa foi o responsável pela ilustração de capa do disco, que só não teve o nome completo do personagem retratado para evitar possíveis complicações pelo direito de uso do personagem.

A historinha que inspirou o disco
E nem preciso dizer que esse disco não tem nada de metal nele. Trata-se de uma aventura sonora, uma épica trilha sinfônica feita com influencias clássicas das composições de Tuomas. O estilo e as melodias inspiradas em historinhas infantis deixam o disco bem leve e agradável. A maioria das faixas é instrumental, mas nas faixas com vocais, Tuomas não deixou de chamar bons cantores.

Johanna Kurkela, Johanna Livanainen, alem de Alan Reid, que interpreta o próprio Tio Patinhas fazem as vozes do disco. Boa parte delas em simples coros, e letras inspiradas na historia do personagem. A participação mais especial presente no álbum fica por conta de Tony Kakko, do Sonata Arctica, que canta na faixa “Cold Heart of the Klondike”.

Tuomas soube bem trabalhar essas inspirações para criar um disco simples e ao mesmo tempo que mostrasse um compositor criativo e cheio de idéias que vão alem do que o rock atual presa. Nem por não ser um disco de rock, esse trabalho deve ser desprezado pelos fãs do Nightwish ou de rock em si. As composições são típicas da mente de Tuomas. E o rock até aparece, principalmente no single “A Life Time of Adventures”, que tem uma levada interessante e um solo de guitarra bem suave ao longo da canção.

Tuomas Holopainen: líder do Nightwish está lançando seu primeiro CD solo 

“Life and Times of Scrooge” é o típico disco experimental e criativo que um artista lança buscando mostrar toda a sua variedade como compositor. E Tuomas soube fazer isso com estilo. Alem de ser um trabalho curioso, é também divertido e promete agradar qualquer pessoa que goste de musica para curtir e relaxar, e que se identifique com o tipo de composição sinfônica de Tuomas.

Nota:8/10
Status: Aventureiro

Faixas:
01. Glasgow 1877
02. Into The West
03. Duel & Cloudscapes
04. Dreamtime
05. Cold Heart Of The Klondike
06. The Last Sled
07. Goodbye, Papa
08. To Be Rich
09. A Lifetime Of Adventure
10. Go Slowly Now, Sands Of Time

Bonus track:


11. A Lifetime Of Adventure (Alternate Version)

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Sonata Arctica – Pariah’s Child (2014)

Por Rafael Menegueti

Sonata Arctica - Pariah's Child
Os finlandeses do Sonata Arctica são experts na arte de fazer heavy metal capaz de esquentar até a mais gélida região da Europa. Seu power metal com influencias folk e temas variados, com letras bem escritas, é um dos exemplos do porque a Finlândia pode ser considerada a terra do metal na Europa.

Em “Pariah’s Child” a banda volta a abordar a metáfora e a imagem do lobo, tão usada pela banda em seus trabalhos, mas deixada de lado em “Stones Grow Her Name”. A banda de fato busca uma volta às origens nesse disco, embora seja possível perceber influencias de varias épocas da banda nesse trabalho.

O disco promete agradar os fãs que esperavam essa dita volta às origens. As faixas tem uma levada rápida, pesada, bem característica do power metal. A faixa que abre o disco, e também é o primeiro single, “The Wolves Die Young”, tem um riff muito bom e uma melodia contagiante. “Running Child” seria apenas uma faixa bônus da edição japonesa, mas agradou tanto os músicos que virou a segunda faixa do disco, e é um tributo a Lou Reed. “Cloud Factory” e “Blood” são duas faixas bem pesadas e aceleradas, que se destacam nessas características. A ótima “What Did You Do In the War, Dad?”, alem de “Take One Breath” e “Larger Than Life” podem ser consideradas as mais progressivas do disco. Já em “Half A Marathon Man” a banda usa um estilo mais proximo do classic rock, com uma levada meio hard rock, e pode ser considerada uma das melhores do disco.

Esse é o oitavo disco da banda finlandesa.
Não preciso falar da ótima performance vocal de Tony Kakko, pois isso é sempre certo em qualquer trabalho da banda. O que chama a atenção são os arranjos de órgão, muito usados nas músicas, alem das linhas de baixo do novo baixista Pasi Kauppinen, bem aparentes e destacadas nas faixas. Com todas essas novidades no som da banda, fica difícil dizer qual é a direção que a banda toma em suas composições. A capacidade inventiva da banda nesse álbum esta mais evidente do que nunca. E a banda conseguiu produzir um álbum cheio de inovações e boas inspirações por isso. “Pariah’s Child” é sem duvida um disco que merece ser ouvido.

Nota:9/10
Status: Criativo

Faixas:
01. The Wolves Die Young
02. Running Lights
03. Take One Breath
04. Cloud Factory
05. Blood
06. What Did You Do In The War, Dad?
07. Half A Marathon Man
08. X Marks The Spot
09. Love

10. Larger Than Life

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Nirvana: Live And Loud (2013)

Por Davi Pascale


No final de 1993, o Nirvana realizou um concerto em Seattle (cidade que voltou a ganhar notoriedade na década de 90 com a explosão do grunge). A apresentação seria transmitida pelo canal MTV em todo o mundo com o nome de Live & Loud. Depois de muitos anos sendo pirateado por aí, finalmente chega ao mercado a versão oficial e sem cortes como parte comemorativa dos 20 anos de In Utero.
O trio de Aberdeen causou um puta estardalhaço no início da década de 90 com o Nevermind, disco que marcava a estreia do baterista Dave Grohl (atualmente, cantor e guitarrista do Foo Fighters). Kurt Cobain rapidamente deixou de ser mais um garoto que sonhava com o reconhecimento para tornar-se um rockstar. Chegou em um ponto onde nem ele mesmo sonhava. Seu rosto foi capa de tudo quanto é revista, programas de televisão que haviam negado espaço quando lançaram o Bleach, agora imploravam por sua aparição no programa. Afinal, ter uma participação do Nirvana era sinônimo de audiência. Seus clipes passavam na MTV o dia todo, os músicos viraram os queridinhos da emissora.
Atualmente, a MTV é apenas mais um canal com teor adolescente repleto de seriados e clipes com o pop do momento, sem muita expressão. Nos anos 80 e 90, a história era outra. A emissora era o principal canal de divulgação de música. Muitos afirmam que chegaram a superar as rádios, no que diz respeito à influência dos jovens. Quando o clipe de “Smells Like Teen Spirit” estreou na emissora, houve um grande impacto nos amantes do rock n roll. Afinal, o grupo ia na contramão. Enquanto vários conjuntos apareciam com os cabelos cheios de laque, roupa colada, cantando sobre garotas e imitando o palco do Kiss com fogos, rampas, plataforma para bateria e tudo mais; o Nirvana aparecia com um visual desleixado, vocal gritado, com uma formação básica e trazendo de volta a simplicidade dos espetáculos de rock. Não havia nenhum efeito especial, as performances eram enérgicas, conversavam com o público de igual para igual. No palco; apenas os amplificadores, os instrumentos, os músicos e nada mais.

Grupo atravessava excelente fase
É justamente isso que assistimos em Live And Loud. No Brasil, o Nirvana ficou conhecido como uma banda fraca por conta de sua frustrante apresentação no extinto festival Hollywood Rock em 1993. Embora Dave Grohl surrasse a bateria como se fosse a última apresentação de sua vida, o líder Kurt Cobain decepcionou seus fiéis seguidores subindo ao palco totalmente fora de si, tropeçando sozinho no palco, sem conseguir cantar ou tocar direito. Nesse show de Seattle, estava o oposto. Totalmente centrado em sua performance, de bem com a vida, cantando bem próximo ao disco e executando suas partes na guitarra com segurança. Ninguém imaginaria que alguns meses depois receberíamos a notícia de sua morte na mesma emissora que o alavancou.
Na ocasião, divulgavam In Utero, o sucessor do Nevermind. Embora o álbum de 1991 tenha sido um enorme sucesso e mudado a vida dos músicos da água para o vinho, Kurt não morria de amores pelo disco. Dizia que gostava das composições, que não tinha problemas em interpretá-las ao vivo, mas que não apreciava a mixagem do CD. Segundo o cantor, o som era muito polido. Sua resposta foi o álbum In Utero. Queria trazer o velho Nirvana de volta com um som cru e pesado.
Essa crueza era uma marca de seus shows. As apresentações eram bem honestas. Quando estavam em um bom dia, o show era destruidor. Quando estavam em um mau momento, era desesperador. Não havia samplers, playbacks. Era nu e cru. Os músicos mudavam a afinação dos instrumentos no palco durante o espetáculo enquanto trocavam palavras com a plateia. Um pedido inusitado de seus fãs poderia mudar todo o rumo do show. O fato de conter um musico de apoio nesse período (Pat Smears, atualmente também no Foo Fighters), deixava Kurt um pouco mais seguro e ajudava a dar um pouco mais de peso. Quem teve a oportunidade de conferi-los de perto nesse período viu algo especial. Um dos melhores shows dos rapazes, sem dúvidas.
Apresentação cheia de energia
Interessante que justo na apresentação que estava sendo filmada pela MTV, não deixaram de apresentar “Rape Me”, faixa que haviam sido proibidos de tocarem no MTV Music Awards alguns meses antes, e não apresentaram o megahit “Smells Like Teen Spirit”, faixa que catapultou os músicos ao estrelato. Não dá para dizer contudo que estavam revoltados ou renegando o sucesso, uma vez que faixas como “Lithium”, “Heart-Shaped Box” e “Come As You Are” estavam no setlist. E uma vez que seu maior sucesso tinha aparecido no roteiro de outras apresentações dessa mesma turnê. Durante 75 minutos, os músicos levam uma casa lotada ao delírio em uma apresentação avassaladora, repleta de anarquia. Krist Novaselic bate o contrabaixo no chão com força na introdução de “Endless, Nameless”, Grohl esmurra a bateria, Kurt derruba seus amplificadores e atira sua guitarra ao chão. Exatamente o oposto do MTV Unplugged que havia sido filmado pouco tempo antes. (Embora tenho sido lançado em 94, o acústico foi filmado em Novembro de 1993).

Nos extras há o clipe de “Heart-Shaped Box” em duas edições (a que ficou conhecida mundialmente e a edição do diretor), apresentações em programas de TV na França e na Italia, a passagem de som para o show do especial televisivo e 3 faixas do último show do Nirvana. Duas horas de diversão para fã nenhum botar defeito.

Nota: 10/10
Status: Nostálgico
Faixas:
01)   Radio Friendle Unit Shifter
02)   Drain You
03)   Breed
04)   Serve The Servants
05)   Rape Me
06)   Sliver
07)   Pennyroyal Tea
08)   Scentless Apprentice
09)   All Apologies
10)   Heart-Shaped Box
11)   Blew
12)   The Man Who Sold The World
13)   School
14)   Come As You Are
15)   Lithium
16)   About a Girl
17)   Endless, Nameless
18)   Very Ape (Live & Loud Rehearsals)
19)   Radio Friendly Unit Shifter (Live & Loud Rehearsals)
20)   Pennyroyal Tea (Live & Loud Rehearsals)
21)   Rape Me (Live & Loud Rehearsals)
22)   Heart-Shaped Box (Video clipe. 2 versões: original e director´s cut)
23)   Rape Me (Nulle Part Ailleures, France)
24)   Pennyroyal Tea (Nulle Part Ailleures, France)
25)   Drain You (Nulle Part Ailleures, France)
26)   Serve The Servants (Tunnel,  Italy)
27)   Radio Friendly Unit Shifter (Live In Munich)
28)   My Best Friend´s Girl (Live In Munich)
29)   Drain You (Live In Munich)

terça-feira, 27 de maio de 2014

Rolling Stones – Sweet Summer Sun: Hyde Park Live (2013)

Por Davi Pascale
No ano passado, os Rolling Stones retornaram ao Hyde Park para mais duas apresentações durante a turnê que celebrava os 50 anos de banda. Ao contrário de sua primeira apresentação no local, os músicos esbanjavam alegria e profissionalismo. Esse registro pode ser conferido agora em LP, CD, DVD e Blu-ray.

Em 1969, os Rolling Stones fizeram uma apresentação gratuita no Hyde Park, atraindo mais de 500.000 pessoas ao local. Entre elas, estava o beatle Paul McCartney, inclusive. A apresentação que celebrava a volta dos Stones ao palco depois de um hiato de dois anos, e a estreia do musico Mick Taylor, acabou sendo marcado por um acontecimento trágico. Brian Jones, primeiro guitarrista do conjunto, demitido há algumas semanas, era mais um dos que se juntava à maldição do 27. O garoto morreu afogado na piscina de sua própria residência. Os laudos apontaram ingestão de álcool e drogas, mas há quem sustente que ele teria sido assassinado pelo empreiteiro Frank Thorogood que estava fazendo reformas no local. A tragédia ocorreu no dia 3 de Julho, 2 dias antes da apresentação.

Chocados com a notícia da morte de Brian, os músicos decidiram dedicar o show ao colega. Antes de começarem a tocar, Mick Jagger leu um poema em homenagem ao garoto e soltou várias borboletas no palco, fato que ajudou com que a performance ficasse conhecida como ‘O Show das Borboletas’ aqui no Brasil. Juntou o choque dos músicos, entrada do novo integrante, o fato de estarem bastante tempo longe dos palcos e a falta de tecnologia da época, o resultado não poderia ser diferente. Os Rolling Stones fizeram uma de suas piores apresentações. Guitarras fora de afinação e músicos, por vezes, dessincronizados, marcaram o evento. A plateia, entretanto, parecia não se importar. Talvez estivessem felizes por assistir um grande nome do rock de graça. Talvez estivessem felizes por seu retorno. Talvez estivessem compreensivos com a morte de Brian Jones. Talvez um pouco de cada, por que não?

Músicos estavam a vontade em nova apresentação no Hyde Park
O fato é que em 2013 foi exatamente o oposto. Durante 2 horas, os músicos recordaram clássicos de diferentes fases de sua carreira, onde curtiram cada minuto em cima do palco. Fizeram 2 shows. O primeiro no dia 6 de Julho. E o segundo no dia 13. Ambos, com ingressos vendidos e esgotados. Depois de meio século juntos (tudo bem, teve algumas idas e vindas), seria estranho se o conjunto não estivesse sincronizado. Se por um lado não existe mais aquela espontaneidade toda, de outra o entrosamento é muito maior. A plateia, é claro, mais uma vez foi ao delírio.

Mick Jagger nunca foi um cara de cantar notas altíssimas. Portanto, mesmo aos 70 anos de idade, consegue interpretar todo o repertorio do show, sem deixar a desejar. Aliás, o pique dele é impressionante. Continua fazendo os mesmos movimentos, as mesas dancinhas, as mesmas corridas de palco de quando os assisti em 1995. Charlie Watts sempre com sua batida reta e precisa ajuda a manter a magia. É inegável que seu estilo de tocar é uma das marcas dos Stones. Keith Richards e Ron Wood continuam encantando todos com seu jeito desleixado e único.

O clima de festa não foi a única diferença. Mick Jagger está certo quando diz no início do filme que não teria como o evento ser igual ao de 69 porque os tempos eram outros. A primeira grande mudança que notamos é justamente na plateia. Se na primeira vez, seus espectadores eram formados praticamente por hippies, dessa é formado por um ambiente quase familiar. Há ainda aqueles mais velhos que tentam manter a ideologia hipponga. Mas também há, entre as 65.000 pessoas, inúmeros jovens com seus cabelos perfeitamente penteados, sua roupa devidamente moldada. Há grupos de amigos. Mãe e filha. Criança, adolescente, adulto. Tudo misturado. No filme Stones In The Park tinha uma cena onde o narrador falava que estava feliz porque até aquele momento não havia ocorrido incidentes, o que ajudava a demonstrar para as pessoas que shows de rock também era um lugar onde as pessoas iam para curtir a música. É nítido de que era uma resposta à imprensa, igrejas e classes conservadoras que consideravam a banda e o gênero uma má influência aos jovens. Isso agora é passado. Ao menos para os Stones, já que de tempos em tempos, o pessoal decide pegar um artista para Cristo.

Mais de 500.000 pessoas compareceram ao show de 1969
E não para por aí. Se no trágico concerto, os Stones tocavam em um palco quase amontoados com o Mick gritando em vários momentos para que pudesse ser ouvido e público invadindo, agora trazem um espetáculo de primeira grandeza. A produção atual conta com palco secundário, rampas, enormes telões, equipamentos de primeira geração, vários músicos de apoio. Sim, Stones também é um megashow.

A parte de segurança também evoluiu. Na primeira vez, a banda havia contratado os motociclistas Hell´s Angels para cuidarem da segurança. Os rapazes simplesmente carregavam cada pessoa que tentava invadir o palco em seus ombros, literalmente. Agora havia uma equipe profissional no local. Mas há um momento de revival no espetáculo. Em “Midnight Rambler” e no hino “(I Can´t Get No) Satisfaction” o mesmo Mick Taylor que fazia sua estreia em 69, junta-se aos rapazes no palco para relembrar os velhos momentos. Sem dúvidas, um marco não apenas na história da banda, como na história do rock. Um vídeo que irá agradar tanto os novos quanto os velhos fãs. Imperdível!

Status: Histórico
Nota: 10/10

Faixas:
01)   Start Me Up
       02)   It´s Only Rock n´ Roll
       03)   Street Fightin´ Man
       04)   Ruby Tuesday
       05)   Doom and Gloom
       06)   Honky Tonk Women
       07)   You Got The Silver
       08)   Happy
       09)   Miss You
       10)   Midnight Rambler
       11)   Gimme Shelter
       12)   Jumpin´ Jack Flash
       13)   Sympathy For The Devil
       14)   Brown Sugar
       15)   You Can´t Alwas Get What You Want
       16)   (I Can´t Get No) Satisfaction
       17)   Emotional Rescue (Extra)
       18)   Paint It Black (Extra)
       19)   Before They Make Me Run (Extra)

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Stream of Passion – A War of Your Own (2014)

Por Rafael Menegueti

Stream of Passion - A War of Your Own
Como dito ontem, chegou a hora de conhecermos mais sobre o novo disco do Stream of Passion, “A War of Your Own”. A banda holandesa trabalhou nesse disco com a ajuda de seus fãs, através de um crowdfunding, que levantou quase o dobro do valor que a banda pretendia. E os fãs foram presenteados por isso com um excelente disco.

“A War of Your Own”segue a mesma linha dos outros trabalhos da banda. Músicas com melodias suaves e peso nas guitarras. Ótimos vocais de Marcela Bovio, que mais uma vez usa a mistura de inglês e espanhol em suas letras. O disco tem uma pegada similar ao que bandas como Evanescence e Delain vem mostrando em seus últimos trabalhos, mas são definitivamente os vocais de Marcela que se diferenciam e se destacam na banda.

“Monster”, faixa que abre o disco, tem um excelente refrão e boas linhas de guitarra. A faixa titulo e a seguinte, “The Curse”, seguem a mesma linha. “Autophobia” já é mais calma, e tem uma melodia bastante agradável. Outra faixa muito boa é “Exile”, que começa com um riff pesado e tem letras em espanhol. “Delírio” e “Earthquake” também são destaques no álbum. O disco encerra com a boa e melodiosa “The Distance Between Us”.

Esse é o quarto álbum de estúdio dos holandeses
Como um todo, o disco é muito bom, apesar de não mostrar nenhuma inovação na sonoridade da banda. Assim como nos discos anteriores, os arranjos são simples e bem feitos, os solos de guitarra são bem elaborados e se destacam junto com os arranjos de piano/teclado e os vocais de Marcela. Como fã dessa banda, eu fiquei bem satisfeito, e espero ansiosamente por uma vinda da banda ao Brasil para vê-los ao vivo.

Nota: 8/10
Status: Excelente

Faixas:
1. Monster

2. A War Of Our Own
3. The Curse
4. Autophobia
5. Burning Star
6. For You
7. Exile
8. Delirio
9. Earthquake
10. Secrets
11. Don't Let Go
12. Out Of The Darkness
13. The Distance Between Us (Digipack Bonus Track)

domingo, 25 de maio de 2014

Discografia Comentada – Stream of Passion

Por Rafael Menegueti

Uma das mais interessantes bandas de metal sinfônico holandesas é o Stream of Passion, da vocalista mexicana Marcela Bovio. O grupo foi fundado por Arjen Lucassen em 2005, mas o guitarrista gravou apenas o primeiro álbum, e um ao vivo, com o grupo. Sua sonoridade é bastante variada, com metal progressivo, sinfônico e influencias latinas presente nas faixas. Conheça mais sobre o trabalho da banda agora.

Os membros do Stream of Passion

Embrace The Storm (2005) 


O primeiro disco foi criado e elaborado de maneira bem diferente do convencional. Como os integrantes não viviam próximos uns aos outros (a vocalista Marcela e o tecladista Alejandro Millan eram do México, e os outros holandeses), as partes foram gravadas em diferentes estúdios, no México, Suécia e Holanda, e enviadas pela internet. O disco tem uma sonoridade bem próxima do principal projeto musical de Arjen Lucassen, o Ayreon. Elementos característicos das músicas da banda já apareciam nesse disco. Entre eles o contraste dos vocais suaves de Marcela com o peso das guitarras, ênfase nos violinos, gravados também pela vocalista, e arranjos de piano. Destacam-se faixas como “Passion”, “Wherever You Are” e “Out In the Real World”. Um ótimo trabalho de estréia, que agradou muito o público.

Live In The Real World feat. Ayreon (CD duplo e DVD) (2006)


Com o sucesso do primeiro álbum, a banda investiu em um lançamento ao vivo. Live In The Real World alem de apresentar faixas do primeiro disco da banda, também conta com canções do Ayreon, o que deu ainda mais valor a esse lançamento. A gravação é muito boa e mostra uma banda extremamente competente ao vivo. A irmã de Marcela, Diana Bovio, aparece como backing vocal. Esse, no entanto, seria também um trabalho de despedida. Arjen Lucassen, a guitarrista Lori Linstruth e o tecladista Alexandro Millan deixariam o grupo em seguida, dando inicio a uma nova fase da banda.

The Flame Within (2009)


A reposição das saídas de Lucassen e dos outros foi feita rapidamente, com três bons músicos: os guitarristas Eric Hazebroek e Stephan Schultz, e o tecladista Jeffrey Revet. Nesse disco, é possível notar algumas mudanças em relação ao anterior. As faixas estão mais pesadas, a ênfase fica nas guitarras e nos arranjos sinfônicos. Diferente do primeiro álbum, que tinha trechos de letras em espanhol, em “The Flame Within” tudo está em inglês, com letras simples sobre relacionamentos e sentimentalismo. Dentre os destaques do álbum estão “In The End”, “Run Away” e “Now or Never”. O baterista Davy Mickers deixaria a banda logo após a gravação do disco.

Darker Days (2011)


Com seu terceiro disco, “Darker Days”, o Stream of Passion buscou trazer uma sonoridade cada vez mais carregada de melodias sentimentais. Apesare disso, é um disco pesado, com momentos mais leves. A banda insere mais elementos e estruturas de música latina, como o acordeão e as letras em espanhol escritas por Marcela Bovio. O disco possui muitas ótimas faixas, como “Lost”, “Reborn”, “Collide” e “The Scarlet Mark”, alem das belas baladas “Spark” e “Nadie Lo Ve”.

“A War Of Your Own” (2014)



O novo e esperado álbum da banda, lançado recentemente. Desse eu falarei mais amanhã.

sábado, 24 de maio de 2014

Deep Purple: Perfect Strangers Live (2013)




Por Davi Pascale


Um dos momentos mais difíceis de um artista é quando ele retoma sua carreira depois de uma longa pausa. Vários questionamentos começam a rondar sua cabeça. “Será que ainda há interesse no que fazemos?”, “Será que conseguiremos causar o mesmo impacto?”, “Será que a nova geração irá se ligar no nosso trabalho?”, “Será que conseguiremos nos reinventar?”. Essas são as perguntas mais frequentes, ainda mais quando você teve um passado glorioso. Em 1984, o Deep Purple soltava nas lojas o LP Perfect Stangers. A prova viva de que é possível sim, olhar para frente e conquistar um novo público, mesmo depois de uma férias de 9 anos, e entregar um grande álbum. No final do ano passado, o grupo britânico soltou pela primeira vez o show desta turnê nos formatos LP, CD e DVD

Nove anos, aliás, levando em conta o registro que até então era o único sem o guitarrista Ritchie Blackmore: Come Taste The Band, gravado com Tommy Bolin. Perfect Strangers marcava não apenas a volta da banda, quanto o retorno da famosa MK II. Se formos contar o último registro com essa formação havia uma diferença de 11 anos entre um trabalho e outro. Hoje, Gillan e Blackmore são inimigos mortais, mas nessa época os dois se davam bem. Ian Gillan solta vários sorrisos para o guitarrista no palco e chega até a brincar com o musico em determinados momentos.

Interessante notar a diferença de mentalidade daquele tempo para os dias atuais. O DVD além de trazer a apresentação na íntegra, traz um curto documentário com imagens de entrevistas da época. Em um determinado momento, a repórter dispara: “Desculpe-me fazer essa pergunta. Sei que pode soar ofensiva. Vocês não acham que estão velhos para isso?”. As imagens focavam os anos de 84 e 85 (ou seja, o período do lançamento do disco). Nessa época, os músicos estavam próximos dos 40 anos de idade. Alguns um pouco mais, outros um pouco menos. Hoje, um musico nesse faixa de idade é considerado jovem ainda.

Registro marca a volta da lendária Mark 2 aos palcos
Outro depoimento interessante é o momento onde os músicos comentam a diferença da geração dos anos 70 para a dos anos 80. Diziam que não se identificavam com o heavy metal que estava sendo feito naquela época e que não entendiam essa mentalidade do cara que ouve heavy metal não poder frequentar shows de outros estilos, que 10 anos antes isso não existia. Sempre com aquela mentalidade da década passada como sendo algo distante. Parece aquele conversa de avós. “No nosso tempo...”. De todo modo, concordo com a critica dos músicos em relação ao publico.  Já em relação ao estilo, não concordo muito, não...

O registro serve para demonstrar também o quão incômodo continuavam sendo. Há imagens de pessoas de igreja dizendo que a música que eles faziam era diabólica e logo em seguida Gillan pedindo, no meio de uma apresentação, para que os policiais fossem embora porque eles estavam criando tumulto onde não havia. No decorrer dos anos, infelizmente, veríamos essa perseguição com mais alguns artistas. Não foram os primeiros, nem os últimos.

É impressionante o poder de fogo que tinham nessa época. Energia realmente incrível. Muitos gostam de dizer que Steve Morse é melhor do que Blackmore, como se musica fosse competição e como se técnica fosse tudo. Mas já que o assunto é inevitável, prefiro 1.000 vezes Ritchie ao exímio músico do Dixie Dregs. Steve pode ser mais técnico, mas considero Blackmore muito mais criativo (que digam os memoráveis e inúmeros riffs criados pelo rapaz durante sua trajetória com o grupo) e me passava mais emoção nas interpretações. Sua performance aqui é espetacular. Pode ser maluco, egocêntrico, o que for, mas fazia a diferença.

Músicos estavam em ótima fase


Ian Gillan também estava em uma fase brilhante. Com a voz em plena forma, o rapaz canta com confiança, solta vários agudos, estava com a voz extremamente forte. Atualmente, tenho lido nos fóruns e grupos de Facebook da vida, garotos dizendo que Gillan não é um bom cantor. Muito provavelmente essas pessoas não ouviram os registros que ele fez nessa época e na década de 70. Sério. O que ele canta naquele vídeo Machine Head Live In Japan não é brincadeira. Quem conhece sua performance apenas na fase Steve Morse, por favor, corra atrás. Voces ainda não ouviram Ian Gillan. Sério mesmo!

Gravado em Melbourne, o set misturava canções do seu até então mais recente álbum com canções clássicas. Todas as marcas registradas estão aqui. A bateria de Ian Paice tocada com alma, o baixo pulsante de Roger Glover, os teclados únicos de Jon Lord, os números solos, os improvisos. Tudo aquilo que o fã espera em uma apresentação do grupo. Os grandes destaques ficam por conta de “Highway Star”, “Perfect Strangers”, “Knocking At Your Back Door”, “Child In Time”, “Space Truckin´” e “Speed King”. O entrosamento entre os músicos era tanto que nem parecia que estavam sem tocar juntos há mais de uma década. 2 horas que passam voando...


Nota: 10/10
Status: Essencial


Faixas:

      01)   Highway Star
      02)   Nobody´s Home
      03)   Strange Kind of Woman
      04)   A Gypsy´s Kiss
      05)   Perfect Strangers
      06)   Under The Gun
      07)   Knocking At Your Back Door
      08)   Lazy
      09)   Child In Time
      10)   Difficult to Cure
      11)   Jon Lord Solo
      12)   Space Truckin´
      13)   Black Night
      14)   Speed King
      15)   Smoke On The Water