quarta-feira, 26 de março de 2014

Humberto Gessinger: Seis Segundos de Atenção (Livro)


 
Por Davi Pascale
 
Humberto Gessinger, eterno líder do Engenheiros do Hawaii, nos entrega mais um livro. Essa já é a quinta vez que o cantor se aventura nesse universo. Para nossa sorte e nosso azar, parece que o rapaz pegou gosto pela coisa. Sorte porque seus livros são sempre interessantes e azar porque desde que começou a se dedicar ao universo literário, sua produção musical caiu bastante. Não de qualidade, mas de quantidade. Em Seis Segundos de Atenção, o gaúcho nos brinda com um livro de crônicas. Mas, afinal, o que são crônicas?
Crônicas são textos narrativos, curtos, com um tempo cronológico determinado, que têm como característica uma linguagem leve, onde o autor discute a partir do seu ponto de vista fatos do cotidiano. Esse posicionamento do autor pode ter doses de humor, críticas e até mesmo ironia.
Gessinger, optou por dividir suas 49 crônicas em 6 partes. Perceba que há uma relação em tudo. Ele concluiu o livro no ano passado quando ainda tinha 49 anos e o livro chama Seis Segundos de Atenção. Ao final de cada parte, o artista nos brinda com algumas letras de sua autoria que estão relacionadas às crônicas que foram abordadas naquela etapa do livro. Grande parte dessas letras, saíram de Insular, álbum lançado em 2013. Aposto que você está pensando: “Ué, mas você não disse que o trabalho de compositor diminuiu?” Sim, mas desde que ele se lançou como escritor em 2008 ele só lançou dois discos de inéditas (sendo que um deles só foi disponibilizado para download).
O baixista faz uma reflexão sobre a ideia de tempo, sobre autoconhecimento, sobre inspiração, sobre a banalização da cultura, sobre a dificuldade de ser compreendido. Para cada tema utiliza citações de grandes pensadores, referências do universo pop e suas próprias experiências para defender seus ideais. Humberto é uma pessoa inteligente e nos brinda com depoimentos interessantes e comentários sensatos.
 
Líder do Engenheiros do Hawaii lança livro de crônicas
 
Há casos que certamente irão fascinar os fãs do Engenheiros do Hawaii. Os comentários do músico sobre a primeira vez que se ouviu nas rádios, a maneira como encara o universo musical, a maneira como encara sua música. Certamente são dados que devem interessar à seus fãs de longa data.
O livro, contudo, não limita-se à essas poucas citações do grupo que o tornou popular. Durante à leitura passamos a conhecer mais o compositor/ letrista enquanto pessoa. Humberto nos conta sobre sua mania de ficar pulando de canais, explica a razão de não gostar de fazer fotos (segundo a narrativa, o que incomoda ele são os ensaios fotográficos e não as fotos que os fãs pedem. Segundo ele, esse tipo de foto, não o incomoda), sobre gostar de praticar tênis. Sem contar que pelas citações e exemplos utilizados, podemos perceber claramente quem são seus ídolos.
Há alguns momentos até engraçados como quando ele comenta sobre os vídeos de surfe e praias que são exibidas no avião como tentativa de acalmar os passageiros. Segundo o relato, durante uma ponte aérea, o vídeo foi interrompido para um comunicado da cabine justo na hora em que aparecia a bunda de uma garota nos monitores. Ou ainda quando conta ter surpreendido em uma loja de CD´s um vendedor e um cliente discutindo sobre quem seria melhor: Andres Segovia ou Eric Clapton.
O livro flui bem, você nem sente o tempo passar. Certamente uma boa pedida, para fãs e não fãs do Engenheiros...