sábado, 29 de agosto de 2015

Você odeia uma banda por quê?

Por Rafael Menegueti


Essa semana nós comentamos aqui no blog a atitude dos membros do Foo Fighters, que interromperam um protesto da Igreja Batista de Westboro, famosa por sua intolerância e preconceito extremos, à frente do local onde realizariam seu show em Kansas City de forma bem humorada e inusitada. O ocorrido acabou repercutindo em vários veículos da mídia e muita gente aplaudiu o modo como a banda reagiu à situação. No entanto, uma coisa que me deixou um pouco surpreso foi ver alguns comentários de gente criticando Dave Grohl e a banda pela atitude. Mas como assim?

Desde “eles estavam querendo aparecer” e “Foo Fighters é superestimado” até outros mais grosseiros, os comentários, no meu entendimento, demonstravam mais hipocrisia do que alguma argumentação válida pra desvirtuar a atitude da banda, que considerei digna e no direito deles, já que eles fizeram de maneira tranquila e sem incitar violência. Uma coisa é muito clara: esse tipo de comentário veio daqueles que não curtem o som de Dave Grohl e companhia. Normal, gosto é gosto. Mas daí a achar defeito em tudo que os caras fazem, só porque quer demonstrar isso, ou porque odeiam a banda, é coisa de gente chata. Até porque, tenho certeza, se fosse uma banda de que esses críticos gostassem fazendo isso, provavelmente eles não pensariam do mesmo modo.

O fato é que, no geral, algumas pessoas estão ficando cada vez mais egocêntricas e ignorantes no modo de se expressar. Não falo apenas no que diz respeito à música, mas como o blog é sobre isso, vamos focar nesse aspecto. Na cabeça de uma galera, o que rola é o seguinte: se eu não gosto dessa banda ela é um lixo. E ponto. Dane-se se ela tem historia, se vende milhões, se os músicos são talentosos ou se eles tratam todo mundo bem. O senso crítico dessas pessoas se esquece de separar a parte do gosto pessoal e o que diz respeito à qualidade musical. E há um enorme abismo entre as duas coisas.

Outro exemplo: recentemente resenhei o novo álbum do Ghost aqui. Atualmente, eles são um dos alvos preferidos dos odiadores de plantão. Na ocasião citei o quanto acho que a banda é injustiçada. De fato, o som do Ghost não é nada revolucionário, inovador, mas está longe de ser ruim. A banda faz melodias muito simples, mas a meu ver, bem feitas e sinceras com sua proposta, e nada é mal tocado. O que causa essa rejeição de muitos é a errônea associação que fazem da banda com o metal, algo que não enxergo no som deles. Essa ideia é reforçada pelo visual e temática que a banda apresenta em suas letras, além do fato de terem aparecido em muitos festivais e eventos de metal. Dai a banda acaba caindo na ira dos defensores do “verdadeiro metal”.

Olhem agora o meu caso. Eu não gosto de Rolling Stones. Talvez já tenha dito isso por aqui. É uma banda que me entedia facilmente. Por acaso eu acho eles um lixo? Nunca. A banda é genial e importantíssima para a historia do rock. Sem ela, nada do que ouvimos hoje em dia talvez fosse dessa forma. Mas eu não sou egocêntrico e sei que o fato de eu não curtir o som deles não muda em nada a sua qualidade, por isso eu respeito. O problema não está com eles, está comigo. Sou EU que não tenho paciência pra ouvir Rolling Stones. E isso vale pra muita gente que não gosta de diversas bandas ou estilos. O fato de você não gostar não as torna necessariamente ruins. O que torna uma banda realmente ruim pode ser uma série de outros fatores que vão muito além do “eu não gosto do modo como ele canta”, “essa banda abusa de riffs” ou “a melodia dessa música é muito pop”.

Enquanto muitos pensam assim, caímos sempre na bobeira de criar casos como o das vaias a bandas como o Glória no Rock In Rio, ou o Black Veil Brides no Monsters of Rock, o qual até já debati aqui na época. Situações criadas por conta do egocentrismo daqueles que se julgam os definidores do que realmente merece ser respeitado. Então, convido vocês a fazerem algo que eu venho praticando há algum tempo: abolir o “eu odeio” e o “lixo” (entre outras coisas) do vocabulário. Não há motivo para odiar uma banda. Odiar é algo muito forte, que eu reservo apenas para coisas que realmente causam um grande impacto negativo em minha vida, mas sem me remoer por isso.

Não gostar de algo é normal e aceitável, mas ser o chato que incomoda os outros só por isso não é. Fazer piadinhas e gozações até é aceitável, afinal no humor há espaço pra esse tipo de coisa se você souber levar na esportiva, como deve ser. O problema é quando se leva isso a sério demais e começa a criar brigas. Se alguém gosta de uma banda que não lhe agrada, não é da sua conta. Não é você que paga os discos deles nem os ingressos, então apenas fique de boa, ouça aquilo que você gosta e seja feliz.