quarta-feira, 9 de abril de 2014

Fresno – Eu Sou a Maré Viva (2014)





Por Davi Pascale


O grupo de Lucas Silveira e Gustavo Mantovani tenta se reerguer depois de várias dificuldades. Nos últimos anos, eles perderam o baixista e compositor Rodrigo Tavares, o baterista Rodrigo Buschel e a gravadora Universal. Desde que saíram da multinacional, os músicos vem apostando na cena independente e em uma proposta menos comercial, mas ainda estão longe de serem os queridinhos do publico e da critica. Seu novo álbum, mantém essa postura e deve agradar quem curtiu os dois trabalhos anteriores: Infinito e Cemitério das Boas Intenções.

Não sei como é a aceitação da critica em Porto Alegre, mas no eixo Rio-São Paulo os garotos ainda precisam lidar com uma série de preconceitos. A verdade é que a cena gaucha é uma das cenas realmente boas do rock brasileiro. Existem vários artistas como Cidadão Quem e Nei Van Soria, por exemplo, que ainda me pergunto por que não conseguiram reconhecimento nacional. Outras, como Cachorro Grande, mereceriam serem muito maiores do que são. E a verdade é que o Fresno amadureceu muito musicalmente nos últimos anos. Gostem ou não da idéia.

Muitos encaram a banda como um grupo pop e não um grupo de rock. Embora seja bem provável que essas pessoas não tenham escutado um trabalho deles do inicio ao fim (uma coisa é o conjunto não tocar rock e outra, bem diferente, é não tocar o tipo de rock que você gosta), não dá para dizer que estão 100% errados. Esse lado comercial sempre esteve presente em seu som (o que não acho algo negativo como gostam de pintar por aí) e algumas atitudes dos músicos podem deixar essa imagem para aqueles que não são tão próximos do seu trabalho como participação no DVD do Roupa Nova, dueto com Chitãozinho & Xororó em programa da MTV (tudo bem, os dois artistas são super profissionais e são donos de uma carreira respeitável, mas não fazem parte de uma cena roqueira, certo?) e um álbum, com uma sonoridade mais limpa, produzido pelo Rick Bonadio. 

 
Grupo segue na cena independente desde 2011

Eu Sou a Maré Viva é, na realidade, um EP de 5 faixas. Tom Vincentini ficou responsável pelas 4 cordas, mas no encarte seu nome consta como ‘participação especial’. O substituto de Rodrigo Tavares também tem participado dos shows. Essa foi uma parte que não entendi direito. Tudo bem,o tecladista Mario Camelo foi efetivado e já estava com eles desde 2010, mas o baterista Thiago Guerra também se juntou ao grupo no ano passado. Por que somente um foi efetivado e não os dois?

Outra atitude que pode dar o que falar é a participação especial de Lenine e Emicida na (razoável) “Manifesto”. Se bem que esse tipo de postura acho idiota. Se o artista funciona naquela faixa (pelo menos na visão do artista) e está disposto a participar do projeto, por que não gravar com o cara? Não faz muito sentido deixar de gravar com alguém que tem algo a acrescentar por conta de um rótulo. 

A faixa-título tem “um q” meio de U2 com um arranjo que é ao mesmo tempo simples e grandioso, onde a bateria mantém a marcação com bumbo, tom e surdo durante toda a música com o som crescendo na cabeça do tempo. O grupo de Bono Vox é mestre nisso. Os grandes destaques, contudo, ficam com os momentos mais rock mesmo: “O Único A Perder”, e principalmente, “À Prova de Balas” (com fortes influências de Muse) e “Icarus”, as duas melhores do disco, na minha opinião.

Os meninos de Porto Alegre talvez não façam um som tão porrada como muitos dizem por aí, mas certamente estão com um trabalho redondo, bem resolvido e com uma sonoridade bem atual. Vale a pena dar uma conferida. Se você é daqueles que não gosta de comprar no escuro e tem um pé atrás com os garotos, procure dar uma conferida no Youtube. As 5 faixas estão disponíveis por lá. Gostei mais dos dois anteriores, mas sem duvidas, é um bom disco.

Nota: 7,5 / 10,0
Status: Bom

Faixas:
01)   À Prova de Balas
      02)   Manifesto
      03)   Eu Sou a Maré Viva
      04)   O Único a Perder
      05)   Icarus